domingo, 2 de setembro de 2012

Para discutir mais seriamente o Recife


Emanuel Leite Jr.


Délio Mendes, 70 anos, é um professor universitário aposentado pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (Ufrpe). Bacharel em Ciências Sociais e Doutor em Ciência Política e Sociologia pela Universidad de Deusto (Espanha), Délio é um militante político há 54 anos que agora, de volta ao Partido Comunista Brasileiro (PCB), resolveu se lançar candidato ao cargo de vereador na Câmara Municipal do Recife. Sua candidatura tem como propósito “ocupar um pequeno espaço para falar de um novo Recife e poder discutir mais seriamente a nossa cidade”, afirmou Délio.

Conheci Délio nos tempos da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), onde fui seu aluno na disciplina de Ciências Políticas, quando cursei Bacharelado em Direito. Descobri, através do Facebook, que Délio era candidato a vereador. Entrei em contato por telefone e marquei para que nos encontrássemos em sua casa. A entrevista ficou marcada para a terça-feira, dia 28 de agosto, às 8h. Cheguei ao prédio dele pontualmente. E lá estava Délio me aguardando. “Entre, sinta-se à vontade. Vamos conversar sobre política”, convidou-me para o diálogo, como nos tempos de Unicap.

Alguns dos 54 anos de militância política de Délio foram dedicados ao Partido Popular Socialista (PPS), fundado em 1992, que pretendia ser uma continuidade renovadora do “Partidão” (PCB), após a queda do Muro de Berlim e o fim da União Soviética. “Em um primeiro momento, o PPS conseguiu exercer o seu papel de crítica na esquerda”, começou por avaliar. “Mas, infelizmente, com o tempo, o partido se dirigiu para a direita. Para mim, tornou-se muito difícil ver o PPS de braços dados com políticos que sempre combati”, analisou. “Hoje, o partido é praticamente uma linha auxiliar do PSDB”, finalizou, explicando seu rompimento com o PPS há cinco anos e retorno ao PCB.

A volta ao PCB, na avaliação do professor, foi um caminho natural, como quem volta para a casa. “Hoje o PCB é realmente o meu partido, o meu lugar. Acredito, cada vez mais, que o socialismo é o caminho a ser seguido, para consolidarmos uma sociedade comunista”, ponderou Délio.

É neste contexto ideológico, o da crítica de esquerda em um país governado “por um PT que tem áurea de esquerda, mas que, na prática do poder, não é de esquerda”, que Délio insere a sua candidatura. Ele busca, junto com a Frente de Esquerda (PCB/PSOL), “sair das discussões banais, debater a sociedade brasileira, pernambucana e, principalmente, a recifense a partir da perspectiva marxista”, sustentou.

O PCB tem como candidato à prefeitura Roberto Numeriano. O slogan da campanha da Frente de Esquerda é “O Recife tem dono. O dono é o povo”. Recentemente, quando iniciaram as transmissões dos guias eleitorais, surgiu algo curioso. Daniel Coelho, do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), apresentou um jingle em que apresenta “Recife não tem dono. O Recife é do povo”. Na visão de Délio, o PCB não deveria dar muita importância para este tema. “O que nos interessa é apresentar nossas propostas. Mostrar que estamos dispostos a debater os verdadeiros problemas do Recife”, comentou.

Para Délio, a verdadeira discussão não pode se limitar a construções de viadutos ou de ruas. “São coisas importantes, claro. Mas temos que ir além”, observou. “Por exemplo, os empresários de transporte coletivo lucram cada vez mais, enquanto o usuário, que é o trabalhador, está cada vez mais prejudicado, com um serviço precário e que piora a cada dia”, citou. Na visão dele, em nossa cidade, não se discute o problema do transporte coletivo da mesma forma como se discute o individual.

“Os pobres sempre saem perdendo no combate cotidiano. Cheias, chuvas, por exemplo. Por que os mais prejudicados sempre são as pessoas com renda menor de dez salários mínimos?”, criticou Délio, na expectativa de que o povo recifense reflita sobre as suas reais necessidades.