sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Firmes passos de um incrédulo vagante


Compreendo-me erradio no tempo e no espaço em meio a esta multidão sem face, os robôs humanos – manufaturados, alienados, desconjuntados.

É assim que sigo, passo a passo (firmes passos), por um caminho que se inicia e não sabemos quando chegará ao fim – a vida.

Rumo ao desconhecido fim. E ainda bem que assim o é.

Mas será que há mesmo um fim?

O que significa o fim?

Há quem se desespere com a ideia de chegar ao fim.

Desesperados e desamparados, refugiam-se no incorpóreo – a reconfortante ilusão de que a vida material é apenas uma etapa em nossa (suposta) longa jornada. Assim, temendo o fim, amparam-se na concepção de que o fim, na realidade, não é o término da existência, é apenas o início de uma nova viagem.

Vão em busca da luz. A certeza do brilho. A apaziguante chama – que ilumina e aquece – a tão desejada eternidade.

O que seria, afinal, essa luz?

Esperança?

Ilusão?

Falsa fagulha que cintila sedutoramente.

Falso esplendor de esperança a que se apegam os robôs humanos, a multidão sem face e identidade.

O doce sabor da ilusão manufaturada.

É a fuga desesperada à amarga realidade: A desilusão.

Deus?

“Oh Deus!” – Clamam em tons apavorados, a atemorizada suplica ao desconhecido e imaterial.

A desesperadora fuga à angustiante realidade: desilusão.

Em minha inabalável caminhada, vejo uma face refletida na poça de água formada pela chuva (ou seriam lágrimas da multidão de desiludidos?).

Paro.

Observo.

Não me reconheço neste espectro de ser humano que se apresenta ante os meus incrédulos olhos.

Incredulidade.

Não crer.

Eis a melhor forma de se fugir ao amargo e desagradável gosto da desilusão.

Só se desilude aquele que um dia se iludiu.

O incrédulo não crê.

Portanto, não se ilude.

Nenhum comentário: