Céu azul, sem uma nuvem a atrapalhar o seu esplendor. O sol brilha intensamente nesta manhã de novembro.
Trajo uma camiseta regata e uma bermuda beirando os joelhos, caminho pelas ruas de Boa Viagem com o sol como companhia, guiando-me ao acaso, levando-me para o não sei onde.
O suor escorre pelo rosto. O sol que ilumina e guia é o mesmo que (me) aquece (n)esta manhã recifense. E como aquece! Sol fervente... Frevente... Nesta manhã de novembro na terra do Frevo.
Ando a passos lentos, como se estivesse a me poupar para o (desconhecido) que vem adiante. A poupar energias. As minhas energias. A me alimentar da impiedosa energia solar (afinal, para algo ela há de servir, além de me encharcar em suor).
Ao suor que escorre em meu rosto misturam-se lágrimas.
São lágrimas de uma saudosa lembrança que me remete a uma outra manhã ensolarada do undécimo mês de um ano distante. Perdida no tempo. Especialmente guardada na (minha) memória.
O céu está azul e o sol resplandece de forma exuberante. Nem uma nuvem branca a manchar o celeste azul do céu.
Saio de casa trajando quilos de roupas, a proteger meu (frágil) corpo da fria manhã do outono espinhense. É que o sol que ilumina o céu de Espinho, neste mês de novembro, não é suficiente para aquecer o corpo (e a alma) dos habitantes desta pequena e pacata cidade no Norte de Portugal.
Caminho a passos largos. O frio não convida a ficar muito tempo na rua. A caminhada rápida ajuda tanto a chegar mais de pressa ao destino final, quanto a aquecer (um pouco) o corpo.
Manhã de novembro de 1994. Meu primeiro dia de aula. Ansioso. Expectante. Receoso do que está por vir. Curioso a respeito do que o futuro guarda para mim.
Os quilos de roupas que me aquecem o corpo não são suficientes (e nunca seriam, obviamente) para esconder o frio na barriga. Sou um forasteiro. Acabado de chegar. Tudo para mim é novidade. Um novo mundo, em pleno “Velho Mundo”.
Enxugo as lágrimas e o suor do rosto. Abro os olhos. Deparo-me com o Mar. De Boa Viagem? Ou será de Espinho?
Lembranças e momentos que se confundem e se misturam. Realidades passadas (e bem guardadas na memória) e presentes se fundem, tornando-se uma só. Uma só existência. Uma só pessoa: eu.
Somos o passado e o presente que se tornará o amanhã. Somos aquilo que fazemos ou deixamos de fazer. Somos “os pensamentos que pensamos, as ações que cumprimos, as lembranças que conservamos e não deixamos apagar e das quais somos o único guardião”, em suma, “somos aquilo que lembramos” (Noberto Bobbio).
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Um comentário:
Cara, teu estilo é único. Tens que postar mais, pô.
Prefiro textos assim do que poesias.
Abraço
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