terça-feira, 29 de dezembro de 2009

domingo, 20 de dezembro de 2009

FC Porto x Benfica: uma rivalidade que vai além do futebol

Hoje, 20 de dezembro de 2009, enfrentam-se no Estádio da Luz, em Lisboa, Benfica x FC Porto, em jogo válido pela 14ª rodada da Liga Portuguesa 2009/10. Um ponto separa o terceiro colocado dos últimos 4 campeonatos, Benfica, do atual tetracampeão português, FC Porto.

FC Porto e Benfica, são, sem sombra de dúvidas, os dois maiores rivais do futebol português. Nos dias atuais, FC Porto x Benfica representa o maior clássico lusitano e este confronto traz consigo uma história que vai muito além das quatro linhas.

Devido ao jogo de hoje, volto a publicar aqui um texto sobre este grande clássico e esta enorme rivalidade. Desta vez, ao final, acrescento o histórico de confrontos (em todos as competições e apenas na Liga).


FC Porto x Benfica: uma rivalidade que vai além do futebol



Quando entram em campo para disputar aquele que é hoje o maior clássico português, FC Porto e Benfica levam para o gramado muito mais que uma rivalidade entre dois clubes de futebol. Os dois clubes representam duas cidades e duas macrorregiões: Porto x Lisboa; Norte x Sul. Este clássico representa a eterna rivalidade entre as duas maiores cidades portuguesas e cada uma representa a sua região, o Porto muito mais identificado com o Norte do que Lisboa com o Sul, por razões históricas.

Quem olha para Portugal, sem conhecer bem a sua história, pode pensar que se trata de um país igual, que todos os habitantes são parecidos e que existe uma unidade nacional. Talvez por sua dimensão, Portugal passe essa impressão. Porém, desde os tempos mais antigos, Portugal convive com uma divisão fortemente marcada por suas duas grandes cidades, e, atualmente, é no futebol que esta divisão se aflora mais e se manifesta de forma mais acentuada.

A origem de Portugal está no Norte, o Condado Portucalense. Portucale vem de Porto de Cale, a cidade do Porto. Foi do Condado Portucalense que partiu a reconquista dos territórios do Sul, ocupados pelos Mouros (mulçumanos). Lisboa só viria a ser conquistada em 1147, oito anos depois da formação do Reino de Portugal por D. Afonso Henriques e quatro anos após o reconhecimento da independência de Portugal pelo Rei de Leão e Castela, através do Tratado de Zamora.

Durante a ocupação Moura, a cidade de Lisboa se chamava Al-Ushbuna e a maioria de seus habitantes chegou a adotar a língua árabe e a religião mulçumana da minoria invasora que se constituiu como elite. Até hoje, quando alguém do Norte quer provocar os lisboetas, refere-se a estes como os “mouros”.

A partir do reinado de D. Manuel I, quando Portugal começou a se consolidar como Império, viu-se o fortalecimento centralismo português. O poder central se encontrava na capital Lisboa e um Estado absolutista, evidentemente, limitava a autonomia administrativa dos municípios, por conseguinte, Lisboa gozava de uma posição quase que hierárquica sobre as demais cidades portuguesas. O Porto sempre foi o maior expoente do inconformismo.

Chegando ao Século XX , o marco da rivalidade Porto x Lisboa é o Regime Fascista de Salazar. A política autoritária do fascista Antônio de Oliveira Salazar adotou o centralismo econômico e concentrou em Lisboa não apenas o poder político e econômico como também cultural. Salazar, grosso modo, separou Lisboa do resto do país.

No futebol não foi diferente. O "Sistema Político Fascista e Centralista-Salazarista" foi claramente favorável aos clubes de Lisboa, principalmente o Benfica, que era o mais popular. O Regime Fascista se servia das conquistas dos clubes de Lisboa e, especialmente, do Benfica para enaltecer a sua grandeza e se aproveitar da alienação das massas, usando o futebol como um meio de “entretenimento” e um escape à fome e a miséria a que levou o fascismo.

Não é por acaso que o Benfica é conhecido por “encarnados”. O vermelho sempre esteve associado ao comunismo, que, por sua vez, era antagônico ao fascismo. Logo, o Benfica não podia ser referenciado como os “vermelhos”, jamais! Por isso os benfiquistas são “encarnados”.

O FC Porto era o único clube que conseguia, apesar dos pesares, fazer frente aos de Lisboa. Por essa razão, afirmava o mítico José Maria Pedroto que um título do FC Porto valia por dois ou mais do que o de um clube de Lisboa, uma vez que não se competia em igualdade de circunstâncias.

O FC Porto, portanto, assim como a cidade do Porto, tornou-se o foco de resistência, o símbolo do inconformismo, o baluarte do Norte.

Com o fim do Regime Salarazarista, o retorno à democracia e, mais ainda, com a chegada de Jorge Nuno Pinto da Costa à presidência do FC Porto, o futebol português deu uma guinada ao Norte e, pelo menos no futebol, o Porto passou a concentrar o poder e as conquistas.

Como já foi dito, os portistas fazem questão de frisar a influência mulçumana em Lisboa e até hoje se referem aos benfiquistas como “mouros”, em tom pejorativo. Os benfiquistas, por sua vez, fazem referência à outra passagem da história de Portugal, e chamam pejorativamente os portistas de “tripeiros”.

Contudo, enquanto os benfiquistas se ofendem com a referência aos mouros, os portistas se orgulham do termo “tripeiros”. É que durante o período dos descobrimentos o Infante D. Henrique pediu aos moradores do Porto alimentos de todo tipo, ficando a população unicamente com as tripas.

Para os portistas, como bons portuenses e habitantes do Norte, essa passagem representa mais uma referência de seu nacionalismo e patriotismo, o amor e a entrega a Portugal.

Não à toa, a torcida Super Dragões entoa nos estádios “Tripeiro eu sou /
E tenho o Porto no meu coração...”, além de puxar o grito “Quem bate palmas é tripeiro (palmas), é tripeiro (palmas), é tripeiro (palmas)”.

No que tange às torcidas, essa rivalidade pode ser verificada nos confrontos entre os Super Dragões (FC Porto) e No Name Boys (Benfica).

Em 2008, suspeita-se que integrantes dos No Name Boys incendiaram um ônibus dos Super Dragões, que havia se deslocado a Lisboa para assistirem à decisão do campeonato português de hóquei em patins. Neste mesmo dia ocorreram confrontos violentos entre as duas torcidas, após emboscada dos No Name Boys aos Super Dragões na saída de Lisboa (fala-se que, supostamente, os benfiquistas contaram com a ajuda da polícia, isto é objeto de investigação por parte do Ministério Público português).

Do lado do FC Porto, até certo tempo os Super Dragões tinham um cântico não muito pacífico em referência a Lisboa. Cantavam com orgulho, especialmente nos jogos na capital: “Nós só queremos Lisboa a arder / Lisboa a arder / Lisboa a arder / Nós só queremos Lisboa a arder / Lisboa a arder...”. Já não cantam mais, porém não se pode deixar de fazer menção à tamanha demonstração de amor e apreço pela capital do seu país.

Enfim, a título de conclusão, podemos afirmar que quando Benfica e FC Porto entram em campo para se defrontarem, pisam no gramado não apenas para uma disputa de futebol. Benfica e FC Porto levam consigo a paixão e o ódio de duas cidades e uma rivalidade quase milenar.

O Benfica, clube mais popular de Portugal, vestido de “encarnado”, representa o centralismo português; a concentração de poder na capital Lisboa; o desprezo e a arrogância lisboeta em relação ao resto do país, em especial ao povo do Norte.

O FC Porto, como bem disse o seu presidente recentemente, é "o grande baluarte do Norte, cada vez mais esquecido e amordaçado", representando, portanto, o brio e bravura do Norte, inconformado e historicamente resistente.

FC Porto x Benfica, Benfica x FC Porto, é muito mais do que um simples jogo de futebol.


Histórico de Confrontos

Em todas as competições:

Jogos – 205
Vitórias do FC Porto – 76
Vitórias do Benfica – 76
Empates – 53

Na Liga Portuguesa:

Jogos – 150
Vitórias do FC Porto – 57
Vitórias do Benfica – 52
Empates - 41

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

É este o Brasil que queremos?

Paro num sinal. E o sinal de uma sociedade desigual se faz presente. Eu em meu carro, janelas fechadas, ar-condicionado ligado. Jovens adultos, adolescentes, e crianças no lado de fora, tentando ganhar algum trocado – pedem esmolas, vendem toda a sorte de produtos (flanelas, confeitos, etc.) ou se oferecem para lavarem o para-brisas.

É dura a realidade social brasileira. Um país tão rico quanto desigual e excludente. Uma nação que por razões políticas e econômicas (falta de vontade política; ganância daqueles que detêm o poder econômico) atira para a marginalidade social imensa maioria de sua população.

O sol esquenta o dia. Enquanto uns trabalham e/ou cumprem suas obrigações, outros vão à praia aproveitar as benções da natureza. Contudo, há muitos que batalham sol a pino a fim de terem o mínimo para sobreviverem (e por mínimo de sobrevivência não se entende o mínimo necessário para viverem com dignidade e humanidade).

Até quando conviveremos com estes dois “Brasis”?

Até quando viveremos em um país que se divide e se segrega, separa uma pequena parcela incluída (usufrutuária das benesses sociais) de uma enorme parcela excluída do convívio digno e humanizado dos direitos sociais?

É o país que temos.

Mas é o país que queremos?

O que fazemos para mudar essa realidade?

Ou será que apenas contribuímos para que o fosso se aprofunde cada vez mais?

Qual é o Brasil que queremos para o (nosso) futuro?

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Segunda-feira

Pego minha caneca. Dou mais um gole. Café preto, com bastante açúcar.

Desperto-me para os afazeres do dia. Volto-me para as obrigações cotidianas.

Passo a passo. Vagarosos passos rumo à porta. Arrastados passos de quem se move sem muita empolgação, ou sem a menor vontade.

Hoje é segunda-feira. Há dia pior que a segunda-feira?

O fim de semana ficou para trás (Ah! Que fim de semana prazeroso, ao lado de alguém especial. Pena já ter chegado ao fim). Vejo-me diante de uma semana inteira pela frente. Mais uma sucessão de dias a ser vencida.

Fecho a porta. Deixo às minhas costas o conforto do lar. Espero o elevador. Torço para que esteja vazio (existe situação menos agradável do que dividir um elevador com um “estranho”? Pode haver situação tão desagradável quanto, porém mais desagradável eu duvido!).

Encontro-me na rua. O sol faz questão de mostrar toda a sua força, mesmo a esta hora tão miúda da manhã. Não há escapatória. Estamos em Recife. E Recife é assim no mês de dezembro.

Ultrapassar mais uma semana a esta altura do calendário significa que nos aproximaremos do fim do ano. Mais um ano que se vai. Mais um ano que há de vir.

O dia que passará. As 24 horas a serem transcorridas pelos ponteiros do relógio nos trarão a terça-feira.

A semana, que somente agora se inicia, já traz consigo a marca inevitável de passado; a cicatriz inexorável do tempo.

Mas hoje é apenas segunda-feira. E eu ainda tenho muito que fazer neste primeiro dia de semana (que, embora fadada ao passado, há que ser vivida pelo presente que ainda o é).

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

02 de dezembro de 2009

Olho fixamente o teclado do computador à espera de que as palavras surjam para que eu possa pescá-las e juntá-las em um texto com ou sem sentido, só pelo simples prazer do ato de escrever.

Neste jogo particular, meu com as palavras que surgem e, também, com aquelas que insistem em (me) fugir, sinto-me em desvantagem, pois sozinho não me vejo capaz de poder fazer frente a esta imensidão de palavras e a enorme complexidade de combinações de letras e palavras que formam orações, as quais dão origem a parágrafos, culminando com um texto completo.

Solitário, porém incansável, travo uma luta comigo mesmo, busco determinação e me convenço de que sou capaz de superar todas as adversidades e que não serão letras, nem mesmo palavras, capazes de me abaterem.

Em meio a este jogo (que mais se parece com uma batalha), lembro que já estamos no último mês do ano.

Dezembro, o décimo segundo mês de nosso calendário gregoriano, cujo nome encontra raízes na palavra latina decem (dez, de décimo mês do calendário Romano).

02 de dezembro de 2009. Daqui a pouco o hoje será ontem e o amanhã será hoje e, assim sucessivamente, mais um mês do calendário estará vencido e ultrapassado, este mês de dezembro que ora se apresenta para nós e que em breve acabará, levando consigo o ano de 2009, abrindo as portas para 2010 que ensaia a sua aparição e anseia por sua chegada.

No Hemisfério Norte, dezembro, mais precisamente o 21 de dezembro, marca o Solstício de Inverno, data da noite mais longa do ano, quando o sol parece imóvel e a Terra aparenta se entregar à escuridão. Mas é justamente depois desse dia que o sol parece renascer e a marcar o seu retorno, paulatino, nas vidas dos habitantes do planeta.

Na Roma Antiga as pessoas celebravam as Saturninas; os povos Celtas (dominados pelo Império Romano) tinham uma festa em celebração ao nascimento do sol.

Com o tempo, a Igreja conseguiu sobrepor as celebrações do nascimento do Filho a toda e qualquer celebração que marcasse o nascimento do Sol ou se homenageasse um deus pagão ao invés do Filho de Deus, aquilo que ficou conhecido como Natal.

Independente da sua crença religiosa, ou mesmo de seu total ceticismo ou ateísmo, o mês de dezembro, aquele que marca o fim de um ano e traz consigo o galopar de um ano novo e as esperanças que se renovam para todos, ficou marcado, pelo menos para os Ocidentais, como um mês de celebrações e festas.

E o mês de dezembro é cheio. De festas, regadas a (muitos) comes e bebes. Mas também é tempo para reflexão.

Tempo de se analisar o ano que passou e de planejar o ano que está por vir. Rever as decisões tomadas e os rumos que foram traçados; projetar um ano novo baseado no aprendizado proporcionado pela análise crítica ao que ficou para trás.

Tempo de recordar tudo de bom que aconteceu no ano que se esvai. De guardar na memória os momentos agradáveis e que o acompanharão para sempre, em um espaço reservado no setor de recordações dos nossos cérebros.

O tempo é implacável. O agora em breve se torna o ainda há pouco; o hoje será ontem e o amanhã será hoje. Nessa inexorável trajetória, dezembro que ora se apresenta diante de nós, muito rapidamente, deixar-nos-á e trará no seu seguimento janeiro, mês de Jano (o Deus romano das portas, passagens, inícios), um ano novo, repleto de novas experiências ainda a serem experimentadas e carregando os sonhos e esperanças de todos nós.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Onde eu estou?


Ele acordou com uma estranha sensação. Não sabia onde se encontrava. Não sabia quem era. Não sabia se estava vivo ou morto. Não sabia se alguma vez viveu e se aquilo que sentia era, finalmente, a libertação do vazio que sempre o tomou e o tornou um semivivo (ou semimorto?).

Acordou, olhou ao seu redor e não reconhecera absolutamente nada.

Levantou-se, dirigiu-se à porta do quarto, deparou-se com um longo corredor que parecia não ter fim. Perguntou-se onde poderia estar, como foi ali parar, quem o teria levado àquele (até então) misterioso lugar.

Em todo o corredor, até onde sua vista alcançava, ele não via uma única porta, exceto a do quarto em que se encontrava. Curioso e apreensivo, resolveu clamar por alguém – “Tem alguém aqui? Onde estou?”.

Tem alguém aqui? Onde estou?

Aqui... Estou?

Eco. Foi a resposta que obteve. A sua própria voz a ecoar na imensidão desconhecida daquele corredor (aparentemente) sem fim.

O pobre homem, cuja vida fora marcada pelo sofrimento, por todos os tipos de provação e expiação, encontrava-se isolado, solitário e perdido, completamente perdido. Sem saber onde estava. Sem saber o que o esperava. Sem saber para onde ir.

Da janela do quarto via-se um jardim sem vida. Ou melhor, via-se o espectro daquilo que um dia fora um belo e florido jardim, repleto de vida, cor e fragrância.

O corredor, estreito, de paredes que um dia foram brancas, mas hoje estavam negras de tanta sujidade, levava-o para o desconhecido. Direita ou esquerda? Qual lado seguir?

Lembrou-se, então, das aulas de catecismo e se dirigiu para o lado direito - “está sentado à direita de Deus pai” – foi pela direita que ele avançou, crente de que seguia o caminho para a sua redenção.

Ao dar dois passos, a porta do quarto se fechou. A luz fosca, que timidamente entrava pela janela e iluminava alguns poucos metros do corredor, dissipou-se.

Escuridão.

O pobre homem, calejado por uma vida dura e ingrata (segundo seu próprio entendimento), sentiu um frio na espinha. Um vertiginoso frio na espinha. De efeito amedrontador.

Aflito. Desorientado. Desamparado. O pobre homem, sem entender nada do que estava acontecendo, não sabia o que fazer. Se voltava atrás e tentava reabrir a porta do quarto. Se confiava em sua decisão e seguia (crente da melhor opção) em frente.

Resolveu manter os passos adiante. Afinal, é “pra frente que se anda”, pensou o nosso abandonado amigo.

Quando o seu corpo padecia e suas esperanças se esvaiam, após longa e interminável andada, o maltratado homem vê um fecho de luz.

Fiat Lux. Faça-se a luz. “Aquele que sentir zelo pela lei e permanecer fiel à aliança, venha e siga-me”.

Foi o que pensou o nosso inocente amigo. Renovado de esperanças – “quem espera sempre alcança”.

Seguiu, então, a luz. Fagulha de esperança.

A adrenalina lançada na corrente sanguínea pela esperança renovada o fez esquecer o medo, as dúvidas e, principalmente, o corpo fatigado.

Passos largos a caminho do fecho de luz que à sua frente se apresentava.

Uma porta. Entreaberta.

O homem abre a porta lentamente. A luz faz com que os seus olhos ardam e fique sem enxergar por alguns segundos.

Reabriu as pálpebras e deixou que a luz chegasse às suas retinas, para que pudesse levar toda aquela informação ao cérebro, e, este sim, transformasse toda aquela luminosidade em imagens.

Espanto!

Pavor!

Seu corpo estremecia horrorizado. Um suor frio escorria pelo rosto. Seu coração palpitava a mil quilômetros por hora, aquilo que chamam de taquicardia, e parecia que lhe sairia pela boca.

O pobre homem olha ao seu redor e reconhece o lugar a que chegou.
Pergunta-se por que tamanha expiação, o que fizera nesta vida ou em outra passada para merecer tamanho sofrimento.

O inocente e desamparado homem senta-se na cama. A mesma onde acordara pela manhã. Olha para o desconhecido quarto, que agora já nem é tão desconhecido quanto isso e se pergunta em um lamuriante clamor:

ONDE EU ESTOU?

"O operário de hoje trabalha todos os dias em sua vida, faz as mesmas tarefas. Esse destino não é menos absurdo, mas é trágico quando em apenas nos raros momentos ele se torna consciente" (Albert Camus).

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Manhã de novembro

Céu azul, sem uma nuvem a atrapalhar o seu esplendor. O sol brilha intensamente nesta manhã de novembro.

Trajo uma camiseta regata e uma bermuda beirando os joelhos, caminho pelas ruas de Boa Viagem com o sol como companhia, guiando-me ao acaso, levando-me para o não sei onde.

O suor escorre pelo rosto. O sol que ilumina e guia é o mesmo que (me) aquece (n)esta manhã recifense. E como aquece! Sol fervente... Frevente... Nesta manhã de novembro na terra do Frevo.

Ando a passos lentos, como se estivesse a me poupar para o (desconhecido) que vem adiante. A poupar energias. As minhas energias. A me alimentar da impiedosa energia solar (afinal, para algo ela há de servir, além de me encharcar em suor).

Ao suor que escorre em meu rosto misturam-se lágrimas.

São lágrimas de uma saudosa lembrança que me remete a uma outra manhã ensolarada do undécimo mês de um ano distante. Perdida no tempo. Especialmente guardada na (minha) memória.

O céu está azul e o sol resplandece de forma exuberante. Nem uma nuvem branca a manchar o celeste azul do céu.

Saio de casa trajando quilos de roupas, a proteger meu (frágil) corpo da fria manhã do outono espinhense. É que o sol que ilumina o céu de Espinho, neste mês de novembro, não é suficiente para aquecer o corpo (e a alma) dos habitantes desta pequena e pacata cidade no Norte de Portugal.

Caminho a passos largos. O frio não convida a ficar muito tempo na rua. A caminhada rápida ajuda tanto a chegar mais de pressa ao destino final, quanto a aquecer (um pouco) o corpo.

Manhã de novembro de 1994. Meu primeiro dia de aula. Ansioso. Expectante. Receoso do que está por vir. Curioso a respeito do que o futuro guarda para mim.

Os quilos de roupas que me aquecem o corpo não são suficientes (e nunca seriam, obviamente) para esconder o frio na barriga. Sou um forasteiro. Acabado de chegar. Tudo para mim é novidade. Um novo mundo, em pleno “Velho Mundo”.

Enxugo as lágrimas e o suor do rosto. Abro os olhos. Deparo-me com o Mar. De Boa Viagem? Ou será de Espinho?

Lembranças e momentos que se confundem e se misturam. Realidades passadas (e bem guardadas na memória) e presentes se fundem, tornando-se uma só. Uma só existência. Uma só pessoa: eu.

Somos o passado e o presente que se tornará o amanhã. Somos aquilo que fazemos ou deixamos de fazer. Somos “os pensamentos que pensamos, as ações que cumprimos, as lembranças que conservamos e não deixamos apagar e das quais somos o único guardião”, em suma, “somos aquilo que lembramos” (Noberto Bobbio).

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Saudade


Existe uma palavra que é exclusiva do galaico-português (língua falada na Idade Média em Portugal e na Galiza, e que da qual derivam as línguas portuguesa e galega) e define muito bem o meu sentimento ao pensar em Portugal e recordar todas as lembranças que carrego deste lugar tão marcante e especial para mim.

Saudade.

Só nós sabemos tão bem definir em uma única palavra este sentimento de melancolia causado pela lembrança, a mágoa que se sente pela ausência ou desaparecimento de pessoas, coisas, estados ou ações.

Sentimento e emoção – características marcantes dos povos latinos. É no latim "solitáte" (solidão) que a palavra saudade encontra a sua raiz.

Contudo, havemos de convir, entre a solidão e a saudade existe uma enorme distância separada por uma tênue fronteira.

E a palavra saudade, por sua vez, dá origem a termos como “saudosismo” e “saudosista”.

Sou uma pessoa saudosista por natureza. Meu sangue português deve falar mais alto e, de forma inconsciente, nutro um sentimento saudosista enorme. Guardo com carinho na memória momentos e acontecimentos marcantes e recordo estes fatos com uma forte melancolia, sentindo profundamente a sua ausência.

Tal qual os bravos desbravadores portugueses, que sentiam “saudade” de sua terra quando se encontravam a milhares de quilômetros de distância de casa, longe de seus entes queridos, ou a “saudade” que sentiam estes entes queridos que ficavam em terra (como disse o grande Fernando Pessoa, “Ó mar salgado quanto do teu sal / São lágrimas de Portugal”), eu também tenho muito desse sentimento melancólico pela ausência dos momentos e das experiências que vivi e, em especial, quando diz respeito a Portugal.

Tudo isso para dizer que durante 10 anos eu senti uma enorme saudade desta terra na qual me encontro neste momento. E que durante este (longo?) tempo, mantive, dentro das minhas limitações, o máximo de laços possíveis com tudo aquilo que diz respeito a esse lugar. Talvez, na esperança, de que esses laços diminuíssem a saudade sentida.

Nesse período alimentei o sonho inequívoco de um dia retornar e de poder rever parte daquilo que me marcou e de viver novas experiências, com a ajuda da maturidade e da autonomia ganhas com a idade (é que ficar velho tem que servir para alguma coisa boa em nossas vidas, não é?).

Pisar em solo português. Respirar o ar quente de Al-Ushbuna (Lisboa). Esperar ansiosamente pelo voo que me levaria a Portucale (Porto, Portugal). Vocês não têm noção da emoção e da ansiedade que me tomaram.

Estar no Porto. Andar pela Avenida dos Aliados. Sentir o friozinho das noites de verão portuenses. Voltar à cidade de Espinho, encantadora e pacata cidade; reviver as manhãs cobertas de névoa do verão de Espinho; sentir novamente o vento frio tão característico da beira-mar desta cidade.

Pequenas coisas que trazem à memória momentos únicos e marcantes.

Ahh! como eu esperei por este momento. Como eu sonhei com isto. Como eu desejei poder sentir tudo isto novamente.

Como é bom poder “matar a saudade”.

Voltar a ver um jogo do meu FC Porto. Conhecer, finalmente, o magnífico Estádio do Dragão. Novos acontecimentos para serem guardados e recordados carinhosamente em um futuro não muito distante.

Pois é. Escrevo a 9 dias do meu retorno ao Brasil.

E enquanto eu escrevo e “mato a saudade” de Portugal, eu já sinto saudade de tudo isto que estou a viver e do que ainda está por vir.

É um sentimento estranho. Estou aqui, mas a proximidade da minha partida aperta o meu coração e traz à tona o melancólico sentimento da falta que este lugar me faz e há de me fazer.

Contraditório e estranho. É assim que me sinto.

Estou aqui e procuro aproveitar cada instante, cada passagem, cada detalhe.

Porém, ao mesmo tempo, já antevejo meu retorno. E uma sensação esquisita me toma. Já sinto saudade daquilo que ainda estou a viver e a experimentar.

Ao pensar no retorno, sou tomado por uma melancolia causada pela lembrança de um sonho que se tornou realidade; de um desejo realizado; de uma experiência inesquecível.

Para terminar, gostaria apenas de dizer que estou feliz.

Uma felicidade impossível de ser explicada e expressada através de palavras.

“Tristeza não tem fim, felicidade sim”. Aproveitarei ao máximo este lapso (?) de felicidade. Aproveitarei cada segundo deste sonho que se tornou realidade.

Finalizo com Fernando Pessoa:

“Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.

Qual porém é a verdadeira
E qual errada, ninguém
Nos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar.”

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Minha aventura em Recarei (Festival Caos Emergente)

A abertura dos portões estava programada para as 16h30m e a primeira banda subiria ao palco às 18h. Como eu sabia que o Moonspell era a banda principal, nem me apressei para sair de casa. Fui ao site do CP (Comboios Portugueses) e vi que havia um “comboio” partindo de São Bento às 17h30m e que chegaria a Recarei-Sobreira às 18h (Recarei era o lugarejo onde iria se realizar o festival.

Cheguei à estação Porto - São Bento por volta das 17h25m. A fila para comprar bilhete estava grande, então fui a uma máquina automática - €1,50 do bilhete para Recarei-Sobreira. Dirigi-me ao trem e lá fui eu a caminho de Recarei (sem ter a menor noção do que encontraria pela frente).

Aqui é tudo muito pontual. Às 17h30m o trem partiu da estação e às 18h em ponto parou em Recarei-Sobreira.

Desci do trem e saí da estação.

Olho para um lado. NADA.

Olho para o outro lado. NADA.

Por nada eu quero dizer: ABSOLUTAMENTE NADA. Nem a “bilheteira” da estação estava aberta. Praticamente não havia gente nas proximidades e não havia uma sinalização/informação do Festival Caos Emergente.

Procuro um táxi. Existe táxi nesse lugar?! Se existe, não ficam na saída da estação de “comboio”.

Resolvo andar sem rumo, na expectativa de encontrar alguma “camisa preta” pelo caminho e seguir no mesmo sentido. NADA. Eu era o único cidadão com camisa preta naquelas redondezas. Na verdade, eu era um dos poucos seres humanos naquela área.
Depois de muito andar e nada encontrar, resolvi retornar à estação e torcer para encontrar alguém e poder perguntar qualquer coisa que me ajudasse a encontrar o bendito local do show.

Encontro uma senhora a quem pergunto sobre o festival. A simpática e atenciosa senhora não fazia ideia do que eu falava. Então ela me perguntou se era em Recarei ou Sobreira (ambas são freguesias do município de Paredes), e eu disse que era em Recarei. Foi aí que ela me explicou como chegar à Recarei (sim, eu não estava em Recarei propriamente dito) e que lá eu poderia me informar sobre o show.

Tudo bem. Lá vou eu. Caminhar. Caminhar. E caminhar... Sempre adiante. Depois de andar mais de 1km eu avisto o prédio da Junta de Freguesia de Recarei. Pronto, já era um sinal de que estava no caminho certo, só faltava encontrar alguma sinalização para o “complexo desportivo” ou alguma placa do festival. Por enquanto, NADA.

Por falta de alternativa e de gente para perguntar qualquer coisa, segui meu rumo ao desconhecido, mas acreditando que ia para o lado certo.

Finalmente encontrei uma placa indicando o sentido para o campo de futebol. Vi que estava no caminho certo. Cheguei ao pé de uma ladeira e mais uma placa. Aí eu pensei, “era só o que me faltava, andei igual a um condenado e agora vou ter que subir uma ladeira desgraçada”. O detalhe importante era: do pé da ladeira você não via nada que indicasse a existência do tal campo de futebol. Ou seja, a subida seria LONGA...

Quando comecei a subir, encosta um carro. Era um casal que se dirigia ao festival, crente que eu sabia para onde estava indo. Perguntara-me – “é este o caminho para o recinto do concerto?”, e eu respondi – “espero que sim. Eu estou seguindo as placas”. Eles sorriram e seguiram adiante (o carro estava abarrotado de bolsas, pois eles iriam acampar no local (3 dias de festival).

Ando mais um pouco e começo a ouvir um “barulho”. Pronto, agora o negócio era seguir a música que estava tudo bem. Ruim era quando a música parava, pois sem placa e algumas bifurcações no caminho, você parava, olhava e pensava – “e agora, para que lado vou?”. Solução encontrada: esperar que a música volte a tocar e seguir o som.

Nesse meio tempo outro carro parou ao meu lado para pedir informações. Relembro: eu
era a única pessoa com camisa preta no lugar, logo, era a única referência. Dessa vez eu já tinha mais informações para dar e disse – “rapaz, estou seguindo as placas e ouvindo um som. Estou indo na direção da música”. Enfim... Mais um carro abarrotado de malas e nada de uma “boleia” para este aventureiro que vos escreve.

Um pouco mais adiante eu avisto as primeiras pessoas cabeludas e vestidas de preto. Estavam na entrada de uma casa que tinha sido improvisada de bar. Nunca pensei que ficaria tão contente ao ver um bando de “metaleiro” junto.

Pronto, ciente de que estava no caminho certo e mais perto do que longe. Continuei minha subida.

Depois de passar pelo campinho onde o pessoal improvisou suas barracas de camping, eu avistei mais acima o campo de futebol do Sport Clube Nun’Alvares, local onde se realizaria o festival.

Cheguei lá e vi um policial. Fui perguntar a respeito de uma pousada ou um residencial onde eu poderia passar a noite (o primeiro trem para o Porto só partiria às 5h57m). Como eu não tinha visto nada pelo caminho, resolvi perguntar para ter certeza da enrascada em que estava me metendo.

Dito e feito. O policial olhou para mim com uma cara de quem se solidarizava com o meu drama e respondeu “por cá não há nada disso, infelizmente”. E eu repliquei – “então vou ter que passar a noite na estação?!” – e ele prontamente disse, “ou aqui com os seus colegas”.

Meus colegas?! Certo! Que bom que eu não estava sozinho e que conhecia uma porrada de gente naquele lugar (como diria Borat – NOT!).

Eis que eu fiquei diante da seguinte situação: arriscar ou voltar para casa.

Mas eu não teria atravessado o Atlântico tendo como um dos objetivos ver uma das minhas bandas preferidas para voltar a terra brasilis sem ver o show deles. Então, só me restou a alternativa correr o risco e aproveitar o show.
Fui para a fila. Esperei cerca de 15 minutos. Comprei meu bilhete e entrei no recinto.

A primeira banda já tinha terminado a sua apresentação. E a segunda já estava no palco prestes a começar o seu show – eram os espanhóis do Kathaarsys. Fizeram uma boa apresentação, mas não há nada de especial no som deles. O que mais chamou a atenção do público foi a baixista da banda. Sem dúvida, uma boa baixista (sem maldade, hein pessoal?).

Ao fim da apresentação dos espanhóis, um fato, no mínimo, curioso. Subiu ao palco uma pessoa da produção. Pediu desculpas pelos problemas (sinceramente, eu não tinha visto problema algum até então) e solicitou que todos se retirassem do recinto, para depois retornarmos. Todo mundo ficou sem entender nada. Olhávamos uns para os outros, com aquele ar de “ele realmente pediu para que saíssemos?!”.

E lá fomos nós para fora do campo de futebol. Quando todo mundo saiu, eles encostaram o portão e... 5 segundos depois reabriram-no e todos pudemos entrar novamente.

É sério. O portão não ficou 10 segundos encostado. Foi reaberto assim que todos saíram.

Confesso: até agora não entendi por que pediram para que saíssemos. Mas, deve ter tido algum motivo, né?

A terceira banda da tarde/noite foi a irlandesa Abaddon Incarnate. Deles o que mais me chamou a atenção foi uma menina bem branquinha que vez ou outra ficava tirando fotos no meio do público ou em cima do palco. Não sei se era namorada de algum integrante da banda, mas era uma pessoa muito simpática. =)

Terminado esse show, eu subi para o restaurante do clube. Lá era o local de venda de comida e também bebidas diversas, tipo refrigerante, sucos, café, etc. (no campo havia bares, mas só vendia cerveja).

Como lá estava quente e passando o jogo Vitória de Guimarães x Naval 1º de Maio, fiquei por lá durante os dois shows seguintes (Ava Inferi e Holocausto Canibal). Se bem que, entretanto, deu uma queda de energia no restaurante e quando voltou, não colocaram passou mais o jogo (não sei por qual razão). De qualquer maneira, fiquei por lá mesmo, comendo minha “bifanas em pão” e tomando um copinho de 500ml de Tagus (cerveja patrocinadora do evento).

Quando deu a hora do show do Napalm Death eu desci e fiquei no meio do povo.
Conheço pouca coisa do Napalm Death, então eu fui ver o show mais pela curiosidade e pelo respeito ao que eles representam na cena “grindcore” mundial. É uma banda clássica, então não podia deixar de aproveitar a oportunidade.

E que show! Posso resumir a apresentação dos caras em uma palavra: PORRADA! Tanto o som da banda, pauleira sem dó nem piedade; quanto o público, que agitou muito e abriu várias rodas insanas.

O vocalista “Barney” é um cara super carismático. Conversa constantemente com o público e, praticamente, a cada música ele explicava o seu significado ou o que levou a banda a compô-la. Trata-se de uma banda com atitude e o show deles demonstra bem isso.

Dois detalhes:

1. Os caras tiveram que tocar com equipamentos emprestados, pois todo o material deles foi extraviado no voo para Portugal. Por conta disso, Barney fez questão de agradecer às bandas que emprestaram seus equipamentos e de mandar um belo “fuck Iberia” (Iberia, empresa de aviação espanhola).

2. Perto do fim do show, os caras mandaram um cover. Quando Barney anunciou que iriam tocar um cover, grande parte do público gritou “Sepultura!” (o Napalm Death gravou uma versão de “Troops of Doom” para o álbum de covers “Leaders Not Followers: Part 2”). E ele, sorrindo, disse que não naquela noite. Emendou com um discurso anti-fascista/anti-nazista e anunciou “Nazi Punks Fuck Off”, do Dead Kennedys.

Fim do show do Napalm Death, o palco começou a ser preparado para a apresentação do Moonspell, a atração principal do primeiro dia do Caos Emergente.

Foram cerca de 40 minutos de espera. Há toda uma organização e estrutura montada pela banda, para proporcionar um espetáculo que vai muito além da música, envolvendo também um lado teatral / visual muito forte.

Eis que, depois de tudo pronto, subiram ao palco as duas vocalistas que iriam compor o coro/backing vocals, Carmem Simões (Ava Inferi) e Sophia Vieira (CineMuerte) e, na sequência, começou a soar a introdução de “At Tragic Heights”, música que abre o álbum “Night Eternal”.

Quando a banda subiu ao palco eu mal podia acreditar que estava vendo o Moonspell ao
vivo. Era um sonho de muito tempo que estava se realizando naquele momento.
Sem perder muito tempo, a banda emendou “At Tragic Heights” e “Night Eternal”, abrindo o show com duas músicas agressivas do álbum mais recente da banda.

Após breve fala com o público, os caras mandaram “Finisterra” (do “Memorial”), outra que é bem agressiva e pesada, e “The Southern Deathstyle” (do “Antidote”), esta mais instrospectiva e sombia, com um “solo” de bateria com batidas tribais.

Aí sim Fernando Ribeiro deu as “boas noites” aos fãs e agradeceu a todos pela presença. Para, depois, mandar uma das músicas mais pesadas do “Night Eternal”, a excelente “Moon in Mercury”, seguida por “Blood Tells!” (do Memorial).

Uma pequena pausa para respirar (e eu para me beliscar e ver se eu realmente estava ali e não era apenas um sonho =P) e Fernando Ribeiro fala que a banda havia programado um setlist diferente e especial para o festival (a banda tinha plena noção de que se tratava de um festival de “Metal extremo”).

E então a banda toca a magnífica “Wolfshade (A Werewolf Masquerade)”, do clássico début-CD “Wolfheart”. Perfeita!

Achando pouco, os caras emendaram com a não menos clássica “Opium”, do álbum também não menos clássico “Irreligious”. Um dos momentos mais altos do show. Essa música deixa bem clara a e enorme influência que Fernando Pessoa representa para o Moonspell e, principalmente, Fernando Ribeiro enquanto compositor/poeta. Ao fim da música é recitado um trecho de “Opiário” (do heterónimo Álvaro de Campos): “Por isso eu tomo ópio. É um remédio / Sou um convalescente do Momento. / Moro no rés-do-chão do pensamento / E ver passar a Vida faz-me tédio.”.

Dando uma pequena pausa no retorno ao passado, Fernando Ribeiro anunciou a bela “Scorpion Flower”, primeira música de trabalho do mais recente “Night Eternal”. No álbum a música conta com a participação de Anekke van Giersbergen (ex-The Gathering); ao vivo a ausência da holandesa é suprida pelo belíssimo coral composto por Carmem Simões e Sophia Vieira.

Após essa brevíssima quebra da “volta ao passado”, a banda manda uma sequência de arrepiar e quase matar do coração este fã que os via pela primeira vez. A sombria, sensual e magnífica “Vampiria” e o hino imortal “Alma Mater”, ambas do “Wolfheart”.

O grande destaque vai para “Alma Mater”, mega clássico da banda. Acompanhada quase que em uníssono por todos os presentes. Espetacular! Memorável!
Para terminar a primeira parte da apresentação, executam “Full Moon Madness”, do “Irreligious”, música que resume bem aquilo que é estar “under the moonspell”, ou seja, ser um fã do Moonspell.

A banda se despede do público. Mas todos sabiam que não era o fim do show.
Após um momento de descanso, eles retornam ao palco e anunciam que vão tocar três músicas que eles haviam dito que nunca mais tocariam, porém que haviam aberto uma exceção para tocá-las no Caos Emergente. Seriam as músicas do “Under Satanae”, álbum lançado em 2007 em que a banda regravou músicas antigas de 1992 a 1994. Lá estava o presente para os fãs do “Metal Extremo”.

E o Moonspell emenda uma sequência de verdadeira pauleira com “Goat on Fire”, “Tenebrarum Oratorium (Andamento II / Erotic Compendyum) e “Ancient Winter Goddess”, músicas que hoje se tornaram “clássicas” dos tempos em que a banda ainda flertava com o Black Metal, porém já demonstrava personalidade com seus elementos de música tradicional portuguesa.

Fecharam com chave de ouro uma grande apresentação. Um show inesquecível!
De ressaltar a excelente presença de palco da banda e, principalmente, a excelente performance de Fernando Ribeiro, um grande front-man, sem dúvida!

Além disso, não posso deixar de mencionar a produção/organização. Das melhores que já vi. Impecável! O telão como “pano de fundo”, com um “jogo de imagens” para cada música e as imagens em constante mudança é um verdadeiro espetáculo à parte. Isso combinado com o jogo de luz... Sensacional!

Como fã da banda há quase 10 anos posso dizer que valeu muito a pena! Um show para guardar na memória e no coração. =)

Setlist:

At Tragic Heights
Night Eternal
Finisterra
The Southern Deathstyle
Moon in Mercury
Blood Tells
Wolfshade (A Werewolf Masquerade)
Opium
Scorpion Flower
Vampiria
Alma Mater
Full Moon Madness

----

Goat On Fire
Tenebrarum Oratorium (Andamento II / Erotic Compendyum)
Ancient Winter Goddess

O show do Moonspell acabou por volta das 2h. Havia outra banda para se apresentar, Sargeist, mas eu não estava minimamente interessado em ver. Então, subi para o restaurante e comecei a pensar na questão “onde vou passar o resto da noite?!”.

Cheguei ao restaurante, comprei um refrigerante, sentei-me e fiquei vendo o tempo passar. Acabou o show da banda Sargeist e o local ficou cheio. Muita gente indo comer e outras para beber um pouco mais de cerveja.

Quando deu umas 3h30m eu fui perguntar a uma funcionária até que horas o local ficaria aberto e ela me informou que funcionaria 24 horas. Fiquei logo aliviado, pois já tinha onde ficar até dar a hora de ir para a estação.

Tomei um café e fiquei lá, vendo os bêbados conversando e fazendo besteira. O mais engraçado é que os funcionários do clube nem ligavam para os bêbados, só faziam rir das besteiras deles; além disso, quando alguém tinha que ser chamado a atenção, todos respeitavam o funcionário e obedeciam sem uma reclamação ou a menor confusão. Imaginei como seria no Brasil... Nossos jovens extremamente bem educados e... Deixa pra lá. =P

Às 5h a atenciosa funcionária veio me informar que eles não ficariam aberto 24 horas e que, na verdade, iriam fechar naquele momento. Pediu-me desculpas e disse que eu podia ir para a estação sem problema algum, pois não havia perigo.

Duas informações básicas para vocês entenderem bem:

1. Ainda estava escuro.

2. Havia uma neblina desgraçada que impedia que você visse qualquer coisa a 5 metros de distância.

Porém, como o local seria fechado, eu não tinha alternativa, a não ser rumar em direção à estação e torcer que acertasse o caminho da volta.

E lá fui eu... Sem ver praticamente nada à minha frente, pois o campo ficava numa parte mais alta e afastada das casas, logo, não havia muita iluminação pública.

Depois de caminhar meio que no tato, passei pela parte do “camping” e cheguei à zona das casas, onde era mais iluminado.

Meia hora de caminhada no meio do nada, ainda escuro, com neblina, a temperatura rondando os 12° C e nenhuma alma viva ao meu redor. Ahh, em um local aonde eu nunca tinha ido e fazendo um caminho de volta pelo qual apenas havia passado uma vez na vida. Foi este o cenário da minha volta à estação.

Atraente, não? =)

Cheguei à estação exatamente às 5h30m. Ninguém.

Comprei o bilhete na máquina automática.

Por sorte as coisas costumam ser pontuais por aqui e eu sabia que “só” teria que esperar mais 27 minutos pelo trem que me levaria de volta ao Porto.

Às 5h57m e já com umas 4 pessoas na estação, chegou o trem. A volta foi um pouco mais demorada (38 minutos ao invés de meia hora), por que o trem parou em todas as estações e apeadeiros.

Desci na estação de Porto – Campanhã, uma antes da Estação de São Bento, no centro da cidade. É que em Campanhã a conexão com o metro é mais rápido, pois lá passam as linhas A, B, C e E, enquanto que em São Bento eu teria que pegar a linha D, descer em Trindade e pegar um outro metro para a Casa da Música; ou, então, subir a Av. dos Aliados até a estação de Trindade – o que, obviamente, seria impossível ante meu estado físico naquela hora.

Cheguei à casa por volta das 7h da manhã. Com o dia começando a clarear e uma temperatura rondando os 15° C.

Esta foi minha pequena aventura. E digo a vocês: faria tudo de novo, pois valeu a pena.

Como estou em Portugal, vou fechar com uma frase (clichê, admito) do grande poeta português Fernando Pessoa: “Tudo vale a pena se alma não é pequena”. =)

sábado, 29 de agosto de 2009

O bode expiatório e a fuga da realidade


A expressão “bode expiatório” tem sua origem nos tempos da Antiguidade, nas antigas tribos judaicas. O bode representava um papel simbólico nas cerimônias hebraicas do Yom Kippur, o Dia da Expiação.

O pobre animal era escolhido para concentrar em si todos os pecados do povo de Israel. Um sacerdote colocava as suas mãos na cabeça do coitado do bode e confessava para o infeliz animal todos os pecados da população de Israel. Posteriormente, o bode era solto na natureza selvagem a fim de que pagasse por todos os pecados cometidos pela gente de Israel. Por isso que se chama “bode expiatório” - expiação significa penitência, ou seja, castigo ou sofrimento de pena para se obter a remissão dos pecados.

Nos dias de hoje essa expressão ainda é utilizada em um sentido figurado. Sempre que se escolhe alguém como culpado por qualquer coisa negativa, mesmo que esse alguém não seja o culpado (ou o único culpado), estamos a fazer o mesmo que o povo das antigas tribos judaicas, quer dizer, escolhemos um “bode” a fim de que ele, sozinho e largado na “natureza selvagem”, pague por nossos erros ou nossas falhas (pecados).

A busca pelo “bode expiatório” é um mecanismo de defesa; um recurso para se apontar um responsável pelo(s) problema(s) e não assumir nossas próprias responsabilidades.

Para a Psicanálise o “bode expiatório” faz parte de um dos mecanismos de defesa da personalidade, a saber, a racionalização. Os mecanismos de defesa atuam de forma a que nós, seres humanos, não enfrentemos de frente todas as nossas frustrações e fracassos.

A racionalização seria um desses mecanismos de defesa e a eleição de um “bode expiatório” se encontra dentro de um dos recursos da racionalização. Jogar a culpa em alguém ou alguma coisa ao invés de assumirmos nossas responsabilidades não passa de um artifício para aliviarmos o nosso próprio sentimento de culpa e nos sentirmos melhores com nós mesmos e com os outros.

Dentre os mecanismos de defesa da personalidade podemos encontrar a projeção, que é “atribuir a outros as idéias e tendências que o sujeito não pode admitir como suas”, ou seja, jogar para cima de outra pessoa os nossos próprios defeitos.

Ao meu ver a ideia de “bode expiatório” tanto pode ser encontrada na racionalização como na projeção.

Dentro da Criminologia existe uma teoria que relaciona a ideia do “bode expiatório” com a necessidade da sociedade em ver o deliquente ser punido de forma exemplar.

Criminologia é uma ciência empírica e interdisciplinar que se ocupa do estudo do crime, da pessoa do infrator, da vítima e do controle do comportamento delitivo. E como ciência interdisciplinar e pluridimensional que é, a Criminologia mantém uma relação de interesses de estudo com a Psicanálise, são as chamadas Teorias Psicanalíticas da Criminalidade.

Dentre estas teorias podemos encontrar uma que é bastante interessante e que me levou a refletir um pouco e, obviamente, a escrever esse texto. Trata-se das Teorias Psicanalíticas da Sociedade e a Interpretação Funcional da Reação Punitiva.

Para esta teoria, o Direito Penal não busca, objetivamente, a justiça ou a prevenção do crime. Na realidade, a pena tem uma função de satisfazer uma necessidade da “sociedade sancionadora” que “necessita” do castigo.

A sociedade não busca na pena a justiça ou a prevenção dos crimes; na realidade a sociedade tem uma necessidade inconsciente do castigo, de ver o deliquente ser castigado, para que este sirva de exemplo e pague não só pelos seus erros, mas pelos desejos reprimidos de toda a sociedade.

É a ideia do “bode expiatório”. O deliquente, na verdade, é o alvo de todas as frustrações e agressividade da coletividade, que se identifica com ele e projeta sobre o mesmo a necessidade de castigo.

Tal como o pobre do bode, que leva consigo para o deserto todos os pecados do povo de Israel, a pena infligida ao criminoso tem um caráter coletivo e não individual (como é colocado pelo Direito Penal vigente). Na realidade a pena não serve para reeducar o indivíduo a fim de recolocá-lo no convívio social; o castigo imposto ao deliquente é o exemplo visível que a sociedade impõe ao “bode expiatório”, para que sirva de controle aos impulsos criminosos de todas as pessoas, uma vez que a própria sociedade se identifica com o criminoso.

Na prática do Direito Penal dogmático essa teoria esbarra, dentre outras coisas, com a Culpabilidade, que é um dos elementos constitutivos do crime.

Na Teoria do Crime, a Culpabilidade é o único dos três elementos (que integra e forma o crime) que versa sobre a pessoa humana. A culpabilidade é um juízo de reprovação pessoal – o desvalor da culpabilidade reprova o autor de um fato típico e antijurídico, por não haver se comportado conforme o direito ou não tendo se decidido pelo direito, quando podia se comportar conforme o direito ou podia ter decidido pelo direito.

Em resumo: a culpabilidade é um juízo negativo, de reprovação pessoal, ao autor do fato que poderia ter agido de acordo com as normas, mas, de forma consciente e livre, agiu contra as normas.

Isso bate de frente com a ideia de que a sociedade se projeta no criminoso, identificando-se com ele e que a pena é um mecanismo de repressão dos impulsos criminosos de todos os membros da coletividade.

Apesar disso, embora não vejamos aplicação prática dessa teoria psicanalítica no Direito Penal, não posso deixar de observar que, em termos de sociedade e comportamento humano, a teoria do “bode expiatório” é bastante interessante e, indubitavelmente, facilmente verificável através do convívio social.

Quem nunca conheceu ou conviveu com alguém que se recusa a assumir os seus próprios defeitos ou reconhecer as suas falhas?

Quem não conhece alguém que é excelente a apontar os erros e defeitos dos outros, mas é incapaz de se olhar no espelho e fazer uma autocrítica?

Quem não conhece pelo menos uma pessoa que coloca a culpa de tudo nos outros, que aponta o dedo com uma veemência voraz, mas que, quando confrontada com suas deficiências, reage de forma agressiva e não aceita uma análise negativa a respeito de seus atos?

Quem não conhece alguém que adora julgar e condenar as atitudes alheias?

Certa vez, uma amiga me disse – “Emanuel, essa pessoa que tanto critica os outros, que acusa e aponta o dedo às atitudes de todos, na verdade tem uma vontade tremenda de fazer tudo isso que ela critica, mas não tem coragem”.

Lá está. Essa minha amiga descreveu com perfeição a teoria do “bode expiatório” - apontar para os outros a culpa ou jogar para os outros os defeitos que não suporta admitir como seus.

Pois é, aí entra o “bode expiatório”... Apontamos para os outros a culpa dos nossos próprios desejos reprimidos que, quando refletidos nos outros, nos incomoda de uma forma que é necessário que o OUTRO pague pelos meus pecados/erros, a fim de que eu me sinta aliviado e possa conviver comigo mesmo de forma tranquila e serena.

Somos todos humanos e todos nós somos passíveis a erros e defeitos. Todos nós agimos inconscientemente em defesa de nossa personalidade. Por isso que devemos estar sempre atentos às nossas ações e devemos procurar nunca julgar os outros sem antes fazermos uma autocrítica e termos personalidade forte o suficiente para assumirmos nossos erros e defeitos, sem ter que recorrer a “bodes expiatórios” para fugir da realidade.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Frio, lamento e dor


Não, você não pode perder aquilo que nunca teve.

Não, você não pode desfazer aquilo que nunca foi feito.

Não, você não pode chorar quando já não há mais lágrimas.

Não, você não pode sorrir se não existem momentos de felicidade.

Não, você não pode sonhar, pois não há sonhos quando não existe mais esperança.

Não, você não pode acabar o que nunca começou.

Não, você não pode jamais enfrentar a morte, pois não existe a morte se nunca houve a vida.

Não existe emoção.

Não existe razão.

Não existe calor.

N

Ã

O

!

Só te resta o frio.

Só te resta o lamento.

Só te resta a dor.

Frio.

Lamento

(e) Dor.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Páginas em branco


Escrevo páginas em branco, folhas lisas e limpas, sem nada a declarar.

Inerte.

Diante de uma página em branco.

Paralisado.

Página em branco, palavras que não se lêem, de uma vida insignificante.

Estático.

O branco atormentador. O vazio de uma folha que nada tem para contar.

Escrevo páginas em branco.

Folhas lisas e limpas. O pálido reflexo de uma existência que mal dá para se notar.

Imóvel.

Página em branco, corpo vazio, um espírito que anda a vagar.

Escrevo páginas em branco, folhas lisas e limpas.

Páginas em branco, de um livro não escrito, sobre uma vida que se deixou escapar.

Inerte. Paralisado. Estático. Imóvel.

Jacente.

Aqui jaz uma vida em branco, sem nada para contar.

Páginas em branco. O pálido reflexo daquele que mal dá para se notar.

Vazio. Completamente vazio.

Páginas... Em BRANCO.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Há gosto, agosto? A gosto augusto? (Ah!)gosto...



O vento que traz consigo nuvens cinzas (carregadas de esperanças [perdidas]), também traz lembranças daquilo que foi sem nunca ter sido; da vida que não se viveu; do sonho que se sonhou e nunca se tornou realidade... Ah! o peso incomensurável e inevitável da realidade.


Estamos na segunda metade do mês de Augustus, o que podemos dizer sobre esses dias que passaram e o que esperar dos dias que virão?


Sublimes?


Esplendorosos?


Majestosos?


Augustos?


Ah!gosto... A gosto de todos. Há gosto de quê em agosto?


As nuvens cinzas, carregadas de dor e (des)gosto neste mês de (há)gosto, despejam sobre a superfície da Terra lágrimas daqueles que perderam as esperanças – pobres inocentes que ousaram acreditar... Quem espera sempre alcança? Ou quem espera se desespera?


Esperança – o pensamento e a perspectiva – de que algo novo (e melhor) surja em nossas vidas. A expectativa angustiante.


A espera.


À espera.


Há espera(nça)?


Há gosto na espera?


O que esperar dos últimos dias do mês de Augustus?


Se dissessem que você é alguém – Alguém - Você pararia para pensar? Pensar em como seria a sensação de saber que é alguém?!


Você espera por isso?


Há um gosto sublime em agosto? Sente-se o esplendor de Augustus?


Ah!gosto... A gosto de todos. Há gosto de quê em agosto?


Da esperança – que alcança?


Ou da espera que (nos) cansa?


Nuvens cinzas - cheias dos vazios sonhos de quem cansou de esperar.


Nuvens cinzas - repletas do amargo gosto do (des)gosto neste mês de agosto.


Agosto augusto?


Ou


Agosto angustiante?


Há gosto em agosto? Gosto de quê, agosto?


(Ah!)gosto...

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

SEPULTURA EM RECIFE, 08/08/2009

No sábado passado, dia 08 de agosto, rolou o show do Sepultura no Clube Português. A banda apresentou ao público pernambucano o seu mais recente lançamento, o matador “A-LEX”, em um evento que contou também com o show do Angra, em turnê nacional conjunta das duas maiores bandas de Metal do país.

Nem preciso dizer que sou fã do Sepultura, pois isso é conhecimento público (porra, até gente que não me conhece sabe disso hahahaha). Então, é desnecessário dizer que um show do Sepultura para mim é algo especial e sempre gera uma grande expectativa.

Contudo, devido a alguns fatores singulares, esse dia 08 de agosto de 2009 se tornou ainda mais especial.


Homenagem da torcida Metal Alvirrubro



Antes do show fui ao camarim com Charles da Metal Alvirrubro, para entregarmos a cada integrante da banda uma camisa em homenagem aos 25 anos do Sepultura, desenhada por Charles exclusivamente para a ocasião.

Ficamos lá no camarim, entregamos as camisas e conversamos um pouco com os caras.

Registramos a entrega das camisas em foto. Levei meu “trapo” do “SepulNáutico” para compor melhor a imagem. :)

Além de Charles, entraram também meu amigo Pajé e a namorada de Charles. E eles puderam constatar que os caras são todos simpáticos e atenciosos, sem nenhum ‘estrelismo’. É isso que diferencia o Sepultura de muita banda por aí... Attitude and Respect!

Faço aqui o agradecimento a todos integrantes da banda, incluindo André Dellamanha (apesar do comentário sobre o estádio da Luz). E em especial ao Andreas, pela atenção e disponibilidade de sempre.


O SHOW!


O último show do Sepultura em Recife foi no Abril Pro Rock de 2007, ou seja, há mais de dois anos. Na altura, a banda se apresentou na capital pernambucana pela primeira vez com a sua nova formação, tendo Jean Dolabella nos comandos das baquetas.

Em fevereiro de 2008 fui a Fortaleza sacar o show dos caras e pude perceber como a banda tinha evoluído desde o show do APR no ano anterior e como o Jean estava muito mais integrado e entrosado.

Com o ‘A-LEX’ esta evolução se tornou ainda mais evidente, notando-se claramente a enorme contribuição de Jean, que trouxe um novo gás e também muita técnica para o Sepultura.

Esperava ansioso por um show desta turnê. Os vídeos que apareciam na net já deixavam uma coisa bastante clara: as novas músicas funcionam muito bem ao vivo. Por isso, a expectativa de poder ver/ouvir petardos como “Moloko Mesto”, “What I Do!”, “Conform” e a matadora “The Treatment” era enorme.

Por volta de 1h17m já do dia 09 a banda subiu ao palco e após a intro com uma das músicas instrumentais “A-Lex”, começaram a soar os primeiros riffs de “Moloko Mesto”, violenta e enérgica tal qual o grupo comandado pelo deliquente Alex, não tinha como começar o show de melhor forma. A banda emendou com mais duas músicas novas, “Filthy Rot” e a pauleira de “What I Do!”.

Sem descanso para os ouvidos, um clássico do Heavy Metal: “Refuse/Resist”, cantada a uníssono por um Clube Português com um bom público presente. Na seqüência, “Convicted in Life”, do “Dante XXI”, música que, na minha opinião, combina muito bem com “Refuse/Resist”.


Uma breve pausa para respirar e a banda começa a executar “We’ve Lost You”, primeira música de trabalho do “A-LEX”. Momento digno de registro: essa música ao vivo é, simplesmente, espetacular! É de impressionar a excelente sincronização da música com o jogo de luz. Sem dúvida, em termos de espetáculo, um dos momentos mais altos da apresentação dos caras.

“A-LEX II” já anunciava o que viria a seguir... A melhor música do novo álbum, e, para mim, o mais novo clássico do Sepultura: “The Treatment”! É uma das músicas mais pesadas e rápidas do “A-LEX” e ao vivo ficou muito foda. Agora é ficar à espera do clipe, que deve sair em setembro.

A banda continuou a “destruição” resgatando alguns dos grandes clássicos que compõem os 25 anos de sua história. “Dead Embryonic Cells”, “Troops of Doom” (que roda foi aquela?! Hahaha) e “Sceptic Schizo / Escape to the Void” e “Inner Self” são para acabar com qualquer pessoa! Perfeito.

Depois dessa matadora seqüência, os caras mandaram o hino “Sepulnation”, canção que deveria ser sempre executada ao vivo, pois além de ser muito boa, tem um significado que vai muito além da música em si... “Rise up, Sepulnation!”.

Mais dois clássicos do Heavy Metal mundial, “Territory” e “Arise” quase colocam o Clube Português abaixo!

Para finalizar, os caras mandaram a potente “Conform” e fecharam com a mais do que clássica e esperada... “Roots Bloody Roots”, que fez o Clube Português estremecer!

A energia que o Sepultura transmite ao vivo é impressionante! Poucas são as bandas de Heavy Metal que conseguem fazer um show tão espetacular em todos os sentidos: qualidade do som, estética e energia.

Qualidade no som é algo imprescindível em qualquer apresentação ao vivo e o Sepultura sabe como poucos se fazer ouvir em alto e bom som. Pela primeira vez o público de um show no Clube Português pôde ouvir um som de qualidade.

De se ressaltar o cuidado com a apresentação como um todo. A sincronização entre música e luzes foi um espetáculo à parte. Nenhuma outra banda nacional apresenta um show tão bem cuidado e executado como o Sepultura.

Além, claro, da marca registrada da banda: a sensacional presença de palco. Aquilo não é apenas um show, é uma verdadeira aula de Heavy Metal.

Enfim, todas essas características fazem de uma apresentação do Sepultura algo diferenciado. E na tour do “A-LEX”, com um excelente material em mãos, a banda tem se notabilizado e demonstrado que está mais viva do que nunca e pronta para muitos mais anos de estrada. Que venha o próximo show em solo pernambucano!

Quase que eu me esquecia... Ao fim do show Sepultura, rolou uma jam com os caras do Angra. As duas maiores bandas de Heavy Metal do Brasil, juntas no palco, mandando clássicos do Rock’n Roll: “Immigrant Song” (Led Zeppelin) e “Paranoid” (Black Sabbath).

SET LIST DO SEPULTURA:

1- A-LEX I/MOLOKO MESTO
2- FILTHY ROT
3- WHAT I DO!
4- REFUSE/RESIST
5- CONVICTED IN LIFE
6- WE´VE LOST YOU
7- A-LEX II/THE TREATMENT
8- DEAD EMBRYONIC CELLS
9- TROOPS OF DOOM
10- SEPTIC SCHIZO/ESCAPE TO THE VOID
11- INNER SELF
12- SEPULNATION
13- TERRITORY
14- ARISE
15- CONFORM
16- ROOTS BLOODY ROOTS

SEPULTURA & ANGRA

IMMIGRANT SONG (LED ZEPPELIN)
PARANOID (BLACK SABBATH)

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Puritana Perversão


“Pervertido(a)... Quase Religioso(a)” (Moonspell).

Não, não é uma crítica às religiões ou à religiosidade das pessoas. “Religioso” está aqui empregado em um sentido conotativo, na realidade em um sentido quase que interpretativo, adotado por uma “liberdade poética” (pretensioso, não?!). Adoto o termo “religioso” como sinônimo de “puro”, “imaculado”, quase “santificado”.

Há pessoas que são assim, puras, imaculadas, santas encarnadas. Quer dizer, pelo menos é o que elas apresentam (ou aparentam) ser ou dizem ser, não é verdade?

Há também aquelas pessoas que se colocam sempre em superioridade e fazem questão de enaltecer em si uma perfeição impossível aos seres humanos. Impossível, obviamente, pois não há perfeição quando tratamos da raça humana.

Perfeito só Deus, Alá, Buda ou qualquer outro ser superior no qual você acreditar, isso se você acreditar. É que se você for cético, poderá afirmar que não existe perfeição neste mundo. Mas se você não for tão crítico, poderá até dizer que perfeita é a natureza (só a natureza, sem essa baboseira de “mãe natureza”).

Eu diria que (sem, mais uma vez, entrar em questões religiosas) a natureza é perfeita e uma de suas manifestações mais maravilhosas se dá através do que chamam de “ironias da vida”.

Existe algo mais perfeito do que uma bela “ironia da vida”? Se a ironia por si só já é algo para lá de interessante, o que falar quando algo nos chega de uma forma tão irônica, quase que por mera coincidência?

Pois é. Algumas ironias chegam aos nossos conhecimentos de modo tão inesperado que nos pegam totalmente de surpresa, deixando-nos praticamente incrédulos (com aquilo que nos é dito/demonstrado).

Há certas informações que explodem como uma bomba. São informações que carregam em si um material explosivo capaz de causar destruição, de abalar de forma substancial as estruturas ao seu redor.

Tal qual uma bomba dos católicos do IRA na “protestante” Belfast; ou uma bomba de judeus sionistas em um hotel do comando geral das tropas britânicas; ou mesmo uma bomba do Hamas em um ônibus civil em Tel-Aviv.

É verdade, amigos, há fatos que, quando tomamos conhecimento de sua existência, são capazes de ter uma abissal força destruidora, de causar um abalo incomensurável em nossas frágeis estruturas. Somos humanos e, além de não sermos perfeitos, somos também muito frágeis.

E, quando menos esperamos, quando sequer procuramos, não é que nos chegam notícias de certos acontecimentos espantosos e quase inacreditáveis?

Só seriam mesmo incríveis se não se tratasse de fatos relacionados ao comportamento humano. É que, infelizmente, havemos de reconhecer, do ser humano devemos esperar tudo, do mais belo e puro ao mais reprovável e repugnante.

Pois é, senhores, a desconfiança é, nesse caso, uma armadura que nos protege de eventuais dissabores que a vida venha a nos apresentar.

Sempre me pautei pela desconfiança, o bom e velho “pé atrás”. É que de uma pessoa eu sempre soube e tive plena convicção de que poderia esperar o melhor e o pior. E a maior probabilidade é de que o pior ocorra com mais freqüência.

Mas a natureza é perfeita. E a vida é irônica. Ela sempre dá um jeito de nos mostrar como estávamos errados, o quanto fomos inocentes em determinadas ocasiões. Nem que essa demonstração venha de uma forma pouco agradável, mas a ironia da vida nos prega essa lição a fim de que aprendamos, definitivamente, com os nossos erros e não caiamos novamente na tolice de acreditar ingenuamente em alguém.

Pessimista? Fatalista? Triste? Radical? Você pode até se perguntar. Você pode até me questionar.

Contudo, experimente acreditar, confiar convictamente... E depois se dar conta de que tudo aquilo não era bem a verdade e que aquela imagem que se colocava diante de seus olhos e que ganhou sua confiança não correspondia à verdadeira face daquilo em que você confiou.

Experimente viver em uma realidade aparente e, tempos depois, dar-se conta de que a aparência da verdade é mesmo a falsidade e a dissimulação.

Uma amiga me disse – “desconfie das pessoas sonsas, pois essas pessoas são as piores” – e eu devo concordar com ela.

Vou mais adiante: desconfie das pessoas que apontam o dedo para todas as outras; desconfie daquelas pessoas que, na incapacidade de ver e reconhecer seus próprios defeitos, destilam seus peçonhentos preconceitos contra o comportamento dos outros.

E, principalmente, desconfie daquelas pessoas que têm uma enorme necessidade de se fazerem reconhecidas como imaculadas e perfeitas, aparentando um pudor rígido e inabalável... Essas são as piores, não me restam dúvidas.

A hipocrisia é uma das características negativas dos seres humanos. Devemos sempre tomar cuidado para não cairmos nas artimanhas dos hipócritas, que nos fazem crer em suas dissimulações e nos iludem com seus fingimentos.

Meus senhores, nós nunca sabemos onde estão as fronteiras que separam o pudor e a moralidade do falso pudor e da imoralidade.

É muito tênue a linha que divide o puritanismo da perversão. Às vezes nem nos damos conta de que podemos estar diante de uma verdadeira “puritana perversão”.

Por fim, gostaria apenas de lembrar que o mundo é pequeno e as máscaras, mais cedo ou mais tarde, sempre hão de cair.

“Pervertido(a)... Quase Religioso(a)”.

domingo, 2 de agosto de 2009

Entrevista com Andreas Kisser (Sepultura)


Entrevista elaborada para o site Recife Metal Law.

Link para a entrevista no site: http://www.recifemetallaw.com.br/index.php?link=materias&id=1777

O Sepultura tocará em Recife no próximo dia 08 de agosto, no Clube Português, apresentando aos fãs pernambucanos o novo álbum, “A-Lex”. O guitarrista Andreas Kisser falou sobre o novo álbum da banda, a turnê com o Angra e trouxe também algumas novidades e planos para o futuro próximo, como a possibilidade de um show especial em celebração aos 25 anos do Sepultura. Além disso, Andreas também falou a respeito de seu álbum solo (Hvbris I & II), de shows com o projeto Hail! e um pouco de política. Confira abaixo a entrevista do Recife Metal Law com Andreas Kisser, guitarrista do Sepultura.

Recife Metal Law – O “A-Lex” foi o segundo álbum do Sepultura baseado em um livro. Por já terem uma experiência anterior, com o “Dante XXI”, o trabalho de adaptação de livro para música foi mais fácil?

Andreas Kisser – Sem dúvidas! A “Divina Comédia” é um livro bem mais complicado em comparação com a “Laranja Mecânica”. Por ter sido a primeira vez, o “Dante XXI” foi um pouco mais difícil, mas foi muito motivante. O livro é fantástico e tem muitas opções, poderíamos ter feito 20 discos só com ele. Foi uma bela experiência e por isso decidimos fazer o mesmo com o novo disco, desta vez com um livro totalmente diferente, mas muito inspirador também. A entrada do Jean também trouxe mais idéias, talento e vontade, o que facilitou muito o trabalho.

Recife Metal Law – “A Laranja Mecânica” é um livro que traz à tona a discussão a respeito da “liberdade” humana. É possível passar horas e horas a discutir até que ponto o ser humano diante de tantos condicionamentos (leis, regras morais, religiosas, etc.). O Sepultura sempre se preocupou com questões como essa, então, qual é a tua visão de “liberdade”? Você se sente “livre”?


Andreas
– A liberdade é uma ilusão, numa sociedade totalmente voltada para o consumo, num sistema onde o dinheiro é mais importante do que qualquer outra coisa, ser livre é ser rico. Assim você pode viajar, ir aonde bem quiser e ter o que a sociedade te obriga a comprar. A liberdade real não tem nada a ver com o mundo em que a gente vive. Ser livre realmente é ter condições de elevar a condição do cérebro humano sem religião, política, preconceitos, regras, nações, fronteiras, dogmas e toda esta merda que mantém o ser humano parado, sem evoluir.


Recife Metal Law
– Vocês pensam em continuar a usar livros como inspiração para os próximos álbuns? Se sim, já cogitaram a hipótese de adaptar algum livro de língua portuguesa, como José Saramago, um autor bastante politizado e que traz em suas obras reflexões a respeito das instituições sociais e do comportamento humano?


Andreas – Não tenho idéia ainda do que vamos fazer no próximo disco, claro que a possibilidade de usar outro livro está aberta, mas isto vai depender de muita coisa ainda. Estamos no começo da tour do “A-Lex” e estamos coletando idéias para os próximos trabalhos. Creio que o Saramago seria uma bela opção.


Recife Metal Law – O A-Lex é o primeiro álbum com a participação do Jean Dolabella na bateria. Como foi trabalhar com o Jean? Em termos musicais e de composição, o que ele trouxe ao Sepultura para além de um novo gás e mais disposição?

Andreas – Trouxe muita técnica! Ele é um músico diferenciado, nunca toquei com um baterista como ele, sensacional! Ele não tem medo de testar nada na música, de experimentar. Muitos dos riffs para o “A-Lex” foram criados a partir de ‘jams’ espontâneas, coisa que não existia no Sepultura.

Recife Metal Law – O Sepultura sempre foi uma banda inovadora. Já gravou com artistas como Carlinhos Brown, os finlandeses do Apocalyptica e Zé Ramalho (trilha de Lisbela e o Prisioneiro). O “A-Lex” nos traz uma excelente versão da 9ª Sinfonia de Beethoven. Como foi fazer uma releitura de uma música clássica?

Andreas – Foi o maior desafio de todo o trabalho. Um disco baseado na “Laranja Mecânica” não poderia faltar a Nona de Beethoven. Eu acho a Música Clássica muito pesada naturalmente. Trabalhos de Beethoven, Bach, Wagner e tantos outros são muito densos, tensos, muito parecidos com o Heavy Metal. A ajuda do maestro Alexey Kurkdjian foi essencial para que a gente pudesse ter feito a versão. Foi muito trabalho, mas eu cresci muito durante o processo. Esta é uma das coisas que um disco conceitual oferece: a quebra dos limites, dos nossos próprios limites.

Recife Metal Law – A banda lançou dois vídeos-clipe do “A-Lex”. A primeira música de trabalho foi “We’ve Lost You”. Depois tivemos o clipe de “What I Do!”. Li em algum lado que haverá um terceiro clipe, para a matadora “The Treatment” (melhor música do álbum, em minha opinião). Vai mesmo rolar esse terceiro clipe? Para quando?

Andreas – Sim, justamente para a “The Treatment”. Vai ser um vídeo totalmente feito em animação e computação gráfica. Já vi alguns rascunhos e acho que vai ser um de nossos melhores clipes. Creio que deve ficar pronto em setembro.

Recife Metal Law – Neste momento vocês estão terminando uma turnê pela Europa. É a segunda tour européia do “A-Lex”. Como tem sido a recepção dos europeus ao novo álbum e às músicas novas ao vivo?

Andreas – Tem sido muito boa. O público realmente conhece o material novo, cantando todas as músicas e curtindo o nosso merchandising também, com a arte do disco. Tem sido tudo muito positivo.

Recife Metal Law – A turnê do “Dante XXI” levou o Sepultura a quatro continentes, 40 países. A turnê do “A-Lex” já conta com 70 shows e 26 países visitados (na Europa e América do Sul). Neste segundo semestre, para além dos shows no Brasil e um festival em Portugal, a banda já tem alguma turnê programada? Um retorno aos EUA ou à Ásia/Oceania, quem sabe?

Andreas – Estamos preparando isso agora. Temos algumas opções, mas nada ainda definido. Uma opção que eu quero muito que role é uma tour com o Kreator nos Estados Unidos em março de 2010. Também estamos preparando uma tour na África do Sul durante a Copa do Mundo.

Recife Metal Law – Em maio vocês começaram uma turnê inédita ao lado do Angra. Pela primeira vez na história as duas maiores bandas de Metal do país juntas. Essa turnê continuará em agosto, passando por Recife no dia 08. Como se deu essa iniciativa de juntarem as duas bandas? Como têm sido os shows?

Andreas – Os shows têm sido fantásticos! As duas bandas estão fazendo shows memoráveis e sempre com uma grande ‘jam’ no final, com todos no palco. A idéia já era antiga; queríamos ter feito essa tour ‘brazuka’ fora do Brasil, mas este é um começo, creio que outras virão, onde vamos juntar grandes nomes do Metal/Punk/Hardcore do Brasil para viajar o mundo.

Recife Metal Law – Vocês chegaram a falar na possibilidade de rolarem shows do Sepultura & Angra pela América do Sul. Existe alguma negociação concreta nesse sentido?

Andreas – Negociações existem, talvez Chile, Argentina, Venezuela, mas ainda nada confirmado.

Recife Metal Law – Em 2009 o Sepultura completa 25 anos de existência. É um marco na carreira da banda, que merece ser celebrado. A banda pretende ‘presentear’ os fãs com algum lançamento especial (um DVD com imagens dos shows históricos em Cuba e na Índia, por exemplo) ou um show comemorativo?

Andreas – Temos a idéia de juntar o Sepultura com uma orquestra, tocar o “A-Lex” ao vivo do começo ao fim e fazer versões de temas antigos do Sepultura com orquestra. As negociações estão adiantadas e em breve vamos divulgar mais detalhes.

Recife Metal Law – O seu primeiro álbum solo, “Hvbris I & II”, já foi lançado na Europa. Quando os fãs brasileiros poderão adquirir este álbum? Quero dizer, existe previsão para o lançamento desse trabalho por algum selo brasileiro?

Andreas – Já saiu na Europa. Nos Estados Unidos sai no final de agosto. E espero que as gravadoras daqui e da Holanda resolvam logo os detalhes e oficializem o lançamento aqui no Brasil o mais breve possível.

Recife Metal Law – Ainda sobre o “Hvbris I & II”, você pretende fazer shows solos em divulgação do álbum ou a prioridade no momento é divulgar o “A-Lex” e tocar o máximo possível com o Sepultura?

Andreas – Eu tenho feito shows aqui no Brasil e estou preparando uma tour para novembro na Europa e, claro, tocar com o Sepultura e ainda com o projeto Hail!, que vai fazer uma tour na Escandinávia em setembro.

Recife Metal Law – Da última vez que te entrevistei, fiz uma pergunta a respeito do governo Lula. Desta vez, eu gostaria de saber tua opinião a respeito da eleição do Barack Obama. Esperança ou “more of the same”? Como o Derrick, americano e negro, reagiu diante desta eleição histórica?

Andreas – Acho que realmente é uma esperança. Parece-me que foi uma votação justa, sem mistérios, recontagem de votos. A era Bush foi a era mais detestável da história dos Estados Unidos, pior do que estava, impossível. Vai ser um trabalho muito duro, mas creio que o Obama vem com o real apoio popular no mundo inteiro e ele traz perspectivas muito positivas. O Derrick curtiu muito. Ele votou também aqui no Brasil, e torce muito por ele.

Recife Metal Law – No próximo dia 08 de agosto o Sepultura vem ao Recife apresentar o “A-Lex” aos pernambucanos. O que os fãs locais podem esperar desse show? E o que o Sepultura espera de mais um show em Recife?

Andreas – Podem esperar muita energia boa e muito som; toda a história da banda, claro mais calcada no “A-Lex”. Os shows em Recife sempre foram muito bons, o público é animal e estamos muito contentes de estar aí de novo... Destroy!!!

Recife Metal Law – Andreas, muito obrigado pela disponibilidade e atenção. Reservo este espaço para que tu deixes uma mensagem final a toda a “Sepulnation”.

Andreas – Obrigado a todos pelo apoio durante estes 25 anos de Sepultura! Sem isto não conseguiria manter o pique. Abraço a todos e até o show!!!

Site: http://sepultura.uol.com.br/v6/ / www.myspace.com/sepultura