Hoje, 20 de janeiro de
2012, foi aprovado pelo Conselho Superior de Transporte Metropolitano (CSTM) o
aumento de 6,5% na tarifa de passagem de ônibus na Região Metropolitana de
Recife.
Este foi o quinto
aumento da tarifa em 8 anos (2005, 2008, 2009, 2011 e 2012). Em janeiro de 2008
a tarifa do Anel A custava R$1,75. Com a aprovação do novo aumento, a tarifa do
Anel A custará, em janeiro de 2012, R$2,15.
O reajuste de 6,5%,
proposto pelo Governo do Estado, baseia-se no Índice de Preços ao Consumidor
Amplo (IPCA). Porém, acreditem, os empresários queriam ainda mais, para eles o
reajuste deveria ser de 17,2%. Pobres coitados, não são?
Então, com mais este
aumento, o valor do Anel A passa de R$2,00 para R$2,15, o Anel B de R$3,10 para
R$3,30, o Anel D passa a custar R$2,60 e o Anel G R$1,40.
O Anel A é o mais
utilizado pela população da RMR, cerca de 80% dos usuários de todo o transporte
coletivo de passageiros utiliza este anel. Com o aumento de R$0,15 no valor da
passagem, o cidadão passará a gastar, no
mínimo, R$ 0,30 por dia, que dá uma média de R$ 1.80 por semana, R$ 7,20 por
mês, isso calculando que a pessoa apenas precisará de duas passagens diárias,
em seis dias por semana, o que todos sabemos que não corresponde à realidade
social dos trabalhadores da RMR e de muitos estudantes.
As tarifas aumentam, mas será que a qualidade do
transporte público também aumenta?
Os empresários dizem que sem o aumento a qualidade oferecida à população
irá cair, pois seus custos se elevaram (todos os anos eles dizem isso), logo as
passagens devem cobrir estes custos.
Portanto, o que vemos é que cabe ao povo cobrir os supostos custos dos
empresários, afinal, como sabemos, o lucro dos empresários há de ser, sempre,
salvaguardado.
Entretanto, alguém, se puder, responda-me, por favor: nestes
últimos oito anos (em que as tarifas foram aumentadas cinco vezes) a qualidade dos
serviços prestados a quem utiliza o transporte público aumentou ou caiu?
Bem, apesar de eu pedir que alguém me respondesse, a pergunta é retórica,
pois, infelizmente, todos nós sabemos o quão óbvia é a resposta.
Os empresários devem mesmo achar que toda a população da RMR é estúpida e
desprovida de qualquer capacidade de raciocínio e crítica. Se a desculpa dada é,
sempre, a de manter a qualidade do serviço oferecido, então, basta fazermos uma
breve análise do que aconteceu nos últimos anos, e a resposta é mais do que
evidente: os serviços de transporte público pioraram nos últimos anos!
O grande marco para a queda da qualidade do transporte público foi o fim
do transporte alternativo, mais conhecido por “kombeiros”.
E por que motivo isso terá ocorrido?
Simples: os “kombeiros” promoviam uma concorrência com as empresas
“tradicionais”. Ofereciam preços mais baixos, o que atraía grande parcela da
carente população do Grande Recife; ofereciam linhas alternativas, que melhor
serviam as pessoas. Os “kombeiros” trouxeram algo novo para os usuários de
transporte coletivo da RMR, a sensação de que havia uma alternativa mais barata
e eficiente.
Foi na época áurea do transporte alternativo que surgiram novas linhas
do “transporte tradicional”; foi também nessa época em que surgiram os
“geladinhos” e “geladões”, com ar-condicionado, e outros veículos com muito
mais comodidade e conforto para os passageiros. As empresas, temendo a
concorrência, foram forçadas a aumentar seus custos, abrir mão temporariamente
de parte dos seus lucros, para frear o crescimento da demanda dos transportes
alternativos. A população da Grande Recife pôde vivenciar a livre concorrência
e colher, daí, uma melhor estrutura, enfim, um melhor tratamento.
Porém, os empresários não estavam satisfeitos com essa situação. Se há
algo que a maioria do empresariado (principalmente os empresários que controlam
o transporte coletivo na RMR) não gosta nem de ouvir falar é redução de lucros.
Os “kombeiros” incomodavam, na medida em que faziam concorrência e
ofereciam uma alternativa às pessoas, os lucros das empresas iriam sofrer. E no
mundo em que vivemos, as pessoas não têm vez, os seres humanos são relegados a
seres inferiores, sem face, tornam-se uma massa meramente consumidora. De
cidadão a consumidor, esta é a realidade.
Chomsky lançou a pergunta: o lucro ou as pessoas? A EMTU, a Prefeitura (então
autodenominada “Popular”) de Recife, o Governo do Estado e os empresários do
transporte coletivo na RMR deram a reposta: o lucro. E lá se foram os
“kombeiros”, em sua maioria pessoas de baixa renda, desempregadas, que tinham
como única fonte de renda o trabalho honesto de motorista e cobrador do
transporte alternativo.
A Prefeitura (“Popular”) de Recife, cujo lema, na época, era “cuidar das
pessoas”, não pensou na imensa maioria das pessoas, no povo sofrido
de baixa renda, naqueles que sofrem o cotidiano de trabalhos duros e mal pagos;
da exploração do capital.
Desde então, o transporte público sofreu uma queda vertiginosa de
qualidade. Para quê investir e manter veículos de maior consumo se já não
existe mais concorrência, não é verdade? Exatamente. Foi isto que fizeram,
paulatinamente, os empresários da RMR.
E não houve aumento de valor das passagens que fez esta queda brutal na
qualidade parar. Aumento de qualidade? Isto só nos melhores sonhos utópicos de
quem acredita que um dia o povo será tratado de forma humana e fraterna.
Eis que chegamos, finalmente e infelizmente, a 2012.
No comando do Governo Estadual uma coalizão de “centro-esquerda”. Em
campanha para a sua primeira eleição, o atual governador (atualmente em segundo
mandato) prometeu redução das tarifas.
Um sonho a ser realizado? Um governante que pensa nas pessoas? Ou mera
promessa demagógica de campanha?
Mais uma vez, o lucro prevaleceu. E a promessa de redução do valor das
tarifas não passou de palavras soltas ao vento, de propaganda eleitoral. Mais
um engodo para o povo. Na prática, a mudança não existiu.
Houve, na realidade, sucessivos aumentos. Em 2012 inicia-se o sexto
mandato do atual governador do Estado. Este é o quarto aumento da tarifa da
pasagem de ônibus. Ou seja, ao invés de reduzi os preços das tarifas, o atual
Governo do Estado participou em quatro
aumentos em seis anos!
Este ano, por exemplo, ao invés de cumprir sua promessa de redução,
apresentou uma proposta de 6,5% de aumento.
Os empresários, mesmo contrariados, aceitaram, afinal, pelo menos estarão a
somar.
Aproveitaram, como tem sido de costume, o mês de janeiro para tomar esta
decisão. Mês de férias escolares e acadêmicas, época, também, em que muita
gente está pensando em praia, carnaval, sombra e água fresca, além disso, nos
dias atuais, as pessoas estão mais preocupadas em saber se Luiza está ou não no
Canadá. É, portanto, um período bastante propício para evitar grandes
mobilizações populares. Quanto menos barulho, melhor para aqueles que estão no
comando.
Mesmo assim, os movimentos sociais nunca se silenciam e tentam, dentro
de suas capacidades, organizarem protestos contra a exploração aos cidadãos do
Grande Recife.
Neste momento em que escrevo este texto, há um protesto ocorrendo no
centro da cidade de Recife. Sabe-se que o Governo do Estado, aquele de “centro-esquerda”,
tem procurado, através de sua força coercitiva, a polícia (e logo o Batalhão de
Choque), reprimir os movimentos sociais que se organizaram no sentido de,
pacificamente, protestarem.
Ou seja, enquanto as pessoas tentam exercer a sua cidadania e o
democrático direito à liberdade de expressão do pensamento, o Governo, de “centro-esquerda”
reprime, recorrendo à força policial, os cidadãos.
Enfim... As passagens aumentaram, mas o povo continuará sofrendo com
ônibus lotados, veículos desconfortáveis e em péssimo estado de conservação,
frotas reduzidas e da insegurança nos coletivos, reflexo desta calamidade que
assola nosso estado. Tudo isso irá continuar, e, se for mantida a tendência dos
últimos anos, não apenas as passagens aumentarão, como também a péssima
prestação de serviços.
Se não nos levantarmos, se não nos fizermos ouvir, seremos cada vez mais
ignorados, explorados e desprezados. Não podemos baixar nossas cabeças e nos
conformamos. O conformismo é alimento para aqueles que querem explorar e
enriquecer à custa do povo.
A união é necessária. A mobilização é essencial.
Se o lucro está acima das pessoas, o que será das pessoas?