terça-feira, 22 de setembro de 2009

Saudade


Existe uma palavra que é exclusiva do galaico-português (língua falada na Idade Média em Portugal e na Galiza, e que da qual derivam as línguas portuguesa e galega) e define muito bem o meu sentimento ao pensar em Portugal e recordar todas as lembranças que carrego deste lugar tão marcante e especial para mim.

Saudade.

Só nós sabemos tão bem definir em uma única palavra este sentimento de melancolia causado pela lembrança, a mágoa que se sente pela ausência ou desaparecimento de pessoas, coisas, estados ou ações.

Sentimento e emoção – características marcantes dos povos latinos. É no latim "solitáte" (solidão) que a palavra saudade encontra a sua raiz.

Contudo, havemos de convir, entre a solidão e a saudade existe uma enorme distância separada por uma tênue fronteira.

E a palavra saudade, por sua vez, dá origem a termos como “saudosismo” e “saudosista”.

Sou uma pessoa saudosista por natureza. Meu sangue português deve falar mais alto e, de forma inconsciente, nutro um sentimento saudosista enorme. Guardo com carinho na memória momentos e acontecimentos marcantes e recordo estes fatos com uma forte melancolia, sentindo profundamente a sua ausência.

Tal qual os bravos desbravadores portugueses, que sentiam “saudade” de sua terra quando se encontravam a milhares de quilômetros de distância de casa, longe de seus entes queridos, ou a “saudade” que sentiam estes entes queridos que ficavam em terra (como disse o grande Fernando Pessoa, “Ó mar salgado quanto do teu sal / São lágrimas de Portugal”), eu também tenho muito desse sentimento melancólico pela ausência dos momentos e das experiências que vivi e, em especial, quando diz respeito a Portugal.

Tudo isso para dizer que durante 10 anos eu senti uma enorme saudade desta terra na qual me encontro neste momento. E que durante este (longo?) tempo, mantive, dentro das minhas limitações, o máximo de laços possíveis com tudo aquilo que diz respeito a esse lugar. Talvez, na esperança, de que esses laços diminuíssem a saudade sentida.

Nesse período alimentei o sonho inequívoco de um dia retornar e de poder rever parte daquilo que me marcou e de viver novas experiências, com a ajuda da maturidade e da autonomia ganhas com a idade (é que ficar velho tem que servir para alguma coisa boa em nossas vidas, não é?).

Pisar em solo português. Respirar o ar quente de Al-Ushbuna (Lisboa). Esperar ansiosamente pelo voo que me levaria a Portucale (Porto, Portugal). Vocês não têm noção da emoção e da ansiedade que me tomaram.

Estar no Porto. Andar pela Avenida dos Aliados. Sentir o friozinho das noites de verão portuenses. Voltar à cidade de Espinho, encantadora e pacata cidade; reviver as manhãs cobertas de névoa do verão de Espinho; sentir novamente o vento frio tão característico da beira-mar desta cidade.

Pequenas coisas que trazem à memória momentos únicos e marcantes.

Ahh! como eu esperei por este momento. Como eu sonhei com isto. Como eu desejei poder sentir tudo isto novamente.

Como é bom poder “matar a saudade”.

Voltar a ver um jogo do meu FC Porto. Conhecer, finalmente, o magnífico Estádio do Dragão. Novos acontecimentos para serem guardados e recordados carinhosamente em um futuro não muito distante.

Pois é. Escrevo a 9 dias do meu retorno ao Brasil.

E enquanto eu escrevo e “mato a saudade” de Portugal, eu já sinto saudade de tudo isto que estou a viver e do que ainda está por vir.

É um sentimento estranho. Estou aqui, mas a proximidade da minha partida aperta o meu coração e traz à tona o melancólico sentimento da falta que este lugar me faz e há de me fazer.

Contraditório e estranho. É assim que me sinto.

Estou aqui e procuro aproveitar cada instante, cada passagem, cada detalhe.

Porém, ao mesmo tempo, já antevejo meu retorno. E uma sensação esquisita me toma. Já sinto saudade daquilo que ainda estou a viver e a experimentar.

Ao pensar no retorno, sou tomado por uma melancolia causada pela lembrança de um sonho que se tornou realidade; de um desejo realizado; de uma experiência inesquecível.

Para terminar, gostaria apenas de dizer que estou feliz.

Uma felicidade impossível de ser explicada e expressada através de palavras.

“Tristeza não tem fim, felicidade sim”. Aproveitarei ao máximo este lapso (?) de felicidade. Aproveitarei cada segundo deste sonho que se tornou realidade.

Finalizo com Fernando Pessoa:

“Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.

Qual porém é a verdadeira
E qual errada, ninguém
Nos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar.”

Um comentário:

Thalita disse...

A saudade é um dos sentimentos mais complicados de se comentar a respeito...
A gente começa a pensar nas nossas saudades, e vai batendo aquele aperto terrível no coração.

Espero que esteja se recuperando bem da sua saudade de Portugal! :)

beijos!