domingo, 20 de dezembro de 2009

FC Porto x Benfica: uma rivalidade que vai além do futebol

Hoje, 20 de dezembro de 2009, enfrentam-se no Estádio da Luz, em Lisboa, Benfica x FC Porto, em jogo válido pela 14ª rodada da Liga Portuguesa 2009/10. Um ponto separa o terceiro colocado dos últimos 4 campeonatos, Benfica, do atual tetracampeão português, FC Porto.

FC Porto e Benfica, são, sem sombra de dúvidas, os dois maiores rivais do futebol português. Nos dias atuais, FC Porto x Benfica representa o maior clássico lusitano e este confronto traz consigo uma história que vai muito além das quatro linhas.

Devido ao jogo de hoje, volto a publicar aqui um texto sobre este grande clássico e esta enorme rivalidade. Desta vez, ao final, acrescento o histórico de confrontos (em todos as competições e apenas na Liga).


FC Porto x Benfica: uma rivalidade que vai além do futebol



Quando entram em campo para disputar aquele que é hoje o maior clássico português, FC Porto e Benfica levam para o gramado muito mais que uma rivalidade entre dois clubes de futebol. Os dois clubes representam duas cidades e duas macrorregiões: Porto x Lisboa; Norte x Sul. Este clássico representa a eterna rivalidade entre as duas maiores cidades portuguesas e cada uma representa a sua região, o Porto muito mais identificado com o Norte do que Lisboa com o Sul, por razões históricas.

Quem olha para Portugal, sem conhecer bem a sua história, pode pensar que se trata de um país igual, que todos os habitantes são parecidos e que existe uma unidade nacional. Talvez por sua dimensão, Portugal passe essa impressão. Porém, desde os tempos mais antigos, Portugal convive com uma divisão fortemente marcada por suas duas grandes cidades, e, atualmente, é no futebol que esta divisão se aflora mais e se manifesta de forma mais acentuada.

A origem de Portugal está no Norte, o Condado Portucalense. Portucale vem de Porto de Cale, a cidade do Porto. Foi do Condado Portucalense que partiu a reconquista dos territórios do Sul, ocupados pelos Mouros (mulçumanos). Lisboa só viria a ser conquistada em 1147, oito anos depois da formação do Reino de Portugal por D. Afonso Henriques e quatro anos após o reconhecimento da independência de Portugal pelo Rei de Leão e Castela, através do Tratado de Zamora.

Durante a ocupação Moura, a cidade de Lisboa se chamava Al-Ushbuna e a maioria de seus habitantes chegou a adotar a língua árabe e a religião mulçumana da minoria invasora que se constituiu como elite. Até hoje, quando alguém do Norte quer provocar os lisboetas, refere-se a estes como os “mouros”.

A partir do reinado de D. Manuel I, quando Portugal começou a se consolidar como Império, viu-se o fortalecimento centralismo português. O poder central se encontrava na capital Lisboa e um Estado absolutista, evidentemente, limitava a autonomia administrativa dos municípios, por conseguinte, Lisboa gozava de uma posição quase que hierárquica sobre as demais cidades portuguesas. O Porto sempre foi o maior expoente do inconformismo.

Chegando ao Século XX , o marco da rivalidade Porto x Lisboa é o Regime Fascista de Salazar. A política autoritária do fascista Antônio de Oliveira Salazar adotou o centralismo econômico e concentrou em Lisboa não apenas o poder político e econômico como também cultural. Salazar, grosso modo, separou Lisboa do resto do país.

No futebol não foi diferente. O "Sistema Político Fascista e Centralista-Salazarista" foi claramente favorável aos clubes de Lisboa, principalmente o Benfica, que era o mais popular. O Regime Fascista se servia das conquistas dos clubes de Lisboa e, especialmente, do Benfica para enaltecer a sua grandeza e se aproveitar da alienação das massas, usando o futebol como um meio de “entretenimento” e um escape à fome e a miséria a que levou o fascismo.

Não é por acaso que o Benfica é conhecido por “encarnados”. O vermelho sempre esteve associado ao comunismo, que, por sua vez, era antagônico ao fascismo. Logo, o Benfica não podia ser referenciado como os “vermelhos”, jamais! Por isso os benfiquistas são “encarnados”.

O FC Porto era o único clube que conseguia, apesar dos pesares, fazer frente aos de Lisboa. Por essa razão, afirmava o mítico José Maria Pedroto que um título do FC Porto valia por dois ou mais do que o de um clube de Lisboa, uma vez que não se competia em igualdade de circunstâncias.

O FC Porto, portanto, assim como a cidade do Porto, tornou-se o foco de resistência, o símbolo do inconformismo, o baluarte do Norte.

Com o fim do Regime Salarazarista, o retorno à democracia e, mais ainda, com a chegada de Jorge Nuno Pinto da Costa à presidência do FC Porto, o futebol português deu uma guinada ao Norte e, pelo menos no futebol, o Porto passou a concentrar o poder e as conquistas.

Como já foi dito, os portistas fazem questão de frisar a influência mulçumana em Lisboa e até hoje se referem aos benfiquistas como “mouros”, em tom pejorativo. Os benfiquistas, por sua vez, fazem referência à outra passagem da história de Portugal, e chamam pejorativamente os portistas de “tripeiros”.

Contudo, enquanto os benfiquistas se ofendem com a referência aos mouros, os portistas se orgulham do termo “tripeiros”. É que durante o período dos descobrimentos o Infante D. Henrique pediu aos moradores do Porto alimentos de todo tipo, ficando a população unicamente com as tripas.

Para os portistas, como bons portuenses e habitantes do Norte, essa passagem representa mais uma referência de seu nacionalismo e patriotismo, o amor e a entrega a Portugal.

Não à toa, a torcida Super Dragões entoa nos estádios “Tripeiro eu sou /
E tenho o Porto no meu coração...”, além de puxar o grito “Quem bate palmas é tripeiro (palmas), é tripeiro (palmas), é tripeiro (palmas)”.

No que tange às torcidas, essa rivalidade pode ser verificada nos confrontos entre os Super Dragões (FC Porto) e No Name Boys (Benfica).

Em 2008, suspeita-se que integrantes dos No Name Boys incendiaram um ônibus dos Super Dragões, que havia se deslocado a Lisboa para assistirem à decisão do campeonato português de hóquei em patins. Neste mesmo dia ocorreram confrontos violentos entre as duas torcidas, após emboscada dos No Name Boys aos Super Dragões na saída de Lisboa (fala-se que, supostamente, os benfiquistas contaram com a ajuda da polícia, isto é objeto de investigação por parte do Ministério Público português).

Do lado do FC Porto, até certo tempo os Super Dragões tinham um cântico não muito pacífico em referência a Lisboa. Cantavam com orgulho, especialmente nos jogos na capital: “Nós só queremos Lisboa a arder / Lisboa a arder / Lisboa a arder / Nós só queremos Lisboa a arder / Lisboa a arder...”. Já não cantam mais, porém não se pode deixar de fazer menção à tamanha demonstração de amor e apreço pela capital do seu país.

Enfim, a título de conclusão, podemos afirmar que quando Benfica e FC Porto entram em campo para se defrontarem, pisam no gramado não apenas para uma disputa de futebol. Benfica e FC Porto levam consigo a paixão e o ódio de duas cidades e uma rivalidade quase milenar.

O Benfica, clube mais popular de Portugal, vestido de “encarnado”, representa o centralismo português; a concentração de poder na capital Lisboa; o desprezo e a arrogância lisboeta em relação ao resto do país, em especial ao povo do Norte.

O FC Porto, como bem disse o seu presidente recentemente, é "o grande baluarte do Norte, cada vez mais esquecido e amordaçado", representando, portanto, o brio e bravura do Norte, inconformado e historicamente resistente.

FC Porto x Benfica, Benfica x FC Porto, é muito mais do que um simples jogo de futebol.


Histórico de Confrontos

Em todas as competições:

Jogos – 205
Vitórias do FC Porto – 76
Vitórias do Benfica – 76
Empates – 53

Na Liga Portuguesa:

Jogos – 150
Vitórias do FC Porto – 57
Vitórias do Benfica – 52
Empates - 41

9 comentários:

Anônimo disse...

Excelente texto :)

Emanuel disse...

Obrigado pelo comentário!

Unknown disse...

Olá!

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Jim Pereira disse...

Pedido de Autorização
Emanuel, posso republicar no blogue "O cão que fuma" o seu excelente texto? (Com os devidos e merecidos créditos, claro!)
Obrigado!
Jim
jimpereira@gmail.com

Emanuel disse...

Pode sim, Jim, sem problema algum.

Grato pelo contato.

jotta mvr disse...

São magnificas as barbaridades escritas neste texto. Só hoje dei de caras com este conjunto enorme de frases baseadas certamente por declarações de portistas, que por força da sua parvoíce recorrem a mentiras e se fazem de coitadinhos como sempre o fizeram. Acredito que tenha sido enganado e que pense que o que escreve está correcto, mas antes de publicar um texto destes deveria ter tido o cuidado de verificar a veracidade do que nele escreve. abraços, bom blog. joão rocha

Emanuel disse...

Sou brasileiro, mas vivi 4 anos e meio em Espinho, onde estudei, por exemplo, história e geografia. Quando escrevo, sei bem do que escrevo.

Incomoda o passado do clube do Regime?

Sei que incomoda. É algo que nem a manipulação constante da CS portuguesa apagará da história.

Grato pelo comentário.

il _messaggero disse...

Caro Emanuel,


Com base neste texto que escreveu, que erroneamente considerei ser da autoria do autor Jim - do blogue cão que fuma - tomei a liberdade de contestar o mesmo. À parte de simpatias clubístícas, há todo um revisionismo histórico no seu texto, que faz com tenha de apontar algumas incorrecções, algo que poderá ler (o texto é extenso daí colocar o link) pelo link abaixo colocado.

http://www.ocaoquefuma.com/2012/01/fc-porto-x-benfica-uma-rivalidade-que.html


cumprimentos ;)

Anônimo disse...

O Benfica vs Porto não representa Sul vs Norte coisa nenhuma, isso é uma falácia, em todo o Norte português o Benfica tem mais adeptos que o Porto...O FC Porto é muito mais um clube que se identifica com a cidade e distrito do Porto, mas o Benfica apesar de ser de Lisboa sempre se afirmou como um clube nacional...O Norte português não é só o distrito do Porto, é muito mais do que isso...por isso essa história do porto representar o norte todo é mentira.