quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Meus álbuns preferidos em 2010

Geralmente fazem-se listas de “10 melhores” ou coisa do gênero.

Contudo, embora tenha escutado muito mais do que 10 álbuns lançados em 2010, não me senti à vontade em listar os meus 10 preferidos, por uma simples razão: poucos foram os lançamentos que realmente eu considerei muito bons.

Por conta disso, e após uma pequena forçada de barra, cheguei a oito lançamentos, que seguem abaixo.

Mechanize – Fear Factory

Petardo!

Quando eu soube que Dino Cazares havia retornado à banda e, mais, o novo álbum contaria com Gene Hoglan na bateria, eu sabia que só podia esperar pelo melhor. E não deu outra, “Mechanize” é, sem a menor dúvida, um dos melhores álbuns do Fear Factory. Podem me chamar de exagerado, mas eu coloco esse álbum ao lado dos clássicos “Soul of a New Machine” e “Demanufacture”.

“Mechanize” é um álbum que consegue harmonizar com perfeição melodia, técnica e peso.

Por falar em peso, que guitarras são essas?! E essa bateria? Dino Cazares voltou com tudo! E Gene Hoglan com sua performance monstruosa, deixou a sua marca. Diria que esses dois são os maiores responsáveis pelo retorno dos elementos de Death Metal à sonoridade do Fear Factory, deixando um pouco de lado o “groove”, exaltando mais a pancadaria mesmo.

A faixa-título abre o álbum de forma matadora, deixando bem clara a pedrada que está a caminho. Para além desta, meus maiores destaques vão para “Industrial Discipline” “Powershiftter” e “Controlled Demoliton” (nessas duas últimas de ressaltar a perfeita harmonia entre peso, melodia e o vocal Burton, variando do extremo ao limpo com maestria).

“Mechanize” deve ter sido o álbum que mais escutei em 2010. Não foi por acaso. Não é só um dos melhores álbuns do ano, eu diria que é um dos melhores álbuns já lançados nos anos 2000.


We’re Here Because We’re Here – Anathema

7 anos. Longos 7 anos separaram o ultimo álbum de inéditas do Anathema, “A Natural Disaster”, de seu novo lançamento, “We’re Here Because We’re Here”. Valeu a pena!

O Anathema é uma banda com trajetória bastante curiosa: uma das pioneiras e maiores destaques do “Death/Doom Metal”, foi passando por uma metamorfose musical a partir do álbum “Eternity” (1996), onde a influência de Pink Floyd começou a aflorar, até chegar ao “Atmospheric Rock”, onde os elementos de Heavy Metal praticamente não se fazem notar, dando espaço para as nítidas influências de Pink Floyd, Radiohead, Porcupine Tree, Portishead etc.

Se eu tivesse que resumir “We’re Here Because We’re Here” em apenas uma palavra, eu diria: belíssimo. É mesmo assim que este álbum pode ser definido: pela beleza marcante de suas canções, pelo encanto de suas letras – a perfeita harmonia entre melodias cativantes e letras tocantes.

“Dreaming Light” (“Suddenly life has new meaning / Suddenly feeling is being /And you shine inside / And love steals my mind like the sunrise / Dreaming light of the sunrise…”) já pode ser colocada na lista das mais belas canções que o Anathema compôs. Certamente figura entre as minhas músicas preferidas da banda, ao lado de clássicos como “A Dying Wish”, "Fragile Dreams”, “One Last Goodbye” e ”Temporary Peace”.

Além de “Dreaming Light”, posso citar também como pontos altos do álbum (embora seja complicado, por ser tão equilibrado e bem harmonizado) “Everything”, “Angels Walk Among Us” (com participação de Ville Valo, HIM) e “A Simple Mistake”.

A longa espera de sete anos foi recompensada com um belíssimo álbum. Contudo, o Anathema não precisa nos fazer esperar tanto tempo para nos presentear com suas fantásticas canções.

Exhibit B The Human Condition – Exodus

Desde quando retornaram em 2004, com o clássico “Tempo of the Damned”, o Exodus presenteia os fãs de Thrash Metal com clássicos atrás de clássicos. É sério, não há um álbum sequer de 2004 para cá que não entre direto para a galeria dos melhores álbuns da banda e não só. Chego ao ponto de dizer (embora saiba que isso contrarie muitos saudosistas): esse Exodus do Séc. XXI é a melhor versão da banda.

“Exhibit B The Human Condition” é o quarto lançamento da banda após o seu retorno e, como já falei no parágrafo anterior, é mais um que já nasce clássico.

Rob Dukes é, definitivamente, o melhor vocalista que já passou pela banda. Eu já havia dito isto após escutar o “Shovel Headed Kill Machine” (2005), mas não há nada como o tempo para consolidar uma ideia: se em 2005 eu arrisquei ao pensar desta forma, passados cinco anos e três álbuns depois, afirmo sem a menor preocupação de falhar – é mesmo o melhor, na medida em que soa muito mais agressivo que seus predecessores e se encaixa perfeitamente no Thrash Metal modernizado a que a banda se propõe a executar.

“Exhibit B The Human Condition” tem tudo o que você procura ouvir do Exodus, riffs potentes e agressivos; solos bem encaixados e diretos; e um grandíssimo trampo de cozinha.

Muito difícil apontar apenas algumas músicas, contudo faço menção a “Downfall”, "The Ballad of Leonard and Charles," "Beyond The Pale” e "Burn, Hollywood, Burn".

At The Edge Of Time – Blind Guardian

Sou fã dos cinco primeiros álbuns do Blind Guardian, do “Battalions of Fear” ao épico, e melhor álbum de todos, “Imaginations From the Other Side”. “Nightfall in Middle-Earth” sempre me soou apenas como um album “legal”, pois é nele que a banda deixa de lado os riffs mais agressivos (aquela marca do “Speed Metal” dos primórdios) e começa a se direcionar para algo mais Power Metal e Progressivo – salvo “Mirror Mirror”, não consigo lembrar de nenhuma música deste álbum. Já os dois seguintes, “A Night at the Opera” e “A Twist in the Myth”, não me agradaram em nada; a tal ponto de eu considerar a banda como “acabada” para mim.

Pois bem, eis que chego ao ponto de como descobri a existência de “At The Edge Of Time”. Foi totalmente por acaso. Fui ao Myspace da Nuclear Blast, na altura em que soube que o Sepultura havia assinado com a gravadora. Lá me deparei com o vídeo de “A Voice in the Dark” – vi/escutei e achei muito bom. Foi assim que que soube que o Blind Guardian tinha um novo álbum e, por conta do clipe, resolvi dar uma chance à banda, pois notava um certo retorno ao passado que eu sempre gostei bastante.

Não me arrependi! “At The Edge Of Time” é mesmo uma espécie de rendição do Blind Guardian após dois álbuns chatíssimos. É um álbum que me fez recordar os bons e velhos tempos de “Somewhere Far Beyond” e “Imaginations From the Other Side”.

Em “At The Edge Of Time” o Blind Guardian conseguiu harmonizar novamente agressividade com melodias e orquestrações. E isso nota-se perfeitamente em “A Voice in the Dark”, “Tanelorn (Into the Void)”, “Ride into Obsession” e “Sacred Worlds”.

Obviamente “At The Edge Of Time” não está entre os melhores da banda, mas é um álbum que nos permite dizer perfeitamente “bem vindo de volta, Blind Guardian”.

Audio Secrecy – Stone Sour

“Audio Secrecy” é o terceiro álbum de estúdio do Stone Sour, banda que conta com Corey Taylor, Jim Root (vocalista e guitarrista do Slikpnot, respectivamente) e Roy Mayorga (que excursionou com o Sepultura em 2006, após a saída de Iggor Cavalera).

Conheci o Stone Sour através do álbum “Come What(ever) May” e gostei desde a primeira audição, torando-me fã da versatilidade do vocalista Corey Taylor – dono de uma bela voz, variando entre o vocal limpo e algumas pitadas de vocal agressivo (mas diferente do que ele nos acostumou no Slipknot, é importante ressaltar).

“Audio Secrecy” não traz muitas mudanças em relação ao seu antecessor. O que é muito bom! Trata-se de um álbum de Rock, ora flertando com o Hard Rock, ora flertando com o que podemos denominar de “Radio Rock” (aquele Rock de melodia pegajosa que toca facilmente em qualquer FM).

Stone Sour é uma banda de bons músicos e que faz Rock de primeira qualidade. Com destaque para a voz de Corey Taylor – confesso que prefiro escutá-lo no Stone Sour do que no Slipknot (talvez por isso eu goste mais dos álbuns mais recentes do Slipknot, pois são mais pesados e com melodias mais bem trabalhadas que os primeiros e têm um Corey Taylor sem medo de explorar os vocais limpos, em especial o mais recente, “All Hope Is Gone” – o melhor do Slipknot). Mas também não posso deixar de mencionar as boas linhas de guitarra e a excelente performance de Roy Mayorga.

Tendo que mencionar algumas músicas, listo: “Mission Statement”, “Say You’ll Haunt Me”, “Dying”, “Let’s Be Honest”, “Unfinished” e “Nylon 6/6”.

Para quem curte Rock e, especialmente, para aqueles que queiram escutar um Corey Taylor completamente diferente, “Audio Secrecy” é uma excelente pedida.

Discipline Of Hate – Korzus

A minha reação inicial ao escutar as primeiras músicas de “Discipline of Hate” foi, com o perdão da repetição literal, “PQP! Que som é esse?!”. Acho que só isso resume toda a minha opinião sobre este álbum.

Não conheço muita coisa do Korzus. Escutei uma coisa outra antiga e devo ter ouvido o “Ties of Blood” duas vezes. Cobri o Abril Pro Rock de 2007 e achei a apresentação dos caras muito boa! Mas fiquei por aí.

O que posso dizer sobre o “Discipline of Hate”? Que é um dos melhores álbuns nacionais dos últimos tempos; que é um dos melhores álbuns Thrash Metal deste século; e que certamente é um trabalho que não deixa a desejar em nada se comparado com os grandes nomes internacionais do gênero.

Em termos musicais, temos um Thrash Metal atual, com claras influências de Slayer (riffs e, evidentemente, o vocal de Marcelo Pompeu) e algumas passagens que me lembram Testament (o álbum “The Gathreing”, por exemplo), Exodus (pelos riffs) e Machine Head (mais recente).

No que toca à produção, impossível deixar de mencionar a impecável qualidade do trabalho de Heros Trench e Marcelo Pompeu.

“Discipline of Hate” marca a estreia de Antonio Araújo (ex-ChaoSphere, para mim a melhor banda de Heavy Metal pernambucana de sempre), um músico de excepcional qualidade.

Músicas que destaco: “Discipline of Hate”, “Truth”, “2012” e “Slavery”.

Order Of The Black – Black Label Society

Zakk Wylde é, sem dúvidas, um dos maiores guitarristas do Heavy Metal da atualidade. Para mim, foi o melhor guitarrista que passou pela banda solo de Ozzy Osbourne depois, claro, de Randy Rhoads. E antes do Black Label Society ele lançou um álbum com o Pride & Glory que é muito bom, algo como um Lynyrd Skynyrd modernizado e muito mais pesado.

No Black Label Society, Zakk Wylde de 1999 a 2006 lançou, praticamente, um álbum de inéditas a cada ano – foram seis em sete anos. “Order Of The Black” é o de maior hiato entre um álbum e outro: longos quatro anos.

Embora não possa apontar como o melhor lançamento da banda, “Order Of The Black” é um álbum que traz todos os atributos já conhecidos do Black Label Society, como já é costume, Zakk Wylde mantém suas características de sempre: bons e empolgantes riffs de guitarra; solos de guitarra interessantes; algumas baladas e/ou músicas mais melancólicas; e as nítidas e inegáveis influências de Southern Rock, Pantera (agressividade e “groove”) e Black Sabbath (aquele clima bem setentista, trazido por um quê de Sludge).

“Crazy Horse”, “Overlord”, “Black Sunday” “Southern Dissolution” e a balada “January” são algumas das músicas que destaco. Além do cover de Simon & Garfunkel, “Bridge Over Troubled Waters” – muito bom!

Hvbris I &I I – Andreas Kisser

Sei bem que o primeiro álbum solo do Andreas Kisser (Sepultura) foi lançado em 2009. Porém, no Brasil o seu lançamento só ocorreu em 2010 (quanto tempo tive que esperar para poder comprar o CD!) e, ante a escassez de bons lançamentos em 2010, resolvi colocar o Hvbris I & II na lista.

Em seu trabalho solo, Andreas se desprende totalmente de rótulos e explora todas as suas influências musicais, que vão do Heavy Metal (o óbvio), passando pelo Rock, Blues, Flamenco, Música Clássica e variados estilos musicais brasileiros.

O álbum é duplo. O primeiro é dedicado à guitarra, de onde se destacam: “Eu Humano” (primeira música que escutei e uma das minhas preferidas desde então), “God's Laugh”, “Virgulandia” (cuja letra faz crítica pertinente à realidade política nacional e conta com participação de Rappin Hood), “R.H.E.T.” (com um dos melhores solos de guitarra do disco), “Em Busca do Ouro” (que narra a corrida pelo ouro no Brasil, não esquecendo a exploração e o sofrimento pelos quais muito tiveram que passar; a participação de Zé Ramalho não podia ser mais do que ideal para esta música), “Lava Sky" e "A Million Judas Iscariotes”.

O segundo disco é mais voltado ao violão clássico, instrumento a que Andreas dedica estudo há muitos anos. “Sad Soil” é a abertura perfeita – instrumental belíssimo, combinando solo de guitarra com uma base de violão.

Além de “Sad Soil”, também destaco “World’s Apart”; “Breast Feeding” (onde se notam influências de Flamenco e ritmos percussivos latinos); “Page” (você já escutou “Kaiowas”, do Sepultura? Pois bem, acredito que essa poderia ser considerada uma espécie de continuação natural da música do Sepultura); “Domenicana” (introspectiva e melancólica); “Vivaldi” (a veia erudita de Andreas) e “0120” (mais uma vez a veia erudita de Andreas a ganhar contornos, em uma belíssima canção).

Quem for escutar o álbum solo do guitarrista do Sepultura à espera de qualquer semelhança com a maior banda brasileira de todos os tempos, é melhor ou desistir ou se preparar para algo bem diferente. Em “Hvbris I & II”, Andreas Kisser mostra toda a sua versatilidade nas guitarras e violões, trazendo aos fãs do Sepultura e de Heavy Metal características bem distintas das que ele nos acostumou em sua carreira na banda.

Expectativas para 2011

Em termos musicais, minha maior expectativa é o novo álbum do Sepultura, a ser lançado ainda no primeiro semestre de 2011, via Nuclear Blast. Não tenho a menor dúvida de que será um dos melhores álbuns do próximo ano e que 2011 será muito proveitoso para a banda.

Também estou no aguardo do novo álbum do Moonspell. Mas faz tempo que não vejo nenhuma notícia por parte da banda - Nova gravadora? Composições em andamento? Quando entram em estúdio?

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Títulos do futebol brasileiro: unificação e muitas polêmicas

Antes de qualquer coisa, antecipo a minha posição: sempre fui favorável à unificação dos títulos nacionais; o devido reconhecimento dos campeões dos torneios nacionais como campeões brasileiros tais quais os campeões a partir de 1971.

Inclusive, sempre questionei por qual motivo a CBD, ao criar o “Campeonato Nacional de Clubes” em 1971, não oficializou, naquela altura, que a Taça Brasil e, depois, a Taça de Prata eram os campeonatos nacionais e que aquele torneio surgido em 1971 era uma mera continuidade da principal competição de clubes do país. Teria sido muito mais simples.

A CBF também poderia ter simplificado. A partir do momento em que a CBF substituiu a CBD e assumiu, então, a responsabilidade pelo futebol brasileiro, tendo, também, assumido as glórias da seleção brasileira da CBD (três títulos da Copa do Mundo, por exemplo), aquela entidade bem que poderia ter oficializado a unificação dos títulos dos torneios pré-1971 com os pós-1971.

Mas todos nós sabemos que simplificação, objetividade e, muitas vezes (ou seria na maioria das vezes?), lógica não imperam nas decisões dos nossos dirigentes de futebol. E esta é uma característica que acompanha o futebol nacional ao longo de sua existência.

Em suma, acho que a decisão da entidade máxima do futebol brasileiro pode ser considerada como “mais vale tarde do que nunca”. Ou seja, finalmente a CBF fez aquilo que já deveria ter sido feito há muitos anos. E, mesmo que com ressalvas, a decisão da CBF foi no mesmo sentido daquilo que eu sempre defendi.

Taça Brasil

A Taça Brasil foi criada em 1959 pela CBD, então responsável pelo futebol brasileiro. Foi o primeiro torneio a nível nacional do país, com um objetivo claro: apontar o representante brasileiro na Copa Libertadores da América.

Portanto, a Taça Brasil era o principal campeonato de clubes do país e o seu campeão representava o futebol brasileiro na principal competição interclubes da América do Sul. O campeão da Taça Brasil era o “campeão do Brasil”.

Ante o exposto, onde está a enorme dificuldade em reconhecer o campeão da Taça Brasil como campeão brasileiro?

O campeão brasileiro não é aquele que ganha o torneio nacional mais importante?

E o que era a Taça Brasil senão o torneio nacional mais importante?

Alguns críticos dizem que a Taça Brasil é “irmã mais velha da Copa do Brasil” e, portanto, não poderia ser reconhecida como campeonato brasileiro.

Taça Brasil x Copa do Brasil

O que nós temos que observar sempre é a importância e a finalidade das competições em análise.

Não é correto afirmar que a Taça Brasil é a antecessora da Copa do Brasil, ao invés de ser sucessora do Campeonato Brasileiro. Passo a explicar.

A Copa do Brasil, ao contrário da Taça Brasil, nunca foi o principal torneio de clubes do país. Deste fato inequívoco, é possível tirarmos duas conclusões:

Importância: a Taça Brasil era o torneio mais importante do futebol brasileiro; enquanto que a Copa do Brasil, desde o seu surgimento, sempre foi o segundo torneio nacional em hierarquia (ou seja, abaixo do Campeonato Brasileiro).

Finalidade: a Taça Brasil surgiu para apontar o campeão do Brasil, que, como tal, seria o representante do país na Libertadores da América; a Copa do Brasil, por sua vez, surgiu com a finalidade ser a segunda competição do cenário nacional, assim como as copas nacionais na Europa, que não se confundem com os campeonatos/ligas – o fato de a Copa do Brasil conceder vaga na Libertadores não a torna a competição mais importante do país, pois o Campeonato Brasileiro nunca o deixou de ser.

Tostão escreveu recentemente Sinto-me campeão do Brasil desde 1966, quando o Cruzeiro ganhou a Taça Brasil, já que era o mais importante título nacional”.

Embora o genial Tostão se mostre publicamente indiferente à unificação dos títulos, ele mesmo fornece um argumento para que haja tal reconhecimento – “sinto-me campeão do Brasil”.

Alguém pode me dizer quem é o campeão do Brasil, por favor?

O campeão do Campeonato Brasileiro ou o campeão da Copa do Brasil?

Pois é, isso mesmo... É o campeão do Campeonato Brasileiro.

O mesmo raciocínio deve ser feito em relação ao “era o mais importante título nacional”.

Alguém diz qual é o mais importante título nacional? O do Campeonato Brasileiro ou o da Copa do Brasil?

Novamente, não restam dúvidas, o mais importante é o do Campeonato Brasileiro.

Havia algum título nacional mais importante que o da Taça Brasil?

Não.

O campeão da Taça Brasil era o campeão do Brasil?

Sim.

Acredito que não restam dúvidas de que é impossível confundir a Taça Brasil com a Copa do Brasil.

São torneios diferentes, pois tinham/têm finalidades e importâncias completamente diferentes, sendo, reitero, impossível de serem confundidas.

Diante disto, afirmamos que a Taça Brasil é sim uma antecessora do Campeonato Brasileiro.

Roberto Gomes Pedrosa / Robertão / Taça de Prata

Ao contrário da Taça Brasil, a qual eu aceito com tranquilidade e naturalidade, em relação ao Robertão, tenho certas ressalvas.

A primeira é a abrangência da competição.

A Taça Brasil reunia os campeões de todos os estados brasileiros e, por isso, tinha uma verdadeira abrangência nacional.

O Robertão, por sua vez, foi uma ampliação do torneio Rio-São Paulo.

Em sua primeira edição, organizada em 1967, a competição teve representantes de apenas 5 estados: Guanabara, São Paulo, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Paraná. Era um “Rio-São Paulo” misturado com “Sul-Minas” e organizado pelas federações carioca e paulista.

Honestamente, tenho enormes restrições a aceitar um torneio com estas características como um “campeonato brasileiro”. Primeiro por não ter sido organizado pela CBD, entidade máxima do futebol nacional na altura; segundo por ter abrangência restrita a Rio-São Paulo-Sul-Minas.

Para mim, apenas a Taça Brasil de 1967 deveria ter sido reconhecida como antecessora do Campeonato Brasileiro e, desta forma, o Palmeiras ter apenas reconhecido um título em 1967 (o da Taça Brasil) e não os dois (Taça Brasil e Robertão), como fez a CBF.

Em 1968 a CBD passou a organizar a competição, que ficou conhecida por Taça de Prata. A sua abrangência foi ampliada para 7 estados, tendo sido convidados clubes da Bahia e Pernambuco.

Como a Taça Brasil teve sua última edição em 1968 e era muito mais ampla em abrangência que a Taça de Prata, continuo a entender que, neste ano, apenas o campeão da Taça Brasil – Botafogo – deveria ser reconhecido como “campeão brasileiro” e não os dois campeões – Taça Brasil (Botafogo) e Taça de Prata (Santos).

Com relação a 1969 e 1970, uma vez que a Taça Brasil fora extinta e embora a Taça de Prata continuasse a ter representantes de apenas 7 estados, por essa última ser a única competição nacional de clubes, eu já entendo que é possível e aceitável a unificação dos títulos destas duas edições. Nesse caso, vejo com naturalidade Palmeiras e Fluminense como campeões brasileiros.

Logo, em relação à unificação, a minha posição sempre foi: reconhecer os títulos da Taça Brasil de 1959 a 1968 e da Taça de Prata de 1969 e 1970 como de “campeões brasileiros”, compreendendo estes torneios como antecessores do Campeonato Brasileiro (este sendo uma continuidade daqueles).

Entretanto, creio que a CBF tenha optado pelo caminho mais fácil, a saber, unificar tudo, para não ter o trabalho de explicar as especificidades de cada competição.

Alguns argumentos daqueles que são contrários à unificação

Aqueles que são contrários à unificação dos títulos, por vezes, recorrem a alguns argumentos que são muito simples de serem rebatidos, senão vejamos.

a) “O nome da competição” – O importante não é o nome, mas sim a importância e a finalidade da competição, como já foi dito anteriormente. Ademais, em relação ao nome, e, ao contrário do que alguns podem pensar, o próprio “Campeonato Brasileiro” já teve várias denominações ao longo de sua existência:

1971 a 1974 – Campeonato Nacional de Clubes

1975 a 1980 – Copa Brasil

1981 a 1983 – Taça de Ouro

1984 – Copa Brasil

1985 – Taça de Ouro

1986 – Copa Brasil

1988 – Copa União*

1989 – Campeonato Brasileiro

1990 a 1999 – Campeonato Brasileiro Série A

2000 – Copa João Havelange

2001 – Campeonato Brasileiro

2002 – Campeonato Brasileiro Série A

*Em 1987 também se chamava Copa União, mas este não é oficial pela CBF (questão a ser abordada mais à frente).

b) “A fórmula da competição não é a mesma” – Sinceramente, eu não sei como alguém é capaz de afirmar isso. Completa ignorância? Má-fé? Não consigo compreender.

Alguém é capaz de numerar quantas fórmulas (e viradas de mesa pelo meio do caminho) o Campeonato Brasileiro já conheceu? A quantidade não saberia responder de cabeça, mas sei que já tivemos várias fórmulas diferentes do Campeonato Brasil – a mais estável é a dos “pontos corridos”, a partir de 2003.

Ademais, se não bastassem a enorme instabilidade das fórmulas dos campeonatos, que mudavam constantemente de uma edição para outra, nós tivemos alguns episódios de mudanças de regulamentos no decorrer da competição e, claro, as famigeradas “viradas de mesa”, que eram típicas do nosso futebol.

Mas você já viu alguém dizer que, por exemplo, o Campeonato Brasileiro de 1993, ganho pelo Palmeiras, não é legítimo por ser consequência da virada de mesa que beneficiou o Grêmio e o puxou de volta à primeira divisão? Para não falar daquele regulamento protecionista, segregacionista, feito para proteger os “grandes”. Alguém diz que o Brasileiro de 1993 não pode ser considerado como tal?

Mais um exemplo: o campeonato de 1997 (Vasco campeão) deixou de ser legítimo por ser consequência da virada de mesa que beneficiou o Fluminense em 1996 e o impediu de ser rebaixado à Série B?

O meu ponto é: se um campeonato que é marcado por edições com regulamentos distintos ao longo do tempo e também é manchado por viradas de mesa que desrespeitam a ética e o mérito esportivo, não é questionado em sua legitimidade, por qual razão algumas pessoas têm a desfaçatez de dizer “a Taça Brasil e a Taça de Prata tinham regulamentos diferentes do Brasileiro”?

Não é possível. É inconcebível.

Esse argumento não se sustenta.

c) “Número de jogos” – Chegamos a um ponto tão contestado por aqueles que são contrários, principalmente, ao reconhecimento da Taça Brasil como legitima antecessora do Campeonato Brasileiro.

Dizem que não é possível um clube ser campeão brasileiro com tão poucos jogos disputados.

Primeiro, essas pessoas ignoram que os campeonatos estaduais serviam de qualificação para a Taça Brasil e, por conseguinte, pode-se considerar os estaduais como uma fase preliminar – tal qual acontece na Copa do Mundo da FIFA, em que as eliminatórias são consideradas como fase preliminar.

Todavia, mesmo que consideremos apenas os jogos da fase Taça Brasil, ignorando os estaduais, esse argumento não se sustenta.

Odir Cunha, responsável pelo dossiê que fomentou a decisão da CBD, sempre lembra que o Genoa ganhou seus dois primeiros campeonatos italianos (1898 e 1899) disputando, em cada ano, apenas dois jogos. Ninguém na Itália desqualifica as conquistas do Genoa, que tem, ao todo, 9 títulos italianos (o último em 1923/24).

Além disso, Odir Cunha lembra que o Palmeiras poderia ter sido campeão brasileiro de 1979 disputando apenas 7 jogos. Este campeonato que, lembremos, não contou com a participação de clubes como Santos, São Paulo e Corinthians (que queriam ter o direito de entrar na terceira fase da competição, tal qual Guarani e Palmeiras).

O Palmeiras foi quarto colocado do campeonato de 1979 disputando apenas 5 jogos. Sabem quantos jogos fez o Náutico em 1965 e 1966 para ser terceiro colocado em ambas as edições da Taça Brasil? 7 e 8, respectivamente.

Ou seja, o Náutico fez mais jogos nas Taças Brasil de 1965 e 196 que o Palmeiras no Campeonato Brasileiro de 1979, para atingirem a mesma fase – semifinal.

O Palmeiras, se tivesse ido à final do Campeonato Brasileiro de 1979 e se sagrasse campeão, teria realizado 7 jogos. O Náutico, se tivesse ido à final da Taça Brasil de 1965, teria feito 9 ou 10 jogos para ser campeão; e se tivesse ido à final de 1966, teria feito 10 ou 11 jogos para ser campeão.

Como se vê, mais uma vez os argumentos dos que são contrários à unificação dos títulos não se sustentam ante uma breve análise da realidade dos fatos.

Os números de jogos, como foi provado acima, não é fundamento para não reconhecer a legitimidade da unificação dos títulos.

d) “Muitos grandes não participaram da Taça Brasil, enquanto vários desconhecidos passaram pela competição” – Esse é mais um argumento que visa a menosprezar a Taça Brasil mais do que o Robertão.

A meu ver, há uma lógica extremamente reprovável por trás deste argumento: a ideia nada democrática de que um grande, por ser grande, legitima a competição mais do que o mérito desportivo previsto em seu regulamento.

E digo que esta ideia não é democrática, pois a democracia pressupõe o respeito à diversidade e, acima de tudo, a busca pela isonomia; enquanto que essa visão elitista de que “sem os grandes não há legitimidade”, combina muito mais com um posicionamento oligárquico, marcado pela imposição da vontade de um pequeno grupo sobre a vontade da maioria.

Infelizmente, como veremos mais adiante, esta visão oligárquica está muito enraizada no pensamento do futebol brasileiro. Como bem sabemos, oligarquia é diametralmente oposta à democracia.

Voltando aos participantes da Taça Brasil, não há por onde se pegar neste argumento preconceituoso para que ele se justifique e não seja facilmente rebatido (para além da questão ideológica – democracia vs. oligarquia).

Primeiro, os clubes que participavam da Taça Brasil eram os campeões estaduais. Todos os campeões estaduais tinham o direito de disputar o torneio nacional. Não há maior respeito ao mérito esportivo do que este.

Sei bem que no futebol brasileiro os grandes clubes, que se fecham em seu pequeno e seleto grupo, sempre se acharam acima do bem e do mal e, diversas vezes, passaram por cima do mérito esportivo a fim de tirar benefícios próprios – as viradas de mesa que marcaram várias edições do Campeonato Brasileiro (o da CBF, que ninguém nunca questionou a legitimidade, por mais irregulares que fossem seus regulamentos ou mesmo quando os regulamentos eram rasgados). E é neste sentido que compreendo a dificuldade que alguns têm de conviver com o devido e merecido reconhecimento ao mérito esportivo.

Ao contrário de várias edições do Campeonato Brasileiro da CBF, a Taça Brasil sempre procurou respeitar aquilo que é mais importante no desporto: o mérito esportivo.

Ademais, se é para entrar na questão da “qualidade dos participantes”, não se pode deixar de mencionar, por exemplo, o Campeonato Brasileiro de 1979 e seus 94 (!!!) participantes, época em que imperava a velha máxima “onde a Arena vai mal, um clube no Nacional”.

Somente um pensamento mesquinho, preconceituoso e elitista pode justificar esse argumento de “sem os grandes clubes” ou “vários clubes desconhecidos”.

Portanto, é mais uma justificativa que não se sustenta, ante o vazio de seus argumentos. É, como se pode observar, um argumento falso, pois parte de uma falsa premissa.

Os absurdos brasileiros

É impressionante como no Brasil, quando se esgotam os argumentos, muitos partem, literalmente, para a “avacalhação”, a fim de tentar tirar credibilidade ao debate e transformar algo sério em mais uma palhaçada.

No caso da unificação dos títulos, já verificamos algumas “brincadeiras” que alguns começam a levar a sério.

1. Portuguesa de Desportos e os títulos do Rio-São Paulo de 1952 e 1955

A brincadeira que foi levada a sério pelo presidente da Portuguesa: o clube, campeão do Torneio Rio-São Paulo de 1952 e 1955 visa a pleitear junto à CBF o reconhecimento destes dois títulos como campeonatos brasileiros.

Ridículo?

Sem a menor sombra de dúvida.

Contudo, há uma lógica elitista e preconceituosa que “fundamenta” o pleito da Portuguesa, a qual, inclusive, abordei anteriormente quando falei sobre a questão da “qualidade dos clubes” que participavam da Taça Brasil.

A ideia genial por trás do pedido da Lusa é:

a) O Torneio Rio-São Paulo foi, posteriormente, alargado e se transformou no Robertão

A resposta para esse argumento é simples: o Rio-São Paulo, antes de ser alargado para Robertão, apenas visava a apontar o melhor clube entre os dois estados. Jamais objetivou, e nem podia, apontar o “campeão do Brasil”.

É a tal questão da finalidade, por mim abordada logo no começo do texto.

O Torneio Rio-São Paulo, anterior ao Robertão (não se pode esquecer esta distinção) tinha qual finalidade?

Reunir os clubes do Rio de Janeiro e de São Paulo, para apontar, entre os dois, qual tinha o melhor clube.

Era, portanto, um torneio interestadual. Nunca foi um torneio de amplitude nacional.

Querer transformar isso em “campeonato brasileiro” é absurdo. Um absurdo, contudo, que tem a tal visão elitista por trás.

b) O Torneio Rio-São Paulo reunia os melhores clubes do Brasil

O que pode fundamentar tal opinião de que os melhores clubes brasileiros se encontravam no Torneio Rio-São Paulo senão o egocentrismo de se acharem o centro do universo e de que todo o Brasil gira em torno destes dois “grandes expoentes” nacionais?

É uma visão centralista, prepotente, elitista: “Somos o centro das atenções; somos os maiores; somos os melhores; somos os legítimos; somos, afinal, o poder”.

O Brasil é um país desigual e excludente. Muito por culpa do centralismo (egoísta) de estados como Rio de Janeiro e São Paulo e, também, da subserviência (por lhes ser conveniente) das elites das demais regiões do país (o que, inclusive, explica, de certa forma, o ponto seguinte a ser abordado).

Essa desigualdade também se reflete em nosso futebol.

Há uma clara e inequívoca segregação, onde um pequeno e seleto grupo de privilegiados toma conta do poder (de decisão e, principalmente, econômico) do nosso futebol.

É este pensamento elitista e segregacionista que se encontra por trás do argumento daqueles que afirmam – “O Torneio Rio-São Paulo reunia os melhores clubes do Brasil”.

Mas basta um único exemplo para pôr abaixo a arrogância e prepotência elitista: o primeiro campeão da Taça Brasil foi o nordestino Bahia.

O primeiro campeão do Brasil não foi um clube do centro do universo brasileiro, o seleto grupo que se acha acima de tudo e de todos. Foi um clube do Nordeste, o Esporte Clube Bahia.

Portanto, podemos concluir que, para além de preconceito, ignorância, prepotência e elitismo, nada mais sustenta o argumento de que o Torneio Rio-São Paulo possa ser equiparado ao Campeonato Brasileiro (parece absurdo, mas no país em que vivemos, tão desigual e excludente, é mesmo fazer essa contraposição).

2. Sport Recife e o Torneio Norte-Nordeste de 1968

Honestamente, eu não sei se dou uma enorme gargalhada ante a subserviência ou se fico completamente indignado ao ver pessoas de Pernambuco repercutirem uma ideia ridícula e absurda apenas para ter benefício a um clube local (conveniência).

a) Subserviência e Conveniência

Se a Portuguesa se acha no direito de reconhecer o Rio-São Paulo como “campeonato brasileiro”, o Sport Recife, campeão do Norte-Nordeste de 1968 também teria este mesmo direito, afinal a lógica é a mesma – era um torneio regional.

O problema está aí: a consciência de que se trata de um torneio regional e, mesmo assim, repercute-se a ideia elitista do eixo Rio-São Paulo sem se fazer a devida análise crítica do que está por trás desta visão.

É que, como já foi exposto anteriormente, o que fundamenta o pleito da Portuguesa não é o reconhecimento a um torneio regional, mas sim o reconhecimento da superioridade de Rio-São Paulo em relação aos demais centros do país.

É a ideia de “somos maiores que todos os outros, logo, o nosso torneio interestadual deveria ser reconhecido como um torneio nacional”.

E o que se faz por estes lados pernambucanos? Critica-se o pensamento prepotente e preconceituoso por trás deste pedido da Portuguesa?

Não! Pelo contrário, aproveita-se deste fato para, sem entrar no mérito do preconceito implícito, tirar proveito próprio.

É a subserviência por conveniência.

Ao invés de se combater o absurdo fundamentado no elitismo preconceituoso, omite-se quanto a isto e tenta se juntar à “festa” – se um torneio for reconhecido, por qual motivo o outro não seria também?

Ou seja, dane-se se o pensamento da Portuguesa denota certo preconceito e arrogância, o que importa é: se eles conseguirem, também quero um pedaço deste bolo.

É um problema crônico brasileiro: se não posso com eles, juntar-me-ei a eles, mesmo que me restem apenas as migalhas. A indignação só existe quando se está de fora. É uma indignação seletiva, de acordo com a conveniência.

b) Finalidade do Torneio Norte-Nordeste

Ultrapassada a questão do que está por trás da ideia de tentar equiparar o Norte-Nordeste ao campeonato brasileiro, vamos ao óbvio.

Qual era a finalidade do torneio em questão?

Apontar o campeão do Brasil?

Não!

Movimentar o futebol do Norte-Nordeste, em específico os clubes que da região que estavam de fora da Taça de Prata (o torneio “nacional”)?

Sim.

Como era conhecido o campeão deste certame?

Campeão do Norte-Nordeste.

Elementar.

Resta mais alguma dúvida do absurdo e do ridículo que se torna querer discutir uma eventual equiparação deste título junto à CBF?

Creio que não.

Unificação dos títulos nacionais x Copa União de 1987

Mais uma vez o Flamengo tentou (e, segundo sua presidenta, ainda tentará) que o título da Copa União de 1987 fosse reconhecido oficialmente como título de campeão brasileiro.

Grande parte da imprensa do Rio de Janeiro e de São Paulo também fez e faz forte pressão neste sentido, na maioria das vezes criando uma enorme confusão a respeito deste episódio da história do futebol brasileiro.

Flamengo e a imprensa do eixo Rio-SP pensavam que a unificação dos títulos nacionais de 1959 e 1970 era a mesma coisa que reconhecer o título de 1987, como se se tratassem de fatos idênticos, logo, se houvesse a unificação dos títulos, deveria haver, também, o reconhecimento de 1987.

Obviamente que não é assim.

A começar pelo fato de que os torneios nacionais de 1959 a 1970 possuem uma realidade completamente diferente da Copa União de 1987.

A Taça Brasil e, posteriormente, o Robertão foram organizados pela CBD, na altura o órgão máximo pelo futebol nacional.

A Copa União de 1987, por sua vez, foi organizada pelo Clube dos Treze, associação privada, que tem por objetivo a defesa dos interesses de seus associados.

Fundado em 11 de julho de 1987, por treze clubes brasileiros (denominados “fundadores”, art. 7º, §1º, Estatuto do Clube dos Treze) - São Paulo, Palmeiras, Corinthians, Santos, Flamengo, Fluminense, Vasco, Botafogo, Cruzeiro, Atlético-MG, Internacional, Grêmio e Bahia – o Clube dos Treze surgiu em um momento conturbado do futebol brasileiro, em que a CBF se encontrava em um completo caos financeiro e administrativo.

A ideia por trás do Clube dos Treze era de propor uma nova forma de se olhar para o futebol e de se administrar o negócio do futebol no Brasil. Embora, evidentemente, visando sempre à proteção de seu seleto grupo de clubes membros, em detrimento de todos os outros.

O primeiro passo do Clube dos Treze foi a organização da Copa União de 1987, após a CBF anunciar que não teria condições de organizar o campeonato brasileiro.

Acontece que a CBF, posteriormente, resolveu organizar o campeonato brasileiro. Lembremos sempre que o órgão competente e legítimo para organizar os campeonatos de futebol no Brasil era (e ainda é) a CBF.

A entidade máxima do futebol nacional procurou fazer um acordo com o Clube dos Treze, prevendo o cruzamento dos 2 melhores classificados de cada “módulo” para definir o campeão brasileiro de 1987. Tal acordo chegou a ser assinado por Eurico Miranda, então interlocutor do Clube dos Treze na CBF.

Ao fim da Copa União, o Flamengo, campeão, recusou-se a disputar o cruzamento previsto pelo acordo entre CBF (entidade máxima do futebol nacional) e Clube dos Treze (associação privada que defende exclusivamente os interesses de seus associados).

O Flamengo ainda tentou mudar o regulamento da competição junto ao Conselho Arbitral dos clubes, a fim de excluir o cruzamento e ser declarado campeão brasileiro. Contudo, tal mudança teria que ser aprovada por unanimidade, o que não aconteceu. Votaram contra: Sport, Guarani (os dois melhores do módulo organizado pela CBF), Náutico (que participou do módulo da CBF) e dois clubes membros-fundadores do Clube dos Treze – Vasco e Fluminense.

Vendo frustrada a tentativa de mudança de regulamento e mantendo a recusa de participar do cruzamento (crente de que ganharia a disputa no “grito”, ou seja, com o forte apoio da imprensa, em especial da Globo, e o seu papel fundamental na formação da opinião pública), o Flamengo até hoje luta para ser reconhecido como campeão brasileiro de 1987.

No campo e na Justiça, o Sport Recife foi o legítimo e justo campeão brasileiro de 1987.

Em termos de Poder Judiciário, o Sport Recife tem ao seu lado uma decisão transitada em julgado do Superior Tribunal de Justiça (STJ), na qual é reconhecido como campeão brasileiro de 1987.

Juridicamente, portanto, a questão da Copa União de 1987 é completamente diferente dos torneios nacionais de 1959 a 1970. É por isso que a CBF não reconheceu (e nem pode reconhecer) o Flamengo como campeão brasileiro de 1987.

Oficialmente, o campeão brasileiro de 1987 é o Sport Recife. O Flamengo tem cinco títulos de campeão brasileiro e não seis, como gosta de dizer e grande parte da imprensa tenta fazer com que as pessoas acreditem que seja.

a) “Os maiores clubes brasileiros disputaram a Copa União”

Esse é o principal “argumento” daqueles (imprensa do eixo Rio-SP, principalmente) que defendem o Flamengo como campeão brasileiro.

Já discutimos essa visão elitista e preconceituosa anteriormente. A tal ideia de “somos os maiores, logo somos os legítimos”.

Se estivéssemos em uma oligarquia, esse argumento seria excelente. Se eles são os maiores e detêm o poder, logo, eles são a legitimidade.

Mas em democracia o raciocínio é um pouco diferente. A ideia é a de respeito às regras. A legitimidade passa pelo respeito aos órgãos juridicamente competentes.

Ademais, em esporte há algo chamado mérito esportivo.

A Copa União de 1987 excluiu, por exemplo, o Guarani, vice-campeão brasileiro de 1986.

Sei que os membros do Clube dos Treze se acostumaram, ao longo dos anos, a serem beneficiados por viradas de mesa que desrespeitavam o mérito esportivo. Foram vários os campeonatos brasileiros marcados por mudanças de regulamentos e até mesmo o arbitrário “passar por cima” das regras, a fim de beneficiar os “grandes clubes brasileiros”.

Quando alguém defende que o Flamengo é campeão brasileiro de 1987 por ter disputado o torneio que reunia os “maiores clubes brasileiros”, a lógica para mim é: será que essa pessoa também defende as viradas de mesa?

Se não defende, há algo de contraditório no pensamento destas pessoas. É que a lógica por trás das viradas de mesa é a mesma que fundamenta o reconhecimento do Flamengo como campeão brasileiro de 1987 e não apenas campeão da Copa União.

Há que ser coerente. Ou se defende a moralidade, passando pela isonomia e o respeito ao mérito esportivo, ou tenha a dignidade e coragem de se colocar como defensor de uma visão elitista o que, por conseguinte, é menos democrático e nem sempre passa pelo respeito ao mérito esportivo.

b) “A Copa João Havelange em 2000 foi organizada pelo Clube dos Treze”

É mais uma confusão que tentam fazer, em uma situação completamente distinta da Copa União de 1987.

Em 1987, o Clube dos Treze organizou a Copa União como uma forma de os clubes terem mais força diante do poder estabelecido da CBF.

Em 2000, o Clube dos Treze foi um aliado político da CBF. Um aliado conveniente à CBF, diante do impasse jurídico em que a entidade se encontrava envolvida após a ação do Gama na Justiça Comum.

Na altura, a CBF ficou dividida entre organizar o Campeonato Brasileiro sem o Gama – assim contrariando decisão Judicial – ou incluindo o Gama – assim contrariando a FIFA.

O que fez a CBF?

Abriu mão de organizar o campeonato brasileiro e deixou que o Clube dos Treze organizasse a sua competição, a qual, ao final, foi homologada pela CBF.

O que ocorreu, em 2000, foi um “drible” da CBF à Justiça e à FIFA.

Com a homologação da Copa João Havelange, Vasco e São Caetano foram indicados como representantes do Brasil na Copa Libertadores de 2001, como campeão e vice-campeão brasileiros respectivamente.

Em 1988, os representantes nacionais na Copa Libertadores foram Sport e Guarani. Indicados pela CBF como campeão e vice-campeão brasileiros.

Em resumo, CBF e Clube dos Treze foram aliados em 2000, enquanto que em 1987 se encontravam em polos opostos.

Por isso, não há como comparar a Copa João Havelange com a situação da Copa União de 1987.

c) Conclusão

No meu modo de ver, e com base no que fora exposto acima, o título da Copa União de 1987 não pode ser reconhecido como de campeão brasileiro.

Para mim é incontestável que o Sport Recife é o único campeão brasileiro legítimo em 1987.

Flamengo promete recorrer à Justiça Comum

Deixei esse ponto por último, por ser o mais polêmico, afinal envolve o clube de maior torcida do país e, também, os interesses de alguns dos maiores formadores de opinião nacionais.

Além disso, essa questão, ao que parece, ainda não terá fim.

O Flamengo promete recorrer à Justiça Comum e colocará em causa uma determinação da FIFA – que veta a clubes e federações o recurso ao Poder Judiciário para questionar decisões do órgãos desportivos competentes.

Eu, particularmente, sou contrário a essa restrição da FIFA.

Acredito mesmo que tal determinação é uma afronta à soberania do nosso Estado Democrático de Direito, na medida em que fere diretamente o “Princípio da Inafastabilidade do Controle Jurisdicional” (art. 5º, XXXV, CF/88).

Por isso, e apesar de entender que o pedido do Flamengo não encontra fundamento jurídico, confesso que aguardo por esse embate jurídico entre Flamengo x CBF, para ver qual será, em particular a reação da FIFA e como se desenvolverá toda essa questão e se a regra da entidade máxima do futebol mundial ainda se sustentará por muito mais tempo.

Jorge Nuno de Lima Pinto da Costa


Hoje, 28 de dezembro, é o aniversário do maior presidente de clubes de todos os tempos, Jorge Nuno de Lima Pinto da Costa, ou, simplesmente, Pinto da Costa.

O grande presidente do FC Porto completa hoje 73 anos de vida, sendo que há mais de 28 anos comanda o clube com maestria, acumulando títulos e glórias.

Quando assumiu a presidência do clube em abril de 1982, o FC Porto tinha em seu palmares 7 títulos de Campeão Português, 4 Taças de Portugal e 1 Supertaça “Cândido de Oliveira”.

28 anos depois, o FC Porto tem 2 títulos Mundiais, 2 títulos da Europa, 1 Taça UEFA, 1 Supertaça Europeia, 24 campeonatos nacionais, 15 Taças de Portugal e 17 Supertaças “Cândido de Oliveira”.

O Sr. Pinto da Costa é o homem responsável por levar o FC Porto ao patamar mais elevado do futebol mundial. Que fez do clube o melhor e mais bem estruturado em Portugal; hegemônico nas competições internas; um dos melhores clubes da Europa.

Em 28 campeonatos portugueses disputados sob o comando de Pinto da Costa, o FC Porto conquistou 17 títulos. Esta marca torna Pinto da Costa o presidente de clubes com o maior número de títulos nacionais conquistados, à frente, por exemplo, de Santiago Bernabéu, que em 35 anos à frente do Real Madrid, conquistou 16 campeonatos espanhóis.

O FC Porto é o clube com o maior número de títulos conquistados no Séc. XXI, como pode ser conferido em http://emanuel-junior.blogspot.com/2010/12/fc-porto-o-clube-mais-vezes-campeao-no.html. Ao fim dos 10 primeiros anos do corrente século, o clube acumula 20 títulos: 1 Liga dos Campeões, 1 Mundial de Clubes, 1 Taça UEFA, 6 Campeonatos, 5 Taças de Portugal e 6 Supertaças de Portugal.

Não é por acaso que o Sr. Pinto da Costa é tão idolatrado pelos adeptos/sócios do FC Porto, ao passo que é verdadeiramente odiado pelos invejosos, em especial aqueles mais ao Sul, naquela cidade que um dia se chamou Al-Ushbuna.

Parabéns Grande Presidente. Que venham muitos mais anos de vida e de presidência do FC Porto.

Segue abaixo a lista dos títulos de futebol conquistados pelo FC Porto ao longo dos 28 anos de presidência do Sr. Pinto da Costa:

2 Taças dos Clubes Campeões Europeus/Liga dos Campeões (1986/87 e 2003/04)
1 Supertaça Europeia (1987)
1 Taça UEFA (2002/03)
2 Taças Intercontinentais/Mundiais Interclubes (1987 e 2004)
17 Campeonatos Nacionais (um pentacampeonato – inédito e único em Portugal – 1994/95 a 1998/99; e um tetracampeonato 2005/06 a 2008/09)
11 Taças de Portugal
16 Supertaças Cândido de Oliveira