sábado, 29 de dezembro de 2012

Meus álbuns preferidos em 2012


Como faço todos os anos, gosto de elaborar uma lista com os meus álbuns preferidos do ano. Em 2012, o mais difícil foi decidir se consideraria o Alpha Noir/Omega White do Moonspell apenas com um álbum ou se dividiria em dois e, assim, ocupariam os dois primeiros lugares da relação. Optei pela divisão, já que são dois álbuns distintos, cada um apresentando um lado das duas faces que compõem o repertório musical dos portugueses. Passado isso, a questão: qual dos dois colocar em primeiro? Bem, a escolha foi pelo Alpha Noir pois a própria banda optou por esse álbum como sendo o principal, uma vez que o Omega White vem como um bônus. Apesar dessa divisão, para mim é impossível dizer qual dos dois eu prefiro mais.

Enfim, segue a lista com os meus dez álbuns preferidos no ano de 2012:

      1.      Alpha Noir – Moonspell
      2.      Omega White – Moonspell
      3.      Tragic Idol – Paradise Lost
      4.      Weather Systems – Anathema
      5.      Phantom Antichrist – Kreator
      6.      A Map of All Our Failures – My Dying Bride
      7.      House of Gold & Bones part 1 – Stone Sour
      8.      Dark Roots of Earth – Testament
      9.      Dead End Kings – Katatonia
      10.  The Scarred People – Tiamat

Alpha Noir – Moonspell



Os portugueses do Moonspell sempre foram uma banda que estiveram à frente do seu tempo. Começaram a carreira praticando um Black Metal com pitadas de elementos de música portuguesa, o que os diferenciava das demais bandas do gênero na Europa. Em seguida, consolidaram-se como um dos pioneiros do denominado Gothic Metal ao incorporarem ao seu som novas características, como o Gothic Rock e o Darkwave. A cada álbum a banda inovava e se renovava, mas alguns elementos musicais sempre estiveram presentes em sua sonoridade: o peso e a agressividade dos riffs de guitarra e dos bumbos da bateria se equilibravam com o soturno, a melancolia e o atmosférico dos teclados e dos vocais sussurrados e graves de Fernando Ribeiro.

Completando 20 anos em 2012, o Moonspell resolveu se dividir em dois. Ao invés de tentar buscar o equilíbrio tênue entre o peso e a melodia introspectiva, os portugueses decidiram dar vida às duas personalidades que sempre conviveram em harmonia no interior do grupo.

De um lado, veio ao mundo o lado negro da força do Moonspell, o peso e a agressividade dos riffs das guitarras, os vocais guturais e rasgados de Fernando Ribeiro, e o bumbo duplo comento no centro. É o Alpha Noir.

Os fãs do bom e velho Moonspell não têm motivos para reclamar. Os elementos do Black e Death Metal característicos do grupos são encontrados em faixas como “Lickanthrope” e “Versus”. E eles ainda encontraram espaço para inovar. Riffs de Thrash Metal foram incorporados, dando uma pegada ainda mais dilacerante ao som. Músicas como a faixa-título “Alpha Noir” e “Axis Mundi” estão aí para comprovar.

Quem curtiu álbuns como Memorial e Night Eternal encontra um Moonspell seguindo o direcionamento do Metal extremo, em toda a sua plenitude. Se nos dois antecessores, lançados em 2006 e 2007 (respectivamente), ainda havia espaço para faixas mais harmônicas e introspectivas, em Alpha Noir só há lugar para uma coisa: porrada! Do início ao fim.

Liricamente, a banda continua sublime. “Em Nome do Medo”, letra toda em português, fala da necessidade que as pessoas têm de romper com os medos para seguirem adiante. Em uma Europa em crise, o Moonspell clama aos seus fãs por um “novo mundo”, com um “novo código”.

Omega White – Moonspell



Ao mesmo tempo em que o Moonspell soltou toda a sua negritude e sua agressividade em Alpha Noir, o álbum Omega White foi o espaço em que a banda pôde explorar toda a sua veia poética, romântica e introspectiva. Em 1998 muitos fãs da banda torceram o nariz para o espetacular Sin/Pecado, álbum em que a banda deixou um pouco de lado o Heavy Metal e partiu em uma viagem mais introspectiva, explorando novos elementos musicais e com uma abordagem lírica mais filosófica. Em 2001, o Darkness and Hope trazia de volta um pouco do peso, mas ainda mantinha latente a preferência da banda pelo sombrio, mais do que pela agressividade.

Em Omega White o Moonspell recupera um pouco destes dois álbuns. Lindos arranjos e belíssimas harmonias. Fernando Ribeiro solta a voz, explorando toda a sensualidade de seu vocal grave. O teclado está em evidência e se o Alpha encontra refúgio e se baseia nos riffs de Ricardo Amorim, o Omega é cria da sensibilidade dos teclados de Pedro Paixão.

Estamos diante de um disco cativante e belo. Difícil mencionar apenas algumas faixas, mas músicas como “Whiteomega”, “Fireseason”, “New Tears Eve”, “Incantatrix” e “A Greater Darkness” mostram bem como o Omega White, mais do que um álbum, é uma celebração ao lado Gótico do Moonspell, em que a beleza do soturno se sobrepõe à agressividade.

Tragic Idol – Paradise Lost



O final dos anos 1980 e começo dos anos 1990 ficaram marcados pelo surgimento de três bandas britânicas que se tornaram ícones do denominado Death/Doom Metal. Uma dessas bandas era o Paradise Lost, dois anos mais velha que My Dying Bride e Anathema. Das três, apenas o My Dying Bride se manteve mais próximo da sonoridade inicial, enquanto as outras duas exploraram novas influências musicais ao longo de suas carreiras. O Paradise Lost logo incorporou elementos que viriam a caracterizar a banda de Halifax como uma das pioneiras do Gothic Metal (ao lado do Moonspell e outras).

Após o aclamado Draconian Times, um dos maiores clássicos do Metal até os dias atuais, o Paradise Lost foi deixando um pouco de lado o peso do Death/Doom e abriu espaço ao Gothic Rock, flertando também com elementos de música eletrônica. Algo que nunca faltou ao som do grupo foi a melancolia, sempre presente e latente.

Desde 2005, entretanto, o Paradise Lost foi traçando um caminho de volta ao Gothic/Doom que o consagrou. E o álbum Tragic Idol é a consagração de uma sequência de álbuns sensacionais: In Requiem e Faith Divides Us – Death Unites Us.

Em Tragic Idol o Paradise Lost aprimora a mescla das influências do Rock Gótico com os elementos mais pesados dos tempos do Gothic/Doom Metal que levou a banda ao topo em meados dos anos 1990. Riffs pesados, teclados dando uma sonoridade atmosférica e obscura, e um Nick Holmes em grande forma, com um vocal mais agressivo.

Faixas como “Crucify”, “Fear of Impending Hell”, “To The Darkness” e “Tragic Idol” mostram bem a mescla entre o Gótico e o Doom do Paradise Lost. Enquanto músicas como “Theories From Another World” e “In This We Dwell” evidenciam o peso e a agressividade das composições de Gregor Mackintosh.

Atmosférico, sombrio, pesado, agressivo e ao mesmo tempo melancólico. É assim que podemos resumir este grande álbum do Paradise Lost.

Weather Systems – Anathema



O Anathema é uma banda com trajetória bastante curiosa: uma das pioneiras e maiores destaques do Death/Doom Metal, foi passando por uma metamorfose musical a partir do álbum Eternity (1996), em que a influência de Pink Floyd começou a aflorar, até chegar ao Atmospheric Rock, onde os elementos de Heavy Metal praticamente não se fazem notar, dando espaço para as nítidas influências de Pink Floyd, Radiohead, Porcupine Tree, Portishead etc.

Se eu fosse resumir o álbum Weather Systems em apenas uma palavra, eu diria: belíssimo! É mesmo assim que este álbum pode ser definido: pela beleza marcante de suas canções, pelo encanto de suas letras – a perfeita harmonia entre melodias cativantes e letras tocantes.

A sequência de abertura do álbum é magistral. As faixas “Untouchable, Parts 1 e 2”, são fantásticas. Certamente podem figurar entre as melhores músicas da carreira do Anathema, podendo ser relacionadas ao lado de “A Dying Wish”, "Fragile Dreams”, “One Last Goodbye” e ”Temporary Peace” e “Dreaming Light”.

Além de “Untouchable, Parts 1 e 2” não se pode deixar de mencionar “Lightning Song”, “The Calm Before the Storm”, “The Begining and the End” e a intimista “Internal Landscapes”, que fecha o álbum. De registrar que Lee Douglas tem muito mais espaço e sua bela e sua voz pode ser ouvida com maior evidência.

Entre 2003 (A Natural Disaster) e 2010 (We’re Here Because We’re Here) o Anathema deixou os seus fãs por sete anos esperando ansiosos por um álbum novo de inéditas. Após o sublime We’re Here Because We’re Here, a banda não demorou muito para presentear seus admiradores com mais um lançamento magnífico. Weather Systems é um belíssimo álbum.

Phantom Antichrist – Kreator



O Kreator sempre foi a minha banda de Thrash Metal alemã preferida. Na realidade, os caras sempre estiveram entre as minhas bandas preferidas de todas. Desde a fase do Thrash Metal dos anos 1980 que se encerrou com o Coma of Souls (1900), passando pelos experimentalismos dos anos 1990 (é curioso como várias bandas de Metal resolveram experimentar novas sonoridades ao longo da última década do Séc. XX). Em 2001 o Kreator voltou ao Thrash Metal, mas soube se modernizar. Foi um retorno sem se prender ao passado, com o lançamento do petardo Violent Revolution, um clássico da banda.

De lá para cá, o Séc. XXI tem se mostrado de grande criatividade na trajetória destes alemães de Essen. Do Violent Revolution em diante, o Kreator tem presenteado os fãs do Thrash Metal com clássicos atrás de clássicos. Enemy of God (2005), Hordes of Chaos (2009) e o mais recente e fantástico Phantom Antichrist.

Em Phantom Antichrist, o Kreator traz novamente a bem sucedida fórmula dos álbuns lançados neste século, apresentando um Thrash Metal vigoroso, pesado e agressivo, porém moderno e com claras influências de Heavy Metal tradicional, com um trabalho melódico mais bem elaborado e cuidadoso. O Kreator consegue de forma coesa manter suas características agressivas e incorporar melodia ao caos de seus riffs.

Ventor faz um grande trabalho na bateria. Sami Yli-Sirnio demonstra toda a sua técnica e a importância que tem no direcionamento moderno da sonoridade da banda. Enquanto Mille Petrozza nos faz, mais uma vez, ver por que ele é um dos maiores riff-makers do Thrash Metal, sem falar de sua versatilidade nos vocais – dos rasgados, passando pelos urrados, chegando ao vocal limpo (como na magnífica “From Flood Into Fire”).

Após a intro “Mars Mantra”, o álbum abre com a faixa-título fazendo você bater cabeça incessantemente, com seus riffs dilacerantes e o refrão agressivo. Na sequência, a não menos pesada “Death to the World”. Os refrões marcantes e empolgantes são marca da banda e isso se destaca em “Civilization Collpase” (que se inicia com um trabalho mais rítmico de Ventor na bateria) e “United in Hate” (com uma bela intro de violão). Por fim, não se pode deixar de “Your Heaven, My Hell” (que exalta bem essa mescla do Thrash Metal com o Metal tradicional, com riffs menos secos e mais melódicos e um belo solo de guitarra) e “Victory Will Come”.

Phantom Antichrist é um álbum muito bom, que mostra um Kreator cada vez mais senhor desse novo estilo em que enveredou nos anos 2000. Pesado, agressivo, melódico e épico. É o melhor álbum da banda? Não. Mas, sem dúvida, é o melhor álbum de Thrash Metal de 2012.

A Map of All Our Failures – My Dying Bride



Das três bandas que formaram a “tríade” do Death/Doom Metal britânico, apenas o My Dying Bride manteve sua sonoridade mais próxima ao Doom Metal ao longo de toda a sua carreira. Enquanto Anathema e Paradise Lost mudaram completamente, o My Dying Bride jamais abandonou suas raízes. Claro, nos anos 2000 a banda esteve mais para o Gothic/Doom do que para o Death/Doom originário, mas o “down-tempo”, os riffs pesados e sombrios, o clima tétrico e melancólico sempre esteve presente.

Completando 22 anos de carreira, o My Dying Bride compôs um de seus melhores trabalhos em sua vasta e excelente discografia. A Map of All Our Failures, 12º álbum de estúdio dos britânicos de Halifax, soa como um resumo histórico de toda a trajetória dos mestres do Death/Doom Metal.

Guitarras pesadas, com riffs sombrios e tétricos, em que Andrew Craighan e Hamish Hamilton fazem um grande trabalho harmônico. Shaun McGowan com seu violino e os teclados se encarrega de dar o clima fúnebre e atmosférico. A cozinha é precisa, com passagens mais cadenciadas e rítmicas e outras mais rápidas, com alguns blasts de Death Metal (como na faixa de abertura “Kneel Til Doomsday”).

E o que falar do inigualável Aaron Stainthrope? Mais do que a voz do My Dying Bride, Aaron é a alma da banda. Poucos vocalistas conseguem exprimir através de sua voz o som do silêncio, a beleza das sombras, a emoção da melancolia. Cativante, marcante, emocionante.

Não há nenhuma banda que seja capaz de transformar a melancolia em algo tão belo como o My Dying Bride. Em A Map of All Our Failures o My Dying Bride mostra, mais uma vez, toda a beleza e o encantamento do soturno. Escutem “The Poorest Waltz”, “A Tapestry Scorned”, “Like A Perpetual Funeral”, “Hail Odysseus” e “Abandoned As Christ” para compreenderem um pouco deste sentimento.

House of Gold & Bones part 1 – Stone Sour



House of Gold & Bones part 1 é o quarto álbum de estúdio do Stone Sour, banda que conta com Corey Taylor (vocalista do Slipknot), Jim Root (guitarrista do Slikpnot) e Roy Mayorga (que fez uma tour europeia com o Sepultura em 2006, após a saída de Iggor Cavalera). Além deles, completa a banda o guitarrista Josh Hand. Para o baixo, Rachel Bolan, do Skid Row, foi convidado para gravar o álbum.

Desde que conheci o Stone Sour, no álbum Come What(ever) May, tornei-me um admirador da banda. Inevitável não virar fã da versatilidade de Corey Tailor. Quem espera algo parecido com o Slipknot, pode esquecer. No Stone Sour, Corey mostra todo o seu potencial, variando entre o vocal limpo e passagens mais agressivas. Eu diria que o Corey Tailor do Stone Sour é muito melhor que o Corey Tailor do Slipknot.

Idealizado para ser um álbum duplo, House of Gold & Bones terminou sendo dividido em dois. A primeira parte foi lançada em 2012, enquanto a segunda ficou para 2013. Conhecendo a discografia do Stone Sour, posso dizer House of Gold & Bones part 1 não só manteve o alto nível da banda, como foi ainda mais longe, aprimorando a sonoridade dos caras.

Estamos diante de um grande álbum de Rock, ora flertando com o Hard Rock, ora flertando com o que podemos denominar de “Radio Rock” (aquele Rock de melodia pegajosa que toca facilmente em qualquer FM). Mas, ao contrário de seus antecessores, em House of Gold & Bones part 1 o Stone Sour foi mais fundo em suas influências de Heavy Metal e este álbum pode ser facilmente considerado o mais pesado de sua discografia.

Rock, Hard Rock, Metal e, claro, baladas. Tudo de primeira qualidade. É isso que se encontra neste álbum. O destaque não pode deixar de ser a performance de Corey Tailor. Mas não seria justo não mencionar as boas linhas de guitarra, com alguns riffs bem pesados, em algumas passagens que fazem bater cabeça incessantemente, e também bons solos. Roy Mayorga faz um grande trabalho, sendo bem acompanhado pelo baixo de Rachel Bolan.

“Gone Sovereign”, “Absolute Zero”, “A Rumor of Skin”, “The Travelers” (as duas partes), “Tired” e “Tacitum” são minhas faixas preferidas.

House of Gold & Bones part 1 não podia ficar de fora da minha lista de preferidos do ano. E a julgar pela primeira parte, é de se esperar que a parte 2 venha a figurar na lista de 2013.

Dark Roots of Earth – Testament



Formada inicialmente sob o nome de Legacy, apenas em 1986 o Testament assumiu sua identidade atual. Entre 1987 e 1992, a banda lançou cinco grandes álbuns de Thrash Metal. A partir de então, curiosamente, o grupo traçou um guinada para o Death Metal (Low e Demonic), fechando os anos 1990 com o excelente The Gathering, que eu considero mais um Death/Thrash Metal (com o mestre Dave Lombardo na bateria).

Passados nove anos sem um álbum de inéditas e já com o retorno do maestro Alex Skolnick nas guitarras, o Testament lançou o The Formation of Damnation, em 2008. Quatro anos depois, a banda apresenta o espetacular Dark Roots of Earth, álbum que pode figurar facilmente entre os melhores da discografia do grupo (pelo menos já é um dos meus preferidos).

Os trabalhos da dupla Eric Peterson e Alex Skolnick são espetaculares! Riffs poderosos e galopantes, solos sensacionais. A presença de Gene Hoglan na bateria dá um acréscimo de peso ao som da banda, compondo uma grande cozinha com Greg Christian. Chuck Billy, por sua vez, mostra toda a sua versatilidade e deixa claro porque é um dos maiores vocalistas de Thrash Metal da história.

Em Dark Roots of Earth vemos um Testament que solidifica o seu “retorno” ao Thrash Metal, mas sem deixar de flertar, em alguns momentos, com o Death Metal que marcou a sonoridade da banda nos anos 1990 e também com o Heavy Metal tradicional, influência originária da banda.

O álbum abre com uma dupla “Rise Up” e “Native Blood” arrasadora! Seguida pela faixa-título e a empolgante “True American Hate”. Ainda há espaço para uma balada, “Cold Embrace” e para “Man Kills Mankind”. A versão deluxe do álbum traz três covers – Dragon Attack (Queen), Animal Magnetism (Scorpions) e Poweslave (Iron Maiden), esta última simplesmente espetacular.


Dead End Kings – Katatonia



Com 21 anos de carreira, os suecos do Katatonia chegam em 2012 com o seu nono álbum de estúdio, Dead End Kings. Longe vão os tempos do Death/Doom Metal dos primórdios da carreira (que bem no início ainda tinha espaço para um quê de Black Metal, as primeiras demos e o álbum Dance of December Souls não deixam negar). Porém, há uma característica marcante na sonoridade do Katatonia: a cativante melancolia, embalada pelo tom atmosférico de suas músicas.

Dead End Kings trata com delicadeza a melancolia e o soturno, em sua atmosfera sombria e relaxante, unindo elementos cada vez mais evidentes do Prog Metal com o Depressive Rock que fez a banda ser rotulada por alguns de Despair Rock – um bom termo para tentar resumir a sonoridade dos suecos.

“The Parting” e sua introdução de violoncelos abrem de forma magistral o álbum, seguida por “The One You Are Looking For Is Not Here”, com participação de Silje Wergeland do The Gathering, lembrando um pouco o Anathema atual (com a vocalista Lee Douglas). “Hypnone” dá um tom sombrio. A faixa mais pesada do álbum é “Buildings”, sem dúvida a mais Metal de todas. “Undo You” e “Leathen” também merecem destaque. “Dead Letters” encerra o álbum com um tom progressivo e pesado, deixando claro o direcionamento atual do Katatonia.

Em Dead End Kings o Katatonia mostra sua maestria em compor canções melancólicas que misturam com perfeição elementos do Metal com o Rock mais depressivo e progressivo. Um salve para o excelente trabalho do guitarrista Andy Nystrom e o soberbo vocal de Jonas Renkse.

The Scarred People – Tiamat



A Escola do Death Metal sueco é muito forte e apresentou ao mundo algumas das melhores bandas do gênero. Em 1990, o Tiamat lançou o álbum Summerian Cry, um clássico do estilo. Mais dois álbuns se seguiram e consolidaram a banda dentre os principais nomes do Death Metal. Em 1994, as influências de Pink Floyd vieram à tona no Wildhoney, que marcou a separação do Tiamat da sonoridade inicial e traçou um caminho que se caracterizaria pelo aprofundamento nas experimentações e inovações. Death, Doom, Gothic Metal, Gothic Rock, Psicodelismo e Blues... A banda não se poupou em experiências.

Em 2008, após um hiato de cinco anos, o Tiamat voltou a gravar um álbum, Amanethes, em que retomava um pouco ao Metal, após dois álbuns (Judas Christ e Prey) claramente Gothic Rock.

The Scarred People é o mais novo lançamento dos suecos. Atmosférico, psicodélico, pesado, sombrio e sinfônico. Dessa forma se pode resumir este álbum. O Tiamat resolve passar um pouco por muitas de suas influências, com faixas mais pesadas dividindo espaço com outras mais introspectivas e ainda algumas onde a influência de Pink Floyd aflora.

Neste novo trabalho, os suecos mostram um pouco do que seria um encontro entre Pink Floyd, The Sisters of Mercy, Type O Negative, com uma pitada de Heavy Metal. Ou se você preferir buscar referências na própria discografia da banda, imagine uma mistura de Wildhoney com Prey. Assim terá uma boa noção do que é o The Scarred People, em que Johan Edlund mostra toda a sua genialidade, com um grande trabalho de orquestração, belas linhas de teclado, para não falar de sua voz singular e emocionante.

A faixa-título abre o álbum da melhor forma possível, com sua introdução épica e pesada. “Radiant Star” apresenta um grande solo de guitarra (bem ao estilo Blues Rock) e um teclado dando um tom sinfônico. “Love Terrorists” é espetacular! Começa numa linha bem Pink Floyd, psicodélica, e culmina em riffs pesados. “Messinian Letter” tem um início Bluesy, mas logo descamba para uma sonoridade meio country, meio Gothic Rock. “Thunder & Lightning” nos remete ao Judas Christ e Prey, com sua sonoridade mais Gótica. “The Red of the Morning Sun” encerra o álbum em clima mais ameno e tranquilo, sendo uma faixa que encaixaria muito bem no Wildhoney. 

Em suma, se você curte a trajetória do Tiamat a partir do Wildhoney, gosta de álbuns como Judas Christ (meu preferido, confesso) e Prey, The Scarred People é imperdível.
 
Expectativas para 2013

Na realidade, tenho apenas uma expectativa: o novo álbum do Sepultura, que deverá começar a ser composto no primeiro semestre e deve vir a ser lançado no segundo semestre de 2013. Será o primeiro trabalho de Eloy Casagrande na banda e estou bastante curioso por ouvir o que este pequeno “monstro” da bateria pode aprontar nas novas composições.

domingo, 2 de setembro de 2012

Para discutir mais seriamente o Recife


Emanuel Leite Jr.


Délio Mendes, 70 anos, é um professor universitário aposentado pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (Ufrpe). Bacharel em Ciências Sociais e Doutor em Ciência Política e Sociologia pela Universidad de Deusto (Espanha), Délio é um militante político há 54 anos que agora, de volta ao Partido Comunista Brasileiro (PCB), resolveu se lançar candidato ao cargo de vereador na Câmara Municipal do Recife. Sua candidatura tem como propósito “ocupar um pequeno espaço para falar de um novo Recife e poder discutir mais seriamente a nossa cidade”, afirmou Délio.

Conheci Délio nos tempos da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), onde fui seu aluno na disciplina de Ciências Políticas, quando cursei Bacharelado em Direito. Descobri, através do Facebook, que Délio era candidato a vereador. Entrei em contato por telefone e marquei para que nos encontrássemos em sua casa. A entrevista ficou marcada para a terça-feira, dia 28 de agosto, às 8h. Cheguei ao prédio dele pontualmente. E lá estava Délio me aguardando. “Entre, sinta-se à vontade. Vamos conversar sobre política”, convidou-me para o diálogo, como nos tempos de Unicap.

Alguns dos 54 anos de militância política de Délio foram dedicados ao Partido Popular Socialista (PPS), fundado em 1992, que pretendia ser uma continuidade renovadora do “Partidão” (PCB), após a queda do Muro de Berlim e o fim da União Soviética. “Em um primeiro momento, o PPS conseguiu exercer o seu papel de crítica na esquerda”, começou por avaliar. “Mas, infelizmente, com o tempo, o partido se dirigiu para a direita. Para mim, tornou-se muito difícil ver o PPS de braços dados com políticos que sempre combati”, analisou. “Hoje, o partido é praticamente uma linha auxiliar do PSDB”, finalizou, explicando seu rompimento com o PPS há cinco anos e retorno ao PCB.

A volta ao PCB, na avaliação do professor, foi um caminho natural, como quem volta para a casa. “Hoje o PCB é realmente o meu partido, o meu lugar. Acredito, cada vez mais, que o socialismo é o caminho a ser seguido, para consolidarmos uma sociedade comunista”, ponderou Délio.

É neste contexto ideológico, o da crítica de esquerda em um país governado “por um PT que tem áurea de esquerda, mas que, na prática do poder, não é de esquerda”, que Délio insere a sua candidatura. Ele busca, junto com a Frente de Esquerda (PCB/PSOL), “sair das discussões banais, debater a sociedade brasileira, pernambucana e, principalmente, a recifense a partir da perspectiva marxista”, sustentou.

O PCB tem como candidato à prefeitura Roberto Numeriano. O slogan da campanha da Frente de Esquerda é “O Recife tem dono. O dono é o povo”. Recentemente, quando iniciaram as transmissões dos guias eleitorais, surgiu algo curioso. Daniel Coelho, do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), apresentou um jingle em que apresenta “Recife não tem dono. O Recife é do povo”. Na visão de Délio, o PCB não deveria dar muita importância para este tema. “O que nos interessa é apresentar nossas propostas. Mostrar que estamos dispostos a debater os verdadeiros problemas do Recife”, comentou.

Para Délio, a verdadeira discussão não pode se limitar a construções de viadutos ou de ruas. “São coisas importantes, claro. Mas temos que ir além”, observou. “Por exemplo, os empresários de transporte coletivo lucram cada vez mais, enquanto o usuário, que é o trabalhador, está cada vez mais prejudicado, com um serviço precário e que piora a cada dia”, citou. Na visão dele, em nossa cidade, não se discute o problema do transporte coletivo da mesma forma como se discute o individual.

“Os pobres sempre saem perdendo no combate cotidiano. Cheias, chuvas, por exemplo. Por que os mais prejudicados sempre são as pessoas com renda menor de dez salários mínimos?”, criticou Délio, na expectativa de que o povo recifense reflita sobre as suas reais necessidades.

domingo, 8 de abril de 2012

Sepultura inicia turnê norte-americana na terça-feira



Depois de uma maratona de shows no Leste Europeu (15 apresentações em 19 dias, passando por cinco países - sobre esta tour: http://emanuel-junior.blogspot.com.br/2012/04/sepultura-encerra-hoje-bem-sucedida.html), a banda brasileira Sepultura inicia nesta terça-feira, dia 10 de abril, a turnê norte-americana de divulgação de seu álbum mais recente, “Kairos”. A “North American Kairos Tour 2012”, que passará por 21 cidades dos Estados Unidos e do Canadá em 22 dias, contará, também, com a participação das bandas Death Angel, Krisiun e Havok. O primeiro show ocorrerá em Santa Ana, na Califórnia.

Esta será a segunda turnê do Sepultura na América do Norte no espaço de um ano. Desta vez, os brasileiros apresentarão o álbum “Kairos” aos norte-americanos. Sobre o assunto, o guitarrista Andreas Kisser comentou, em exclusividade para o nosso blog, “a tour do ano passado já foi excelente e o KAIROS ainda não tinha saído. Agora, com o disco mais conhecido [pelos fãs], vai ser ainda melhor”.

O Sepultura foi a primeira banda brasileira a se aventurar fora do país e a ser bem-sucedida em suas aspirações. Desde 1989, quando excursionaram pela Europa ao lado dos alemães do Sodom, nunca houve a oportunidade de fazer uma digressão junto com outra banda brasileira. Na “North American Kairos Tour 2012” eles terão essa possibilidade, já que os gaúchos do Krisiun estão no cast da turnê.

Andreas se mostrou bastante entusiasmado com o fato de ter o Krisiun ao lado do Sepultura. “Finalmente nós teremos uma banda do Brasil com a gente, especialmente uma banda que está muito bem internacionalmente, é fantástica no palco e são grandes amigos, tenho certeza que vamos curtir muito. Vai ser histórico”, finalizou, empolgado, o músico.

Além das expectativas do Andreas Kisser, colhemos também a opinião de Jason Korolenko, fã do Sepultura de longa data e que está escrevendo um livro sobre a história da banda, cujo título é “Relentless” (que é o título de uma das músicas do “Kairos” e significa implacável, em português).

Jason Korolenko, escritor, 36 anos de idade, da cidade de Laconia (Nova Hampshire), já garantiu ingressos para três shows (nas cidades de Burlington, Pawtucket e Albany) e ainda cogita a possibilidade de ir a outros dois (em Nova Iorque e em Montreal, Canadá). Ele nos disse que está muito feliz pelo fato de ver o Sepultura novamente nos EUA em tão curto espaço de tempo (apenas um ano após a sua última turnê no país) e tem “a certeza de que os shows serão legendários”.

A “North American Kairos Tour 2012” começa no dia 10 de abril, em Santa Ana (Califórnia), na costa oeste dos Estados Unidos, e vai até o dia 01 de maio, encerrando-se na cidade de Jermyn, estado da Pensilvânia (costa leste). Sobre esta maratona de shows (mais uma logo na sequência da turnê do Leste Europeu) e questionado como fazia para aguentar o ritmo intenso e acelerado do Sepultura, Andreas falou “eu amo o que faço, aí as coisas ficam mais fáceis”. E os fãs agradecem tamanha dedicação ao Sepultura e à música.

sábado, 7 de abril de 2012

Sepultura encerra hoje bem-sucedida turnê no Leste Europeu



Os brasileiros do Sepultura encerram hoje, 07 de abril, em Minsk (capital da Bielurrússia), uma maratona de 15 shows em 19 dias na bem-sucedida “Kairos Eastern European Tour”, a turnê de divulgação de seu mais recente álbum, “Kairos”, no Leste Europeu.

Ao todo, a banda passou por cinco países – Letônia, Estônia, Finlândia, Bielorrússia e Rússia. Foi na Rússia onde eles fizeram mais apresentações, 11 no total, algo inédito na já longa carreira do grupo, que comemorará 28 anos de existência em dezembro de 2012.

Em meio à correria de tantos shows seguidos, com viagens em aviões não tão seguros ou uma travessia pela Sibéria no trem transiberiano, além de tardes de sessões de autógrafos em diversas cidades russas, o guitarrista Andreas Kisser encontrou um tempo em sua agenda para falar com o nosso blog a respeito da turnê.

Andreas nos disse que a turnê foi muito boa, celebrando o fato de os fãs terem recebido muito bem as cinco músicas do “Kairos” (“Kairos”, “Relentless”, “Dialog”, “Mask” e “Just One Fix”) que eles tocavam a cada show. “As músicas novas estão funcionando muito bem, eles conhecem bem o material novo assim como toda a história [do Sepultura]”, contou Andreas ao nosso blog.

Sobre a Rússia, em específico, Andreas se mostrou satisfeito em terem feito uma série extensa de shows por todo o país e, também, com a recepção dos fãs russos, “muito intensos”, segundo descreveu.

Para além das questões mais diretamente ligadas à música, Andreas concedeu, em exclusividade ao nosso blog, suas impressões acerca das mudanças na Rússia e Letônia, países em que o Sepultura tocou pela primeira vez em 1992 (poucos meses depois da ruptura da União Soviética), para a realidade dos dias atuais, 20 anos depois da queda do império soviético – “mudou tudo, tudo mesmo. O astral é bem mais leve hoje em dia e os países parecem ser outros. Há 20 anos, o muro tinha acabado de cair e as coisas estavam muito difíceis, pobreza geral e um sentimento de confusão, de ‘e agora?’. Hoje os países estão com uma bela estrutura”, disse.

Depois da maratona pelo Leste Europeu, não pense que a banda voltará ao Brasil para descansar. No dia 10 de abril o Sepultura dará início a mais uma série de shows, desta vez será a “North American Kairos Tour 2012”, em que o grupo fará 21 shows em 22 dias, passando pelo Canadá e pelos EUA.

PS. Foto de Derrick Green, retirada da página do Facebook do vocalista do Sepultura.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

A Rosa Púrpura do Cairo - Análise crítica à indústria cultural



Em “A Rosa Púrpura do Cairo” Woody Allen busca discutir o cinema e a sua relação com o espectador; abordando o modo como o cinema, ao reproduzir (de forma fantasiosa) a realidade, ilude o espectador e leva ao seu público o entretenimento através da “magia” e da fantasia.

Woody Allen levanta, em certas passagens do filme, a dicotomia: realidade x ficção. O cinema é a representação do real; o cinema recorre à ficção para criar um mundo “novo”, que representa, de seu modo, a realidade; porém, o cinema não é a realidade.

Além disso, Woody Allen trabalha magistralmente o tema da indústria cultural. O cinema, como manifestação artística que é, encontra-se inserido dentro da grande indústria do entretenimento e, portanto, é parte da indústria cultural.

Nota-se o tom crítico do autor em relação à indústria cultural em diversas cenas do filme. Por exemplo, quando os personagens do filme, “presos” na tela, discutem quem tem o papel mais importante, sendo que a perspectiva, na discussão, gira em torno do consumo, na medida em que os personagens medem suas importâncias sob o ponto de vista meramente comercial – quem venderia mais ingressos, ou seja, quem daria mais lucro à indústria cultural.

Há outra cena em que a crítica de Allen à engrenagem da indústria cultural fica bastante evidente. É quando os responsáveis pelo filme, representando os proprietários dos estúdios em seus anseios, afirmam que a opinião dos jornalistas seria favorável a eles e deixam claro que compraram esse posicionamento amistoso dos jornalistas, pois dizem que custou caro, mas que conseguiram ter os jornalistas ao seu lado.

Nesta cena, fica subentendido que os jornalistas não fariam críticas contundentes à situação e, portanto, não haveria grande contestação ou cobrança em relação ao fato inusitado da fuga de um dos personagens, que estava “foragido” na vida real. A Teoria Crítica da Escola de Frankfurt define esta situação como homogeneização da opinião pública, enquanto Noam Chomsky, no mesmo sentido, fala em “consentimento manufaturado. Woody Allen, portanto, na cena em questão, demonstra claramente como é possível se criar um consentimento em torno de um tema, possibilitando que a opinião generalizada seja homogênea, igual e favorável aos interesses daqueles que detêm o poder econômico e influência na esfera da comunicação social.

Tom, o “foragido”, é um personagem que representa alguém que é aventureiro, explorador, pesquisador (é um arqueólogo), mas, ao mesmo tempo, é também uma figura romântica, poética e, por isso, bastante encantadora.

Viver no mundo real, para Tom, seria inviável e insustentável. Tom é um personagem e, portanto, é condicionado em suas ações pela pré-definição de seu personagem. Ele age, em determinadas situações, de forma condicionada, quase que automatizada. É como se fosse um animal agindo por instinto, ou seja, sem a capacidade racional que diferencia os homens – poder escolher, agir por conta própria, tomar suas próprias decisões.

Inclusive, há uma cena em que um dos personagens, “preso” na tela, diz a Cecília que ela tem que se decidir – entre Tom e Gil – e afirma que poder escolher é uma das grandes virtudes do Homem. Isto é racionalidade. Isto é que nos permite viver em sociedade. E esta era a grande lacuna de Tom, um personagem, condicionado às características definidoras e delimitadoras do seu personagem. Por isso, Tom não viveria no mundo real.

Cecília, por seu turno, mulher que sofre maus-tratos do seu marido, suportando agressões físicas e psicológicas (devastadoras para qualquer pessoa). Trabalhadora, sustenta a casa, em período de grande depressão econômica,  com o suor de seu esforço.

Para Cecília, ir ao cinema, e entrar no mundo de magia e fantasia criado pelos filmes, era uma forma de fugir à (sua dura) realidade, uma maneira, levada pela ilusão, de se sentir feliz e confortada.

Gil, o ator que interpreta Tom no filme, prometeu a Cecília que a levaria com ele para Hollywood. Contudo, Gil não cumpriu a sua promessa, deixando Cecília em Nova Jérsei, sem, sequer, despedir-se dela.

No breve relacionamento entre Cecília e Gil, o ator interpretou um personagem na vida real, foi um “ator social” contracenando um determinando papel em uma situação específica de sua convivência social. Gil pretendia que Tom, seu personagem, retornasse para a tela e, a fim de lograr êxito em seu intuito, usou Cecília como meio de convencimento de Tom.

Cecília, ao se dar conta de mais uma desilusão em sua vida, abandonada por Gil, o escolhido por ela, volta à sala de cinema e o filme termina com Cecília assistindo a mais uma obra cinematográfica.

Voltar ao cinema, para Cecília, é retornar ao seu ponto de escape da realidade, é voltar ao local da fantasia, da ilusão. O cinema é o único local em que Cecília pode encontrar a felicidade, em contraponto à dureza de seu cotidiano. Ela busca na fantasia a ficção o conforto que não encontra em sua vida, na dificuldade do seu mundo real.

Nesta cena final, mais uma vez, temos a crítica de Woody Allen à indústria cultural. É que Cecília vai ao cinema no mesmo dia em que fora abandonada por Gil e assiste ao filme que substituiu, imediatamente, aquele em que Gil interpretava Tom e que havia dado problema.

Ou seja, a indústria cultural trata a arte como uma mera mercadoria, onde há, lembrando os ensinamentos de Pierre Bourdieu, uma autonomização progressiva do sistema de produção, circulação e consumo dos bens culturais, bens estes já tratados como meras mercadorias em que a produção dos bens simbólicos destina-se a um mercado consumidor, que possui demandas específicas.

Cecília, ávida consumidora de filmes, que busca na magia do cinema o conforto que não tem em sua vida real, é levada, pela indústria cultural, a consumir mais um filme, um bem que perde seu valor artístico em prol do seu valor comercial e visa a atender, exclusivamente, às necessidades da indústria do cinema, da indústria cultural.

Ficha técnica:

Título Original: The Purple Rose of Cairo
Gênero: Comédia
Tempo de Duração: 81 minutos
Ano de Lançamento (EUA): 1985
Estúdio:
Distribuição: Orion Pictures Corporation
Direção: Woody Allen
Roteiro: Woody Allen
Produção: Robert Greenhut
Direção de Fotografia: Gordon Willis
Desenho de Produção: Stuart Wurtzel
Direção de Arte: W. Steven Graham e Edward Pisoni
Figurino: Jeffrey Kurland
Edição: Susan E. Morse


 Elenco
Mia Farrow (Cecilia)
Jeff Daniels (Tom Baxter / Gil Sheperd)
Danny Aiello (Monk)
Irving Metzman (Administrador do cinema)
Stephanie Farrow (Irmã da Cecilia)
Edward Herrmann (Henry)
John Wood (Jason)
Deborah Rush (Rita)
Van Johnson (Larry)
Zoe Caldwell (Condessa)
Eugene J. Anthony (Arturo)
Karen Akers (Kitty Haynes)
Annie Joe Edwards (Delilah)
Milo O'Shea (Padre Donnelly)
Camille Saviola (Olga)
Juliana Donald (Usherette)
Dianne Wiest (Emma)