Lançado no Brasil no dia 17 de junho (em primeira mão para os fãs brasileiros), Kairos é o 12º álbum de estúdio do Sepultura, gravado nos Estúdios Trama, em São Paulo, entre o fim de janeiro e meados de março.
A produção do álbum ficou por conta do renomado Roy Z, produtor que já trabalhou com artistas como Bruce Dickinson (Iron Maiden), Judas Priest, Rob Halford (Judas Priest) e Helloween. A capa foi concebida e desenhada pelo artista estadunidense Erich Sayers.
Kairos é uma palavra grega, que significa "momento certo" ou "momento oportuno", também se referindo ao deus do tempo e das estações. Na filosofia grega era atribuída uma importância muito grande a essa palavra, que representava "a experiência do momento oportuno", a "oportunidade", "o tempo em potencial" e o "tempo eterno". Ao contrário de "khronos", que era "o tempo dos homens" e, portanto, um tempo mensurável, cronológico e sequencial, "kairos" era "um momento indeterminado no tempo em que algo especial acontece".
Começo a análise ao álbum com uma afirmação e uma dúvida. Primeiro, a afirmação: é o melhor álbum do Sepultura desde o Chaos A.D., superando seus antecessores – Dante XXI e A-Lex, que são dois grandes álbuns também. Segundo, a dúvida, que só o tempo poderá responder: não estaria o Kairos no mesmo patamar do Chaos A.D.? Bem, confesso que espero dar tempo ao tempo, contudo, neste momento, eu me inclino mais a responder que SIM.
Kairos é um petardo! Depois de muito tempo, o Sepultura voltou a lançar um álbum com aquela pegada mais Thrash Metal, com riffs palhetados, solos de guitarra bem elaborados (no quesito solos, eu diria que se trata, sem a menor dúvida, do melhor trabalho do Andreas desde o Arise), bateria arregaçadora (Jean matou a pau!), vocais furiosos (o melhor trampo do Derrick no Sepultura), e boas linhas de baixo.
Pensado para ser uma retrospectiva do mais de 1/4 de século de carreira da banda, Kairos faz jus à gloriosa história do Sepultura, trazendo consigo uma sonoridade mais “old school”, sem deixar de lado traços marcantes de toda a sua trajetória – como o Groove, influências de Hardcore e Industrial, e, claro, passagens percussivas.
Eu resumiria o Kairos da seguinte forma: Arise e Chaos A.D. foram ao bar tomar umas cervas, lá se encontraram, brevemente, com o Beneath the Remains e cumprimentaram o Roots, o Dante XXI e o A-Lex.
É mais ou menos assim que resumo este álbum - marcantemente uma mistura da pegada Thrash Metal do Arise com o Groove do Chaos A.D., mas nos remetendo também a alguns timbres do Beneath the Remains, à percussão e cadência do Roots e a passagens mais sombrias do Dante XXI e A-Lex.
Já ouvi o álbum inúmeras vezes e, mesmo assim, ainda é impossível apontar qual é a melhor música ou dizer qual é a minha música favorita. Então, vamos à opinião música a música.
Spectrum – Abre o álbum de forma bem cadenciada, com um clima bem de introdução mesmo. Música pesada e arrastada, com riff bem simples, mas que nos faz bater cabeça sem parar. Gosto, também, do solo de guitarra, curto, mas muito legal.
Kairos – Clássica! A música começa lenta e pesada, com um groove que nos lembra o Chaos AD, tem um refrão simples e pegajoso, depois do solo começa a parte mais acelerada e palhetada. É uma música que vai empolgando o ouvinte na medida em que ela transcorre e é um bom resumo do álbum todo – a tal mistura da pegada Thrash do Arise com o Groove do Chaos A.D.
Relentless – Mais uma clássica! Thrash Metal na veia! Essa música é uma pauleira do início ao fim! Riffs palhetados, bumbo duplo comendo no centro, vocal cavernoso do Derrick. E o solo de guitarra?! Espetacular! Figura facilmente entre os melhores solos do Andreas no Sepultura.
2011 – Primeiro interlúdio do álbum. 2001 é o ano corrente no calendário Gregoriano.
Just One Fix – Cover do Ministry, uma das maiores bandas de Metal Industrial, e que, a certa altura da carreira do Sepultura, foi uma inspiração para os caras – nota-se claramente esta influência no Chaos A.D. O Sepultura costuma fazer excelente covers, como “Orgasmatron” (Motörhead) ou “Piranha” (Exodus), e este é mais um. A banda consegue dar uma cara bem Thrash Metal a uma música marcante do Metal Industrial.
Dialog – Gostei dessa música desde a primeira audição. Eu gosto do timbre da guitarra, do clima sombrio e introspectivo da música. O refrão é muito massa! Trata-se de uma música em que o Derrick fala como se estivesse mesmo em um diálogo. A parte final da música, com aquela pegada mais pesada e o bumbo duplo comendo solto, fez-me lembrar algumas passagens do Novembers Doom (atenção: lembrar não significa que é igual!).
Mask – Porrada nos ouvidos! Depois de uma música mais sombria e introspectiva, vem uma pauleira. A música já começa arregaçando, com aquela intro de guitarra bem “old school”. Thrash Metal total! A letra fala sobre aquele pessoal chato que se esconde por trás do computador e adora falar mal da banda só pelo prazer de falar mal. É um petardo na direção dos “haters”. Em algumas passagens tem uma pegada mais Thrash/Death Metal. Das mais pesadas do álbum. Mais um solo de guitarra bem trabalhado do Andreas. Mais um clássico!
1433 – Segundo interlúdio. 1433 é o ano corrente no calendário islâmico.
Seethe – Porrada! Vocal gutural bem cavernoso, riff bem cru e pesado. Solo que começa bem acelerado e depois acompanha o ritmo mais cadenciado em que a música entra, antes de retornar à pancadaria! É outra com tudo para ser clássica.
Born Strong – Essa música traz bem evidente uma mistura dos elementos mais “old school” com elementos da sonoridade mais recente da banda. Gosto muito do acompanhamento riff – bumbo duplo que temos em parte da música. Bate cabeça total!
Embrace the Storm – Gosto da sonoridade obscura e do peso que a afinação baixa da guitarra dá a essa música. Gosto, também, da passagem com aquele groove que nos faz bater cabeça inconscientemente.
5722 - Terceiro interlúdio. 5722 é o ano corrente no calendário hebreu.
No One Will Stand - Thrash Metal!!! Essa música é uma porrada do início ao fim! Rápida, pesada, agressiva! Traz de volta aquele clima Thash Metal “old school” e também evidencia a influência Hardcore que permeou a banda ao longo de sua carreira. É daquelas que, tocada ao vivo, abre uma roda de pogo gigante de onde ninguém sairá em pé. Destaque para o vocal do Derrick – e os “haters” diziam que ele não sabia cantar Thrash Metal...
Structure Violence (Azzes) – É a música que traz os elementos percussivos da banda. O álbum Roots foi um marco na história do Sepultura, trazendo consigo como sua maior característica o experimentalismo e os instrumentos percussivos. Não podia faltar uma música com essa cara de “Ratamahatta” e, não por acaso, conta com uma participação especial do grupo percussivo francês Les Tambours du Bronx. É uma canção que traz um clima bem caótico e energético. Já consigo imaginá-la ao vivo no Rock in Rio – vai ser muito bom!
4648 – Faixa que “finaliza” o álbum, na mesma linha dos demais interlúdios. 4648 é o ano corrente no calendário chinês.
No Brasil, o álbum foi lançado em versão “luxo”, com CD + DVD e duas faixas bônus. Na Europa e nos EUA a versão “de luxe” (em digipack) é que traz o DVD e as duas faixas bônus.
Firestarter – Cover de Prodigy. Mais um cover ousado na história do Sepultura (depois de Bob Marley, New Model Army, U2, Devo, etc.) e, diga-se, mais uma versão que ganha uma cara bem “Sepulturizada”, algo a que a banda já nos acostumou. Aos que criticaram ao ler/ouvir que a banda faria esse cover, digo que ouçam o cover antes de falar mal. Se preferirem falar mal por falar mal, que ouçam “Mask”, pois ela foi feita para vocês.
Point of No Return – Bate cabeça! É uma música que poderia estar facilmente no tracklist da versão padrão do álbum, pois em termos de qualidade não deixa a desejar. Inclusive, é uma faixa que poderia ser executada ao vivo sem o menor problema, pois tem uma pegada massa! De qualquer forma, é uma boa maneira para fechar este excelente álbum!
Depois de falar faixa a faixa, gostaria apenas de dizer que Kairos é um álbum excelente! Todas as vezes que escuto, abro um sorriso de orelha a orelha – de plena satisfação!
Finalizo esta análise ao Kairos parafraseando o grande José Saramago: cada dia que nasce é o primeiro para uns e será o último para outros, e, para a maioria, é só um dia a mais. Para o Sepultura, este momento em que estamos, ou somos, não havendo qualquer motivo para pensarmos que virá a ser o último, também não será, simplesmente um dia a mais. Digamos que o Kairos, este momento em que algo especial acontece, apresenta-se para o Sepultura como a possibilidade de ser um outro primeiro dia, um outro começo, mais um revigorado passo nesta implacável caminhada que já leva 27 anos.
Kairos é um álbum que já nasce clássico!
Nota (0 a 10): 9,7.
Tracklist:
01. Spectrum
02. Kairos
03. Relentless
(2011)
05. Just One Fix (MINISTRY cover)
06. Dialog
07. Mask
(1433)
09. Seethe
10. Born Strong
11.Embrace The Storm
(5772)
13. No One Will Stand
14. Structure Violence (Azzes)
(4648)
Faixas bônus da versão "de luxo":
16. Firestarter (THE PRODIGY cover)
17. Point Of No Return
Para comprar o álbum:
Brasil - http://sepultura.tanlup.com/product/pre-venda-kit-kairos-cd-dvd-camiseta-ecobag-sepultura
USA - http://www.nuclearblastusa.com/Splash/Sepultura/index.html
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