sábado, 29 de agosto de 2009

O bode expiatório e a fuga da realidade


A expressão “bode expiatório” tem sua origem nos tempos da Antiguidade, nas antigas tribos judaicas. O bode representava um papel simbólico nas cerimônias hebraicas do Yom Kippur, o Dia da Expiação.

O pobre animal era escolhido para concentrar em si todos os pecados do povo de Israel. Um sacerdote colocava as suas mãos na cabeça do coitado do bode e confessava para o infeliz animal todos os pecados da população de Israel. Posteriormente, o bode era solto na natureza selvagem a fim de que pagasse por todos os pecados cometidos pela gente de Israel. Por isso que se chama “bode expiatório” - expiação significa penitência, ou seja, castigo ou sofrimento de pena para se obter a remissão dos pecados.

Nos dias de hoje essa expressão ainda é utilizada em um sentido figurado. Sempre que se escolhe alguém como culpado por qualquer coisa negativa, mesmo que esse alguém não seja o culpado (ou o único culpado), estamos a fazer o mesmo que o povo das antigas tribos judaicas, quer dizer, escolhemos um “bode” a fim de que ele, sozinho e largado na “natureza selvagem”, pague por nossos erros ou nossas falhas (pecados).

A busca pelo “bode expiatório” é um mecanismo de defesa; um recurso para se apontar um responsável pelo(s) problema(s) e não assumir nossas próprias responsabilidades.

Para a Psicanálise o “bode expiatório” faz parte de um dos mecanismos de defesa da personalidade, a saber, a racionalização. Os mecanismos de defesa atuam de forma a que nós, seres humanos, não enfrentemos de frente todas as nossas frustrações e fracassos.

A racionalização seria um desses mecanismos de defesa e a eleição de um “bode expiatório” se encontra dentro de um dos recursos da racionalização. Jogar a culpa em alguém ou alguma coisa ao invés de assumirmos nossas responsabilidades não passa de um artifício para aliviarmos o nosso próprio sentimento de culpa e nos sentirmos melhores com nós mesmos e com os outros.

Dentre os mecanismos de defesa da personalidade podemos encontrar a projeção, que é “atribuir a outros as idéias e tendências que o sujeito não pode admitir como suas”, ou seja, jogar para cima de outra pessoa os nossos próprios defeitos.

Ao meu ver a ideia de “bode expiatório” tanto pode ser encontrada na racionalização como na projeção.

Dentro da Criminologia existe uma teoria que relaciona a ideia do “bode expiatório” com a necessidade da sociedade em ver o deliquente ser punido de forma exemplar.

Criminologia é uma ciência empírica e interdisciplinar que se ocupa do estudo do crime, da pessoa do infrator, da vítima e do controle do comportamento delitivo. E como ciência interdisciplinar e pluridimensional que é, a Criminologia mantém uma relação de interesses de estudo com a Psicanálise, são as chamadas Teorias Psicanalíticas da Criminalidade.

Dentre estas teorias podemos encontrar uma que é bastante interessante e que me levou a refletir um pouco e, obviamente, a escrever esse texto. Trata-se das Teorias Psicanalíticas da Sociedade e a Interpretação Funcional da Reação Punitiva.

Para esta teoria, o Direito Penal não busca, objetivamente, a justiça ou a prevenção do crime. Na realidade, a pena tem uma função de satisfazer uma necessidade da “sociedade sancionadora” que “necessita” do castigo.

A sociedade não busca na pena a justiça ou a prevenção dos crimes; na realidade a sociedade tem uma necessidade inconsciente do castigo, de ver o deliquente ser castigado, para que este sirva de exemplo e pague não só pelos seus erros, mas pelos desejos reprimidos de toda a sociedade.

É a ideia do “bode expiatório”. O deliquente, na verdade, é o alvo de todas as frustrações e agressividade da coletividade, que se identifica com ele e projeta sobre o mesmo a necessidade de castigo.

Tal como o pobre do bode, que leva consigo para o deserto todos os pecados do povo de Israel, a pena infligida ao criminoso tem um caráter coletivo e não individual (como é colocado pelo Direito Penal vigente). Na realidade a pena não serve para reeducar o indivíduo a fim de recolocá-lo no convívio social; o castigo imposto ao deliquente é o exemplo visível que a sociedade impõe ao “bode expiatório”, para que sirva de controle aos impulsos criminosos de todas as pessoas, uma vez que a própria sociedade se identifica com o criminoso.

Na prática do Direito Penal dogmático essa teoria esbarra, dentre outras coisas, com a Culpabilidade, que é um dos elementos constitutivos do crime.

Na Teoria do Crime, a Culpabilidade é o único dos três elementos (que integra e forma o crime) que versa sobre a pessoa humana. A culpabilidade é um juízo de reprovação pessoal – o desvalor da culpabilidade reprova o autor de um fato típico e antijurídico, por não haver se comportado conforme o direito ou não tendo se decidido pelo direito, quando podia se comportar conforme o direito ou podia ter decidido pelo direito.

Em resumo: a culpabilidade é um juízo negativo, de reprovação pessoal, ao autor do fato que poderia ter agido de acordo com as normas, mas, de forma consciente e livre, agiu contra as normas.

Isso bate de frente com a ideia de que a sociedade se projeta no criminoso, identificando-se com ele e que a pena é um mecanismo de repressão dos impulsos criminosos de todos os membros da coletividade.

Apesar disso, embora não vejamos aplicação prática dessa teoria psicanalítica no Direito Penal, não posso deixar de observar que, em termos de sociedade e comportamento humano, a teoria do “bode expiatório” é bastante interessante e, indubitavelmente, facilmente verificável através do convívio social.

Quem nunca conheceu ou conviveu com alguém que se recusa a assumir os seus próprios defeitos ou reconhecer as suas falhas?

Quem não conhece alguém que é excelente a apontar os erros e defeitos dos outros, mas é incapaz de se olhar no espelho e fazer uma autocrítica?

Quem não conhece pelo menos uma pessoa que coloca a culpa de tudo nos outros, que aponta o dedo com uma veemência voraz, mas que, quando confrontada com suas deficiências, reage de forma agressiva e não aceita uma análise negativa a respeito de seus atos?

Quem não conhece alguém que adora julgar e condenar as atitudes alheias?

Certa vez, uma amiga me disse – “Emanuel, essa pessoa que tanto critica os outros, que acusa e aponta o dedo às atitudes de todos, na verdade tem uma vontade tremenda de fazer tudo isso que ela critica, mas não tem coragem”.

Lá está. Essa minha amiga descreveu com perfeição a teoria do “bode expiatório” - apontar para os outros a culpa ou jogar para os outros os defeitos que não suporta admitir como seus.

Pois é, aí entra o “bode expiatório”... Apontamos para os outros a culpa dos nossos próprios desejos reprimidos que, quando refletidos nos outros, nos incomoda de uma forma que é necessário que o OUTRO pague pelos meus pecados/erros, a fim de que eu me sinta aliviado e possa conviver comigo mesmo de forma tranquila e serena.

Somos todos humanos e todos nós somos passíveis a erros e defeitos. Todos nós agimos inconscientemente em defesa de nossa personalidade. Por isso que devemos estar sempre atentos às nossas ações e devemos procurar nunca julgar os outros sem antes fazermos uma autocrítica e termos personalidade forte o suficiente para assumirmos nossos erros e defeitos, sem ter que recorrer a “bodes expiatórios” para fugir da realidade.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Frio, lamento e dor


Não, você não pode perder aquilo que nunca teve.

Não, você não pode desfazer aquilo que nunca foi feito.

Não, você não pode chorar quando já não há mais lágrimas.

Não, você não pode sorrir se não existem momentos de felicidade.

Não, você não pode sonhar, pois não há sonhos quando não existe mais esperança.

Não, você não pode acabar o que nunca começou.

Não, você não pode jamais enfrentar a morte, pois não existe a morte se nunca houve a vida.

Não existe emoção.

Não existe razão.

Não existe calor.

N

Ã

O

!

Só te resta o frio.

Só te resta o lamento.

Só te resta a dor.

Frio.

Lamento

(e) Dor.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Páginas em branco


Escrevo páginas em branco, folhas lisas e limpas, sem nada a declarar.

Inerte.

Diante de uma página em branco.

Paralisado.

Página em branco, palavras que não se lêem, de uma vida insignificante.

Estático.

O branco atormentador. O vazio de uma folha que nada tem para contar.

Escrevo páginas em branco.

Folhas lisas e limpas. O pálido reflexo de uma existência que mal dá para se notar.

Imóvel.

Página em branco, corpo vazio, um espírito que anda a vagar.

Escrevo páginas em branco, folhas lisas e limpas.

Páginas em branco, de um livro não escrito, sobre uma vida que se deixou escapar.

Inerte. Paralisado. Estático. Imóvel.

Jacente.

Aqui jaz uma vida em branco, sem nada para contar.

Páginas em branco. O pálido reflexo daquele que mal dá para se notar.

Vazio. Completamente vazio.

Páginas... Em BRANCO.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Há gosto, agosto? A gosto augusto? (Ah!)gosto...



O vento que traz consigo nuvens cinzas (carregadas de esperanças [perdidas]), também traz lembranças daquilo que foi sem nunca ter sido; da vida que não se viveu; do sonho que se sonhou e nunca se tornou realidade... Ah! o peso incomensurável e inevitável da realidade.


Estamos na segunda metade do mês de Augustus, o que podemos dizer sobre esses dias que passaram e o que esperar dos dias que virão?


Sublimes?


Esplendorosos?


Majestosos?


Augustos?


Ah!gosto... A gosto de todos. Há gosto de quê em agosto?


As nuvens cinzas, carregadas de dor e (des)gosto neste mês de (há)gosto, despejam sobre a superfície da Terra lágrimas daqueles que perderam as esperanças – pobres inocentes que ousaram acreditar... Quem espera sempre alcança? Ou quem espera se desespera?


Esperança – o pensamento e a perspectiva – de que algo novo (e melhor) surja em nossas vidas. A expectativa angustiante.


A espera.


À espera.


Há espera(nça)?


Há gosto na espera?


O que esperar dos últimos dias do mês de Augustus?


Se dissessem que você é alguém – Alguém - Você pararia para pensar? Pensar em como seria a sensação de saber que é alguém?!


Você espera por isso?


Há um gosto sublime em agosto? Sente-se o esplendor de Augustus?


Ah!gosto... A gosto de todos. Há gosto de quê em agosto?


Da esperança – que alcança?


Ou da espera que (nos) cansa?


Nuvens cinzas - cheias dos vazios sonhos de quem cansou de esperar.


Nuvens cinzas - repletas do amargo gosto do (des)gosto neste mês de agosto.


Agosto augusto?


Ou


Agosto angustiante?


Há gosto em agosto? Gosto de quê, agosto?


(Ah!)gosto...

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

SEPULTURA EM RECIFE, 08/08/2009

No sábado passado, dia 08 de agosto, rolou o show do Sepultura no Clube Português. A banda apresentou ao público pernambucano o seu mais recente lançamento, o matador “A-LEX”, em um evento que contou também com o show do Angra, em turnê nacional conjunta das duas maiores bandas de Metal do país.

Nem preciso dizer que sou fã do Sepultura, pois isso é conhecimento público (porra, até gente que não me conhece sabe disso hahahaha). Então, é desnecessário dizer que um show do Sepultura para mim é algo especial e sempre gera uma grande expectativa.

Contudo, devido a alguns fatores singulares, esse dia 08 de agosto de 2009 se tornou ainda mais especial.


Homenagem da torcida Metal Alvirrubro



Antes do show fui ao camarim com Charles da Metal Alvirrubro, para entregarmos a cada integrante da banda uma camisa em homenagem aos 25 anos do Sepultura, desenhada por Charles exclusivamente para a ocasião.

Ficamos lá no camarim, entregamos as camisas e conversamos um pouco com os caras.

Registramos a entrega das camisas em foto. Levei meu “trapo” do “SepulNáutico” para compor melhor a imagem. :)

Além de Charles, entraram também meu amigo Pajé e a namorada de Charles. E eles puderam constatar que os caras são todos simpáticos e atenciosos, sem nenhum ‘estrelismo’. É isso que diferencia o Sepultura de muita banda por aí... Attitude and Respect!

Faço aqui o agradecimento a todos integrantes da banda, incluindo André Dellamanha (apesar do comentário sobre o estádio da Luz). E em especial ao Andreas, pela atenção e disponibilidade de sempre.


O SHOW!


O último show do Sepultura em Recife foi no Abril Pro Rock de 2007, ou seja, há mais de dois anos. Na altura, a banda se apresentou na capital pernambucana pela primeira vez com a sua nova formação, tendo Jean Dolabella nos comandos das baquetas.

Em fevereiro de 2008 fui a Fortaleza sacar o show dos caras e pude perceber como a banda tinha evoluído desde o show do APR no ano anterior e como o Jean estava muito mais integrado e entrosado.

Com o ‘A-LEX’ esta evolução se tornou ainda mais evidente, notando-se claramente a enorme contribuição de Jean, que trouxe um novo gás e também muita técnica para o Sepultura.

Esperava ansioso por um show desta turnê. Os vídeos que apareciam na net já deixavam uma coisa bastante clara: as novas músicas funcionam muito bem ao vivo. Por isso, a expectativa de poder ver/ouvir petardos como “Moloko Mesto”, “What I Do!”, “Conform” e a matadora “The Treatment” era enorme.

Por volta de 1h17m já do dia 09 a banda subiu ao palco e após a intro com uma das músicas instrumentais “A-Lex”, começaram a soar os primeiros riffs de “Moloko Mesto”, violenta e enérgica tal qual o grupo comandado pelo deliquente Alex, não tinha como começar o show de melhor forma. A banda emendou com mais duas músicas novas, “Filthy Rot” e a pauleira de “What I Do!”.

Sem descanso para os ouvidos, um clássico do Heavy Metal: “Refuse/Resist”, cantada a uníssono por um Clube Português com um bom público presente. Na seqüência, “Convicted in Life”, do “Dante XXI”, música que, na minha opinião, combina muito bem com “Refuse/Resist”.


Uma breve pausa para respirar e a banda começa a executar “We’ve Lost You”, primeira música de trabalho do “A-LEX”. Momento digno de registro: essa música ao vivo é, simplesmente, espetacular! É de impressionar a excelente sincronização da música com o jogo de luz. Sem dúvida, em termos de espetáculo, um dos momentos mais altos da apresentação dos caras.

“A-LEX II” já anunciava o que viria a seguir... A melhor música do novo álbum, e, para mim, o mais novo clássico do Sepultura: “The Treatment”! É uma das músicas mais pesadas e rápidas do “A-LEX” e ao vivo ficou muito foda. Agora é ficar à espera do clipe, que deve sair em setembro.

A banda continuou a “destruição” resgatando alguns dos grandes clássicos que compõem os 25 anos de sua história. “Dead Embryonic Cells”, “Troops of Doom” (que roda foi aquela?! Hahaha) e “Sceptic Schizo / Escape to the Void” e “Inner Self” são para acabar com qualquer pessoa! Perfeito.

Depois dessa matadora seqüência, os caras mandaram o hino “Sepulnation”, canção que deveria ser sempre executada ao vivo, pois além de ser muito boa, tem um significado que vai muito além da música em si... “Rise up, Sepulnation!”.

Mais dois clássicos do Heavy Metal mundial, “Territory” e “Arise” quase colocam o Clube Português abaixo!

Para finalizar, os caras mandaram a potente “Conform” e fecharam com a mais do que clássica e esperada... “Roots Bloody Roots”, que fez o Clube Português estremecer!

A energia que o Sepultura transmite ao vivo é impressionante! Poucas são as bandas de Heavy Metal que conseguem fazer um show tão espetacular em todos os sentidos: qualidade do som, estética e energia.

Qualidade no som é algo imprescindível em qualquer apresentação ao vivo e o Sepultura sabe como poucos se fazer ouvir em alto e bom som. Pela primeira vez o público de um show no Clube Português pôde ouvir um som de qualidade.

De se ressaltar o cuidado com a apresentação como um todo. A sincronização entre música e luzes foi um espetáculo à parte. Nenhuma outra banda nacional apresenta um show tão bem cuidado e executado como o Sepultura.

Além, claro, da marca registrada da banda: a sensacional presença de palco. Aquilo não é apenas um show, é uma verdadeira aula de Heavy Metal.

Enfim, todas essas características fazem de uma apresentação do Sepultura algo diferenciado. E na tour do “A-LEX”, com um excelente material em mãos, a banda tem se notabilizado e demonstrado que está mais viva do que nunca e pronta para muitos mais anos de estrada. Que venha o próximo show em solo pernambucano!

Quase que eu me esquecia... Ao fim do show Sepultura, rolou uma jam com os caras do Angra. As duas maiores bandas de Heavy Metal do Brasil, juntas no palco, mandando clássicos do Rock’n Roll: “Immigrant Song” (Led Zeppelin) e “Paranoid” (Black Sabbath).

SET LIST DO SEPULTURA:

1- A-LEX I/MOLOKO MESTO
2- FILTHY ROT
3- WHAT I DO!
4- REFUSE/RESIST
5- CONVICTED IN LIFE
6- WE´VE LOST YOU
7- A-LEX II/THE TREATMENT
8- DEAD EMBRYONIC CELLS
9- TROOPS OF DOOM
10- SEPTIC SCHIZO/ESCAPE TO THE VOID
11- INNER SELF
12- SEPULNATION
13- TERRITORY
14- ARISE
15- CONFORM
16- ROOTS BLOODY ROOTS

SEPULTURA & ANGRA

IMMIGRANT SONG (LED ZEPPELIN)
PARANOID (BLACK SABBATH)

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Puritana Perversão


“Pervertido(a)... Quase Religioso(a)” (Moonspell).

Não, não é uma crítica às religiões ou à religiosidade das pessoas. “Religioso” está aqui empregado em um sentido conotativo, na realidade em um sentido quase que interpretativo, adotado por uma “liberdade poética” (pretensioso, não?!). Adoto o termo “religioso” como sinônimo de “puro”, “imaculado”, quase “santificado”.

Há pessoas que são assim, puras, imaculadas, santas encarnadas. Quer dizer, pelo menos é o que elas apresentam (ou aparentam) ser ou dizem ser, não é verdade?

Há também aquelas pessoas que se colocam sempre em superioridade e fazem questão de enaltecer em si uma perfeição impossível aos seres humanos. Impossível, obviamente, pois não há perfeição quando tratamos da raça humana.

Perfeito só Deus, Alá, Buda ou qualquer outro ser superior no qual você acreditar, isso se você acreditar. É que se você for cético, poderá afirmar que não existe perfeição neste mundo. Mas se você não for tão crítico, poderá até dizer que perfeita é a natureza (só a natureza, sem essa baboseira de “mãe natureza”).

Eu diria que (sem, mais uma vez, entrar em questões religiosas) a natureza é perfeita e uma de suas manifestações mais maravilhosas se dá através do que chamam de “ironias da vida”.

Existe algo mais perfeito do que uma bela “ironia da vida”? Se a ironia por si só já é algo para lá de interessante, o que falar quando algo nos chega de uma forma tão irônica, quase que por mera coincidência?

Pois é. Algumas ironias chegam aos nossos conhecimentos de modo tão inesperado que nos pegam totalmente de surpresa, deixando-nos praticamente incrédulos (com aquilo que nos é dito/demonstrado).

Há certas informações que explodem como uma bomba. São informações que carregam em si um material explosivo capaz de causar destruição, de abalar de forma substancial as estruturas ao seu redor.

Tal qual uma bomba dos católicos do IRA na “protestante” Belfast; ou uma bomba de judeus sionistas em um hotel do comando geral das tropas britânicas; ou mesmo uma bomba do Hamas em um ônibus civil em Tel-Aviv.

É verdade, amigos, há fatos que, quando tomamos conhecimento de sua existência, são capazes de ter uma abissal força destruidora, de causar um abalo incomensurável em nossas frágeis estruturas. Somos humanos e, além de não sermos perfeitos, somos também muito frágeis.

E, quando menos esperamos, quando sequer procuramos, não é que nos chegam notícias de certos acontecimentos espantosos e quase inacreditáveis?

Só seriam mesmo incríveis se não se tratasse de fatos relacionados ao comportamento humano. É que, infelizmente, havemos de reconhecer, do ser humano devemos esperar tudo, do mais belo e puro ao mais reprovável e repugnante.

Pois é, senhores, a desconfiança é, nesse caso, uma armadura que nos protege de eventuais dissabores que a vida venha a nos apresentar.

Sempre me pautei pela desconfiança, o bom e velho “pé atrás”. É que de uma pessoa eu sempre soube e tive plena convicção de que poderia esperar o melhor e o pior. E a maior probabilidade é de que o pior ocorra com mais freqüência.

Mas a natureza é perfeita. E a vida é irônica. Ela sempre dá um jeito de nos mostrar como estávamos errados, o quanto fomos inocentes em determinadas ocasiões. Nem que essa demonstração venha de uma forma pouco agradável, mas a ironia da vida nos prega essa lição a fim de que aprendamos, definitivamente, com os nossos erros e não caiamos novamente na tolice de acreditar ingenuamente em alguém.

Pessimista? Fatalista? Triste? Radical? Você pode até se perguntar. Você pode até me questionar.

Contudo, experimente acreditar, confiar convictamente... E depois se dar conta de que tudo aquilo não era bem a verdade e que aquela imagem que se colocava diante de seus olhos e que ganhou sua confiança não correspondia à verdadeira face daquilo em que você confiou.

Experimente viver em uma realidade aparente e, tempos depois, dar-se conta de que a aparência da verdade é mesmo a falsidade e a dissimulação.

Uma amiga me disse – “desconfie das pessoas sonsas, pois essas pessoas são as piores” – e eu devo concordar com ela.

Vou mais adiante: desconfie das pessoas que apontam o dedo para todas as outras; desconfie daquelas pessoas que, na incapacidade de ver e reconhecer seus próprios defeitos, destilam seus peçonhentos preconceitos contra o comportamento dos outros.

E, principalmente, desconfie daquelas pessoas que têm uma enorme necessidade de se fazerem reconhecidas como imaculadas e perfeitas, aparentando um pudor rígido e inabalável... Essas são as piores, não me restam dúvidas.

A hipocrisia é uma das características negativas dos seres humanos. Devemos sempre tomar cuidado para não cairmos nas artimanhas dos hipócritas, que nos fazem crer em suas dissimulações e nos iludem com seus fingimentos.

Meus senhores, nós nunca sabemos onde estão as fronteiras que separam o pudor e a moralidade do falso pudor e da imoralidade.

É muito tênue a linha que divide o puritanismo da perversão. Às vezes nem nos damos conta de que podemos estar diante de uma verdadeira “puritana perversão”.

Por fim, gostaria apenas de lembrar que o mundo é pequeno e as máscaras, mais cedo ou mais tarde, sempre hão de cair.

“Pervertido(a)... Quase Religioso(a)”.

domingo, 2 de agosto de 2009

Entrevista com Andreas Kisser (Sepultura)


Entrevista elaborada para o site Recife Metal Law.

Link para a entrevista no site: http://www.recifemetallaw.com.br/index.php?link=materias&id=1777

O Sepultura tocará em Recife no próximo dia 08 de agosto, no Clube Português, apresentando aos fãs pernambucanos o novo álbum, “A-Lex”. O guitarrista Andreas Kisser falou sobre o novo álbum da banda, a turnê com o Angra e trouxe também algumas novidades e planos para o futuro próximo, como a possibilidade de um show especial em celebração aos 25 anos do Sepultura. Além disso, Andreas também falou a respeito de seu álbum solo (Hvbris I & II), de shows com o projeto Hail! e um pouco de política. Confira abaixo a entrevista do Recife Metal Law com Andreas Kisser, guitarrista do Sepultura.

Recife Metal Law – O “A-Lex” foi o segundo álbum do Sepultura baseado em um livro. Por já terem uma experiência anterior, com o “Dante XXI”, o trabalho de adaptação de livro para música foi mais fácil?

Andreas Kisser – Sem dúvidas! A “Divina Comédia” é um livro bem mais complicado em comparação com a “Laranja Mecânica”. Por ter sido a primeira vez, o “Dante XXI” foi um pouco mais difícil, mas foi muito motivante. O livro é fantástico e tem muitas opções, poderíamos ter feito 20 discos só com ele. Foi uma bela experiência e por isso decidimos fazer o mesmo com o novo disco, desta vez com um livro totalmente diferente, mas muito inspirador também. A entrada do Jean também trouxe mais idéias, talento e vontade, o que facilitou muito o trabalho.

Recife Metal Law – “A Laranja Mecânica” é um livro que traz à tona a discussão a respeito da “liberdade” humana. É possível passar horas e horas a discutir até que ponto o ser humano diante de tantos condicionamentos (leis, regras morais, religiosas, etc.). O Sepultura sempre se preocupou com questões como essa, então, qual é a tua visão de “liberdade”? Você se sente “livre”?


Andreas
– A liberdade é uma ilusão, numa sociedade totalmente voltada para o consumo, num sistema onde o dinheiro é mais importante do que qualquer outra coisa, ser livre é ser rico. Assim você pode viajar, ir aonde bem quiser e ter o que a sociedade te obriga a comprar. A liberdade real não tem nada a ver com o mundo em que a gente vive. Ser livre realmente é ter condições de elevar a condição do cérebro humano sem religião, política, preconceitos, regras, nações, fronteiras, dogmas e toda esta merda que mantém o ser humano parado, sem evoluir.


Recife Metal Law
– Vocês pensam em continuar a usar livros como inspiração para os próximos álbuns? Se sim, já cogitaram a hipótese de adaptar algum livro de língua portuguesa, como José Saramago, um autor bastante politizado e que traz em suas obras reflexões a respeito das instituições sociais e do comportamento humano?


Andreas – Não tenho idéia ainda do que vamos fazer no próximo disco, claro que a possibilidade de usar outro livro está aberta, mas isto vai depender de muita coisa ainda. Estamos no começo da tour do “A-Lex” e estamos coletando idéias para os próximos trabalhos. Creio que o Saramago seria uma bela opção.


Recife Metal Law – O A-Lex é o primeiro álbum com a participação do Jean Dolabella na bateria. Como foi trabalhar com o Jean? Em termos musicais e de composição, o que ele trouxe ao Sepultura para além de um novo gás e mais disposição?

Andreas – Trouxe muita técnica! Ele é um músico diferenciado, nunca toquei com um baterista como ele, sensacional! Ele não tem medo de testar nada na música, de experimentar. Muitos dos riffs para o “A-Lex” foram criados a partir de ‘jams’ espontâneas, coisa que não existia no Sepultura.

Recife Metal Law – O Sepultura sempre foi uma banda inovadora. Já gravou com artistas como Carlinhos Brown, os finlandeses do Apocalyptica e Zé Ramalho (trilha de Lisbela e o Prisioneiro). O “A-Lex” nos traz uma excelente versão da 9ª Sinfonia de Beethoven. Como foi fazer uma releitura de uma música clássica?

Andreas – Foi o maior desafio de todo o trabalho. Um disco baseado na “Laranja Mecânica” não poderia faltar a Nona de Beethoven. Eu acho a Música Clássica muito pesada naturalmente. Trabalhos de Beethoven, Bach, Wagner e tantos outros são muito densos, tensos, muito parecidos com o Heavy Metal. A ajuda do maestro Alexey Kurkdjian foi essencial para que a gente pudesse ter feito a versão. Foi muito trabalho, mas eu cresci muito durante o processo. Esta é uma das coisas que um disco conceitual oferece: a quebra dos limites, dos nossos próprios limites.

Recife Metal Law – A banda lançou dois vídeos-clipe do “A-Lex”. A primeira música de trabalho foi “We’ve Lost You”. Depois tivemos o clipe de “What I Do!”. Li em algum lado que haverá um terceiro clipe, para a matadora “The Treatment” (melhor música do álbum, em minha opinião). Vai mesmo rolar esse terceiro clipe? Para quando?

Andreas – Sim, justamente para a “The Treatment”. Vai ser um vídeo totalmente feito em animação e computação gráfica. Já vi alguns rascunhos e acho que vai ser um de nossos melhores clipes. Creio que deve ficar pronto em setembro.

Recife Metal Law – Neste momento vocês estão terminando uma turnê pela Europa. É a segunda tour européia do “A-Lex”. Como tem sido a recepção dos europeus ao novo álbum e às músicas novas ao vivo?

Andreas – Tem sido muito boa. O público realmente conhece o material novo, cantando todas as músicas e curtindo o nosso merchandising também, com a arte do disco. Tem sido tudo muito positivo.

Recife Metal Law – A turnê do “Dante XXI” levou o Sepultura a quatro continentes, 40 países. A turnê do “A-Lex” já conta com 70 shows e 26 países visitados (na Europa e América do Sul). Neste segundo semestre, para além dos shows no Brasil e um festival em Portugal, a banda já tem alguma turnê programada? Um retorno aos EUA ou à Ásia/Oceania, quem sabe?

Andreas – Estamos preparando isso agora. Temos algumas opções, mas nada ainda definido. Uma opção que eu quero muito que role é uma tour com o Kreator nos Estados Unidos em março de 2010. Também estamos preparando uma tour na África do Sul durante a Copa do Mundo.

Recife Metal Law – Em maio vocês começaram uma turnê inédita ao lado do Angra. Pela primeira vez na história as duas maiores bandas de Metal do país juntas. Essa turnê continuará em agosto, passando por Recife no dia 08. Como se deu essa iniciativa de juntarem as duas bandas? Como têm sido os shows?

Andreas – Os shows têm sido fantásticos! As duas bandas estão fazendo shows memoráveis e sempre com uma grande ‘jam’ no final, com todos no palco. A idéia já era antiga; queríamos ter feito essa tour ‘brazuka’ fora do Brasil, mas este é um começo, creio que outras virão, onde vamos juntar grandes nomes do Metal/Punk/Hardcore do Brasil para viajar o mundo.

Recife Metal Law – Vocês chegaram a falar na possibilidade de rolarem shows do Sepultura & Angra pela América do Sul. Existe alguma negociação concreta nesse sentido?

Andreas – Negociações existem, talvez Chile, Argentina, Venezuela, mas ainda nada confirmado.

Recife Metal Law – Em 2009 o Sepultura completa 25 anos de existência. É um marco na carreira da banda, que merece ser celebrado. A banda pretende ‘presentear’ os fãs com algum lançamento especial (um DVD com imagens dos shows históricos em Cuba e na Índia, por exemplo) ou um show comemorativo?

Andreas – Temos a idéia de juntar o Sepultura com uma orquestra, tocar o “A-Lex” ao vivo do começo ao fim e fazer versões de temas antigos do Sepultura com orquestra. As negociações estão adiantadas e em breve vamos divulgar mais detalhes.

Recife Metal Law – O seu primeiro álbum solo, “Hvbris I & II”, já foi lançado na Europa. Quando os fãs brasileiros poderão adquirir este álbum? Quero dizer, existe previsão para o lançamento desse trabalho por algum selo brasileiro?

Andreas – Já saiu na Europa. Nos Estados Unidos sai no final de agosto. E espero que as gravadoras daqui e da Holanda resolvam logo os detalhes e oficializem o lançamento aqui no Brasil o mais breve possível.

Recife Metal Law – Ainda sobre o “Hvbris I & II”, você pretende fazer shows solos em divulgação do álbum ou a prioridade no momento é divulgar o “A-Lex” e tocar o máximo possível com o Sepultura?

Andreas – Eu tenho feito shows aqui no Brasil e estou preparando uma tour para novembro na Europa e, claro, tocar com o Sepultura e ainda com o projeto Hail!, que vai fazer uma tour na Escandinávia em setembro.

Recife Metal Law – Da última vez que te entrevistei, fiz uma pergunta a respeito do governo Lula. Desta vez, eu gostaria de saber tua opinião a respeito da eleição do Barack Obama. Esperança ou “more of the same”? Como o Derrick, americano e negro, reagiu diante desta eleição histórica?

Andreas – Acho que realmente é uma esperança. Parece-me que foi uma votação justa, sem mistérios, recontagem de votos. A era Bush foi a era mais detestável da história dos Estados Unidos, pior do que estava, impossível. Vai ser um trabalho muito duro, mas creio que o Obama vem com o real apoio popular no mundo inteiro e ele traz perspectivas muito positivas. O Derrick curtiu muito. Ele votou também aqui no Brasil, e torce muito por ele.

Recife Metal Law – No próximo dia 08 de agosto o Sepultura vem ao Recife apresentar o “A-Lex” aos pernambucanos. O que os fãs locais podem esperar desse show? E o que o Sepultura espera de mais um show em Recife?

Andreas – Podem esperar muita energia boa e muito som; toda a história da banda, claro mais calcada no “A-Lex”. Os shows em Recife sempre foram muito bons, o público é animal e estamos muito contentes de estar aí de novo... Destroy!!!

Recife Metal Law – Andreas, muito obrigado pela disponibilidade e atenção. Reservo este espaço para que tu deixes uma mensagem final a toda a “Sepulnation”.

Andreas – Obrigado a todos pelo apoio durante estes 25 anos de Sepultura! Sem isto não conseguiria manter o pique. Abraço a todos e até o show!!!

Site: http://sepultura.uol.com.br/v6/ / www.myspace.com/sepultura