Nos Estados Unidos da
América (“a terra da liberdade”) deputados e senadores debatem dois projetos de
lei - “SOPA” (Stop Online Piracy Act, ou Lei para Parar com a Pirataria
Online) e “PIPA” (Protect Intellectual Property Act, ou Lei para Proteger a
Propriedade Intelectual) - que têm o mesmo objetivo: combater,
especialmente, a proliferação de cópias piratas de filmes online e outras
formas de pirataria de conteúdo midiático em servidores internacionais,
propondo, inclusive, penas de até cinco anos de cadeia para pessoas
condenadas por compartilhar material pirateado dez ou mais vezes ao longo de
seis meses.
As propostas também
preveem punições para sites acusados de "permitir ou facilitar" a
pirataria. Estes podem ser fechados e banidos de provedores de internet,
sistemas de pagamento e anunciantes, em nível internacional. Em tese, um site
pode ser fechado apenas por manter laços com algum outro site suspeito de
pirataria.
Além disso, o “SOPA”,
se aprovado, também exigiria que ferramentas de busca removessem os sites
acusados de pirataria de seus resultados.
Hoje, 19 de janeiro
de 2012, o site “Megaupload”, um dos maiores sites de compartilhamento de
arquivos online, foi fechado pelo Governo dos EUA e seu fundador foi preso (ele
e vários de seus executivos foram acusados
formalmente de violar leis antipirataria nos Estados Unidos).
Os
projetos “SOPA” e “PIPA” e o encerramento do site “Megaupload” me fizeram
lembrar os nobres e sempre pertinentes ensinamentos dos eminentes pensadores da
Escola de Frankfurt e o conceito base que eles criaram para os estudos
culturais, a “Indústria Cultural”.
Em
especial, lembrei-me de Walter Benjamin e Theodor Adorno. Mais à frente explico
por que motivo me lembrei especialmente deles dois.
A Escola de Frankfurt e a Indústria Cultural
Escola de Frankfurt foi o nome dado ao grupo de pensadores, filósofos e cientistas sociais alemães que se dedicaram aos estudos de variados temas que compreendiam desde os processos civilizadores modernos e o destino do ser humano na era da técnica (ou tecnologia) até a política, a arte, a música, a literatura e o cotidiano.
Escola de Frankfurt foi o nome dado ao grupo de pensadores, filósofos e cientistas sociais alemães que se dedicaram aos estudos de variados temas que compreendiam desde os processos civilizadores modernos e o destino do ser humano na era da técnica (ou tecnologia) até a política, a arte, a música, a literatura e o cotidiano.
Dentro desses temas, chamaram à atenção para a extrema importância da mídia (meios de comunicação) como fomentador da cultura de mercado e formadora do modo de vida contemporâneo.
Dentre os grandes pensadores desta Escola,
podemos citar Theodor Adorno, Max Horkheimer, Hebert Marcuse, Erich Fromm e
Walter Benjamin. Destacamos os dois primeiros, Adorno e Horkheimer, criadores
de um conceito base para os estudos culturais: a indústria cultural.
Adorno e Horkheimer no livro Dialética
do Iluminismo apontaram um
novo conceito com relação à cultura e a massificação da cultura. Na visão deles
a “cultura para a massa” não passava de uma simples industrialização da
cultura, ou seja, haveria o uso da racionalidade técnica (a tecnologia) a
serviço da dominação ideológica. Apontavam, assim, o conceito de Indústria
Cultural, que seria, portanto, um mecanismo de massificação da opinião, dos
gostos e da necessidade de consumo. Na Indústria Cultural tudo passa a ser um
produto de mercado (inclusive o ser humano [reificação, ou a coisificação do
homem]), a verdadeira preocupação não é transmitir informações ou conhecimento,
mas sim vender, cada vez mais, produtos e ideias homogeneizadas, a fim de se
obter o lucro acima de (quase) tudo.
A cultura sob as regras da Indústria Cultural passa a ser apenas mercadoria, um produto a ser vendido e explorado comercialmente. A arte, a música, a literatura se transformam em meros produtos com o objetivo de serem difundidos comercialmente e vendidos como se fossem um pacote de feijão em uma prateleira de supermercado. Perde-se o valor e a essência da criação cultural, isto não é o mais importante. O que realmente importa é enlatar, rotular e vender o "produto" em um grande centro de compras.
Dentro da Indústria Cultural, para que o mercado atinja o seu principal objetivo (o lucro), existe uma peça fundamental a ser explorada: a alienação do povo.
A cultura sob as regras da Indústria Cultural passa a ser apenas mercadoria, um produto a ser vendido e explorado comercialmente. A arte, a música, a literatura se transformam em meros produtos com o objetivo de serem difundidos comercialmente e vendidos como se fossem um pacote de feijão em uma prateleira de supermercado. Perde-se o valor e a essência da criação cultural, isto não é o mais importante. O que realmente importa é enlatar, rotular e vender o "produto" em um grande centro de compras.
Dentro da Indústria Cultural, para que o mercado atinja o seu principal objetivo (o lucro), existe uma peça fundamental a ser explorada: a alienação do povo.
É da alienação que se aproveita a Industria
Cultural para massificar os seus produtos. Ao massificar e homogeneizar gostos
e necessidades de consumo, o mercado aprofunda a alienação, ao alimentar-se e
alimentá-la em uma troca bilateral e mútua. A passividade e o conformismo são
frutos desta alienação.
Como diz o professor Francisco Rüdiger, os
pensadores frankfurtianos criticavam a cultura de massa não porque ela é
popular, mas sim porque esta cultura mantém as marcas da exploração e da
dominação das massas, fato que ocorre desde as origens da história.
E, como também diz o citado professor, os
frankfurtianos não criticavam a tecnologia nem os avanços tecnológicos, mas sim
o seu emprego, ou seja, os objetivos por trás da utilização das novas
tecnologias. Podemos afirmar, então, que a Indústria Cultural é opressora,
determina até onde vai o livre arbítrio do indivíduo ao submetê-lo à dominação
ideológica que coloca frente a frente: classes dominantes > classes
populares. A cultura de massa é marca da imposição e exploração da dominação de
classes.
Música/Gravadoras e Cinema/Estúdios
na Indústria Cultural
Walter Benjamin apontou, em A Obra de Arte na Era de Suas Técnicas de Reprodução, para a perda da aura da obra de arte. Para
Benjamin as tecnologias que permitiram a fácil reprodutibilidade das obras de
arte fizeram com que estas perdessem sua aura de serem exclusivas e únicas.
A música ou o cinema, que já no século XX,
tornaram-se mais mercadorias a serem reproduzidas e vendidas em larga escala,
também perderam as suas auras e, de certa forma, as suas essências.
"Na medida em que multiplicam a reprodução,
substituem a existência única da obra por uma existência serial", afirmou Benjamin na supracitada obra. Quem nunca
reparou que o CDs de música ou os DVDs (de música ou filme) contêm um código de
série? Ao se comprar um CD ou DVD a pessoa está adquirindo um produto em série.
E o código de série (que pode conter letras e números) serve de controle para o
dono da loja e, especialmente, para a gravadora ou o estúdio e seus
distribuidores, que lançaram o CD ou o DVD no "mercado", que têm o
grande cuidado em controlar as vendas e saber os números do "mercado ".
Em 1935 Walter Benjamin apontava para esta realidade, a reprodução em série das
obras de arte e a sua relação com a indústria.
Benjamin acreditava no poder de democratização da cultura e do conhecimento, ele via como positivo o controle da cultura por parte das massas. Adorno, por sua vez, não negava o potencial democrático da tecnologia empregada a serviço da cultura, porém sua análise crítica sempre apontou para o indevido uso das técnicas, que rumavam no sentido inverso àquele que Benjamin acreditava ser possível.
Para Adorno não haveria a democratização da cultura porque simplesmente essa democratização não servia aos interesses dos capitalistas (aí inseridas as corporações do entretenimento, nos quais as gravadoras e os grandes estúdios). A Indústria Cultural como meio de controle das massas não permitiria que as massas assumissem o controle da cultura, idéia na qual acreditava Benjamin.
Benjamin acreditava no poder de democratização da cultura e do conhecimento, ele via como positivo o controle da cultura por parte das massas. Adorno, por sua vez, não negava o potencial democrático da tecnologia empregada a serviço da cultura, porém sua análise crítica sempre apontou para o indevido uso das técnicas, que rumavam no sentido inverso àquele que Benjamin acreditava ser possível.
Para Adorno não haveria a democratização da cultura porque simplesmente essa democratização não servia aos interesses dos capitalistas (aí inseridas as corporações do entretenimento, nos quais as gravadoras e os grandes estúdios). A Indústria Cultural como meio de controle das massas não permitiria que as massas assumissem o controle da cultura, idéia na qual acreditava Benjamin.
As gravadoras e os grandes estúdios são as
empresas que controlam o sistema do mercado da música e do cinema. São as
gravadoras e os estúdios, entidades privadas e com o objetivo de lucro, que se
utilizam e se beneficiam do poder da reprodução em série e da difusão massiva
da música e do cinema. Como uma empresa, a gravadora e os estúdios fazem parte
das corporações do entretenimento, que têm como objetivo tirar proveito comercial
do "seu produto".
O artista se torna dependente das corporações de
entretenimento para poder mostrar a sua obra, o seu trabalho; a população (que
é o público alvo, o indivíduo massa) se torna refém e alvo das campanhas
publicitárias e da difusão em massa daquilo que interessa a essas corporações,
o que, em uma perspectiva de mercado de larga escala, quase sempre não é
sinônimo de qualidade artística (musical ou cinematográfica, para ficar em dois
exemplos).
As corporações de entretenimento, geralmente, reúnem
em si diversas ramificações da “indústria do entretenimento e da informação”,
indo dos estúdios de cinema, passando pelas gravadoras musicais, chegando aos
jornais e canais de televisão (ou mesmos empresas de TV por assinatura).
Vou citar como exemplo de grande corporação a News
Corporation, do australiano Rupert Murdoch (já que ele é um dos grandes
defensores dos projetos “SOPA” e “PIPA”). A News Corporation é proprietária de:
editoras de livros; jornais e revistas em diversos países (Austrália,
Inglaterra [lembram-se do tablóide “News of the World”?], EUA [dentre vários,
The Wall Street Journal e The New York Post], Fiji, Papua Nova Guiné); rádios
(Fox Radio, ex.); acionista de clubes/franquias de rugby e futebol americano; estúdios
(dentre vários, 20th Century Fox); redes de televisão, canais de televisão (Fox,
Fox Sports, Fox Life, FX, National Geographic e muitos, mas mesmo muitos,
outros); etc..
A publicidade é uma das formas através das quais
as corporações de entretenimento exercem a manipulação da opinião e dos gostos,
a massificação dos produtos.
A publicidade nada mais é que o instrumento
através do qual se atinge o público alvo, o consumidor; é através do seu poder
de persuasão que se estabelece a massificação.
A persuasão é a principal arma para se atingir o
conformismo e se diluir a consciência. O Rádio, a TV e a imprensa escrita com a
divulgação e a veiculação de um determinado "produto" também são
preponderantes no processo de manipulação da opinião e na indução ao consumo.
Internet e download: democratização?
Como já foi mencionado, Walter Benjamin
acreditava no potencial da democratização da cultura e do conhecimento, desde
que o controle estivesse sob o comando das massas. Adorno se opunha a esta
idéia, não por negar o potencial da tecnologia em democratizar a cultura, mas
por não acreditar que as empresas envolvidas na indústria cultural pemitissem
esta democratização.
E o que seriam as tecnologias como mp3, flac, rmvb,
avi, mpeg, etc., e o compartilhamento de músicas, filmes, séries de televisão,
dentre outros, através da internet?
É inquestionável o poder revolucionário destes
formatos e do compartilhamento através da internet.
Certamente, Walter Benjamin ficaria satisfeito ao
ver o uso desta tecnologia a serviço do controle das obras culturais por parte
das massas.
Não há nada mais democrático do que dividir e
partilhar um filme, uma série de TV, uma música, etc., com milhões de pessoas
através da grande rede mundial de computadores.
Mas o sistemático combate (como se vê em projetos
como "SOPA" ou "PIPA" e no fechamento do Megaupload) contra
os sites e usuários que dividem e partilham filmes, séries, músicas, etc.,
tentando, inclusive, criminalizar essa divisão e partilha, demonstra claramente
como as grandes empresas não dão descanso às massas e não querem perder o
controle da cultura.
Benjamin estava certo ao acreditar na democratização da cultura através do controle das massas sobre a mesma. Porém Adorno em seu ácido realismo estava ainda mais certo: enquanto houver esta relação de poder e este sistema de mercado, as empresas jamais permitirão que as massas se libertem das amarras do controle da indústria cultural.
Benjamin estava certo ao acreditar na democratização da cultura através do controle das massas sobre a mesma. Porém Adorno em seu ácido realismo estava ainda mais certo: enquanto houver esta relação de poder e este sistema de mercado, as empresas jamais permitirão que as massas se libertem das amarras do controle da indústria cultural.
3 comentários:
Lindinho, parabéns pelo excelente texto! Como sempre,bem fundamentado e deveras esclarecedor. Parabéns!
Obrigado, lindinha anônima. =)
Os seus textos são bons, entretanto, gostaria que você colocasse no final de seu texto as suas referencias bibliográficas, pois fazem falta na hora de fazer trabalhos academicos.
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